Crônica da tragédia anunciada, Por João Américo
O exercício da política pode atrapalhar, se a atmosfera do centro de decisões ficar contaminado pela toxidade do poder, poder que, como dizem uns: chega a cegar, revelar, alienar ou dificultar na tomada de decisões. A busca pelo poder também pode conduzir ao mesmo caminho.
A polarização política aberta nas trincheiras das ruas e urnas ganharam um novo campo de batalha, o coronavírus. A ciência fria, intocada, foi infectada em certos aspectos pela guerra ideológica. Isolamento vertical ou horizontal, uso ostensivo de cloroquina ou a espera por mais teste, economia ou saúde, abre ou fecha o comércio, questões complexas ganham ares de simplificadas com a escolha de lado, a depender de conveniências políticas e ideológicas.
Os impactos políticos do COVID-19 ainda não podem ser medidos e dimensionados em sua amplitude, mas logo se percebe que parte da opinião pública demonstra uma aptidão para o caminho do centro. Mudou-se o eixo gravitacional que conduziram o Presidente Bolsonaro ao poder. Antes, o antipetismo e antilulismo e o seu oposto ao bolsonarismo davam a tônica do debate político no Brasil; com o abandono de ações contemporizadoras acerca do coronavírus, houve o fortalecimento de movimentos ligados ao centro, corroendo o capital político do Presidente e colocando a oposição Lula/PT/Esquerdas na periferia do debate público e político.
O principal agente do caso é o próprio Presidente da República que, por meio de uma série de contradições e gestos erráticos, corroe, dia a dia, seu capital político. Pesquisa realizada pelo Datafolha acerca do desempenho das autoridades no combate ao coronavírus apresentam um cenário interessante. O Presidente figura com 33% de aprovação; já o Governador de São Paulo tem 51% e o do Rio de Janeiro 55%. Em uma força motriz antagônica ao pensamento do Presidente, o Ministro da Saúde aparece com aprovação de 76% quando a pauta é ações de combate ao coronavírus.
Já a oposição de esquerda, sem pauta propositiva, juntou os desafetos Ciro Gomes, Haddad e outros, como Boulos e Dino, que pediram a renúncia de Bolsonaro em manifesto produzido pelo som das panelas que vibraram e agitaram os opositores. O manifesto mostrou-se alternativa sem viabilidade e, se posto adiante, geraria mais caos, insegurança e instabilidade. O pedido de renúncia do Presidente Bolsonaro é um ato de manifesto desespero e falta de compreensão do momento em que atravessa o país e o mundo.
Sem capacidade de unir o Brasil ou até mesmo setores de seu governo, Bolsonaro vem pagando um preço muito alto, que custa capital político e vidas humanas. O fenômeno da unidade nacional em torno de um inimigo comum, no caso de guerras, tragédias naturais, humanas ou epidemiológicas, onde se propõe uma racional e salutar trégua política unindo o país, ao que parece, não chegará ao Brasil. Pelo contrário, temos um cabo de guerra e uma babel mal engendrada por quem deveria assumir o compromisso com os reais problemas do país.
Goethe, pensador Alemão, estabeleceu frase célebre que se imortalizou e que, no presente momento, deve servir como pensamento ao cenário político que se apresenta. Disse o escritor alemão:
“Tudo o que é vivo forma uma atmosfera ao seu redor.”
O Brasil precisa urgentemente construir um ambiente politicamente favorável para dissolver os arroubos ideológicos e políticos e entender que o inimigo é comum e precisa do auxílio e contribuição de todos.
João Américo é advogado e analista politico da Caruaru FM