Por João Américo de Freitas
O Presidente Bolsonaro não mostra sinais de fraqueza, visto que os últimos acontecimentos poderiam abalar a imagem do Presidente, que teve que conviver com uma pauta extremamente desaforável, mas segue com a popularidade em alta. A divulgação da pesquisa de opinião de seu governo feita pelo Datafolha, realizada nos dias 11 e 12 de agosto por meio de telefones (aparelhos celulares), dá ao Presidente fôlego político e apoio popular.O caso Queiroz, a saída de Moro, a COVID-19, as crises com o Supremo e os flertes com pautas autoritárias, a devastação ambiental, nada abalou a popularidade do Presidente, que segue em alta.
No meio de todo esse caldeirão de ingredientes negativos, Bolsonaro tem a melhor avaliação desde o início de seu governo que foi de 33% em abril de 2019. A aprovação ao governo Bolsonaro cresceu de 32% para 37% (ótimo e bom). Já a avaliação negativa do governo cai de 44% para 34%, havendo uma transferência de ruim e péssimo para bom e ótimo na casa de 5 (cinco) pontos percentuais.
A avaliação positiva do Presidente hoje é mais heterogenia, consistente e diversificada em todas as regiões, com exceção da faixa dos mais velhos (60 anos ou mais). Faixas da população onde o desempenho de Bolsonaro era de ruim e péssimo passaram a oferecer números de aprovação. E os números cresceram no Nordeste, onde o índice de ruim ou péssimo caiu 17 pontos (de 52% para 35%) entre os mais pobres, os menos escolarizados e desempregados. Outras pesquisas mostram a tendência crescimento da aprovação de Bolsonaro, desde o final de maio, em pesquisas como a do XP/Ipespe e Poder 360.
Alguns fatores podem explicar o bom desempenho do Presidente, apesar de uma pauta política desfavorável. A narrativa de que a crise econômica é culpa dos Prefeitos e Governadores, a moderação (Bolsonaro paz e amor), o pagamento do auxilio emergencial e a paralisia da oposição que não apresenta nenhum novo nome, aliado ao domínio absoluto da pauta das redes sociais, são fatores determinantes para bom índice de bom e ótimo que ostenta o Presidente na última pesquisa de opinião. Não podemos esquecer que a mudança nos rumos da comunicação com a chegada do novo Ministro da Comunicação Fábio Farias, representante das forças políticas do centrão, junto com o Ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho, podem ter influenciado não na aprovação, mas na mudança de discurso para um tom mais moderado.
A popularidade de um Presidente é umbilicalmente ligada à pauta econômica e, ao injetar na economia o auxílio emergencial, impactou direta e indiretamente cerca de metade dos domicílios brasileiros. Segundo dados do IBGE, 29,4 milhões de domicílios brasileiros receberam algum benefício relacionado à pandemia de covid-19, ou seja, 104,5 milhões de pessoas foram beneficiadas direta ou indiretamente pelo auxílio. Em números globais 49,5% da população foi beneficiada pelo auxílio.
O Governo Bolsonaro repete a fórmula de sucesso aplicada pelo PT, que consiste na intensificação da transferência de renda e na união política com o centrão, que garante governabilidade e segurança política e institucional para manutenção do governo no poder.
O aumento da aprovação do governo Bolsonaro cria um efeito de deslocamento do grupo mais ideológico no campo da ultra direita reacionária, que cria instabilidade institucional e abusa da narrativa de uma escalada autoritária, e aproxima Bolsonaro dos mais pobres e de grupos minoritários, excluídos e vulneráveis. Bolsonaro tem o desafio de manter o auxílio, que poderá ganhar outro nome, Renda Brasil, e assim não perde o apoio ao seu governo nas camadas mais pobres da população.
A pergunta será se o presidente seguirá com bons índices de aprovação até o fim, ou se a aprovação, como diz Laurentino Gomes, em seu livro Escravidão, representa um “caráter efêmero, como se fosse uma fotografia instantânea de uma paisagem ou cena em rápida mutação”.
João Américo de Freitas é advogado e comentarista na Caruaru FM