Por João Américo Monteiro
ARTIGO: O FIM DE UMA ERA?
A política caruaruense abre um novo ciclo e as coisas mudaram de fato? Ou as coisas mudaram para permanecer no mesmo lugar?
Não podemos ignorar que a mudança chegou forte no processo eleitoral de 2020, em nossas paragens. Hoje, temos seis candidaturas ao Palácio Jaime Nejaim, todas de pessoas jovens, algumas, inclusive, estreando no processo político.
Já a muito anunciada saída do trio de ferro Zé, Tony e João, do pleito desse ano, não representa bem um distanciamento dos mesmos em termos de influência na política em Caruaru. Eles saíram do pleito de 2020 para permanecer nos próximos.
O triunvirato da política de Caruaru já deixou claro, nas entrelinhas, que quer exercer influência direta ou indiretamente no pleito que se avizinha, seja por representação nas chapas majoritárias, ou por influência nas chapas proporcionais. Os três não abrirão mão de aparecer em guias, santinhos e de serem nominados aos quatro cantos de Caruaru.
Ainda é cedo para definir um fim de uma era, visto que a mudança desse ano, posta em candidaturas jovens, representa uma situação circunstancial provocada pela pandemia e por situações excepcionais pessoais relacionadas à saúde, com exceção da figura de João Lyra Neto, que não disputa o pleito por motivos óbvios.
Outro fato que pode ter exercido influência na retirada dos nomes dos até então pré-candidatos Tony e Zé, encontra-se no fato futuro de uma eventual derrota para uma prefeita bem avaliada e que pode levar, eu disse, pode levar, o pleito no primeiro turno.
No fim das contas, a decisão de Zé e Tony pode ter sido tomada mais influenciada pelo receio de perder do que pela vontade de ganhar, e evitar o carimbo da derrota em suas biografias, perdendo assim musculatura e densidade eleitoral.
Em um acordo de última hora, uma união histórica foi selada em torno do nome de Marcelo Gomes, que terá a difícil tarefa de se equilibrar junto de dois opositores históricos, em uma candidatura que já nasce grande em todos os seus termos, mas que não contará, ao que tudo indica com a participação e engajamento efetivo de Zé e Tony.
Zé Queiroz, na última eleição que disputou para Prefeito em 2012, teve 95.668, já Tony, em 2016, teve 82.679. Para Deputado Estadual, em 2018, Tony Gel teve 20,21 % dos votos válidos (30.456) e Zé Queiroz 15,93% (24.017).
A pergunta que se apresenta é: para onde irão esses votos? Serão transferidos automaticamente para o Marcelo Gomes, que pelo sobrenome tem vínculos históricos e familiares com o campo político de Zé Queiroz, e em regra, herdaria de forma mais “fácil” o eleitorado de Zé Queiroz?
E, Marcelo conquistará o coração amarelo do eleitor mais fervoroso de Tony Gel?
No cenário atual da política de Caruaru se estabeleceu uma ideia inicial de “todos contra ela” (Raquel Lyra), mas todos os candidatos – Delegado Lessa, Marcelo Rodrigues, Raffiê Dellon, Rafael Wanderley e Marcelo Gomes-, têm o desafio de tirar os votos de Raquel e somar aos votos captados de Zé e Tony.
Desse modo, aqueles que adotarem o discurso de demonização das chamadas “oligarquias”, podem não contar com a simpatia dos eleitores “acostumados” a votar em Tony e Zé, ganhando rejeição a sua candidatura.
O “novo” não pode deixa de dialogar com o “velho”, inclusive fazendo corte e reverência, sob pena de quem não adotar essa postura pode perde a oportunidade de conquistar o eleitorado dessas duas forças políticas em Caruaru (Zé e Tony).
Finalizamos desejando o pronto restabelecimento da saúde de Tony Gel e da nora de Zé Queiroz.
Com relação às perguntas formuladas nesse artigo, só a voz do tempo saberá responder.
João Américo Monteiro é advogado e analista político da Caruaru FM