Por João Américo de Freitas
Abertas as urnas do pleito municipal de 2020, um concenso se estabeleceu, de que os extremos PT x Bolsonarismo haviam perdido, e que o pêndulo do poder se deslocava para o “centro”. Mas que centro? A quem esse centro vencedor serve e o que eles farão a curto prazo – 2 (dois) anos?
Os partidos que mais ganharam musculatura eleitoral, ou seja, número de votos, prefeituras e vereadores, são os partidos que hoje dão sustentação à governabilidade de Bolsonaro no Congresso Nacional. A chamada centro direita, ou “centrão”, saiu vitoriosa do pleito municipal, mas não tem um nome para a eleição presidencial de 2022, está carente e órfã de um candidato para chamar de seu. Não existe um presidenciável “puro sague” do centrão, uma “menina dos olhos” ou um “menino de ouro”.
Gilberto Kassab dá um indicativo do que é o “centrão”. O presidente do PSD é secretário licenciado do Governo do Estado de São Paulo, ou seja, aliado do governador Dória, inimigo de Bolsonaro. E, apesar disso, sempre que possível, Kassab afaga Bolsonaro e, quando eclodiu a crise dos inquéritos no Supremo e as investigações dos filhos de Bolsonaro, Gilberto Kassab, passou a ser o principal “conselheiro” do Presidente. Fazendo o day after (dia seguinte) das eleições, Kassab elogiou a candidatura do PSOL e sinalizou positivamente em fechar com Bruno Covas. Ou seja, Kassab e o seu partido estão abertos a todas as matizes ideológicas partidárias, com tanto que elas sejam governo.
O DEM e o PSDB tateiam na construção de candidaturas competitivas. O DEM com Luciano Huck, que ainda não se definiu, e o PSDB com João Dória, presidenciável de primeira hora. Ainda corre nessa faixa de eleitorado Sérgio Moro, que deixou a janela aberta e não resolveu o seu futuro na política. Pela insegurança e dificuldades naturais de construção de candidaturas presidencias com capilaridade de votos e que sejam vencedoras, o “centrão” irá, sem muito esforço, para o colo de Bolsonaro. Por esse motivo, Bolsonaro não perdeu a eleição, pois como dito, as forças que o apoiam no presente e poderão apoiar no futuro, e com as benesses do estado, o “centrão” poderá ser linha auxiliar do projeto político de Bolsonaro para 2022. O centrão não resiste, como disse Joaquim Francisco, a “a inhaca do poder e um carro preto com o motorista”, e, por esse motivo, estão de braços dados com quem lhe oferecer mais.
Evidente que ainda é cedo para definir para onde o centrão irá. O certo, porém, é que eles façam parte da foto do governo, seja qual for. Tudo ainda é um exercício de futurologia, questões relacionadas a economia, e como o governo Bolsonaro será capaz de superar o pós-covid, bem como, a gestão de crises, temas que podem mudar todo o panorama político eleitoral. Certeza temos que é impossível ter certezas.
Outra certeza que podemos cravar é a de que se Bolsonaro calibrar o discurso, torna-se mais moderado o caminho será a conquistar os eleitores que optaram pela direita e centro direita que foram dominantes nessa eleição. Ou seja, com os ajustes necessários, Bolsonaro está mais perto do sentimento majoritário do eleitorado do que os outros pré-candidatos a presidente. Outro indicativo de que Bolsonaro fará parte do centrão é a desistência da criação do seu partido Aliança, e a sua ida quase certa para um partido de centro, o que reforçará seu diálogo com os vencedores das eleições municipais e as suas pautas.
Mas…Sempre é bom lembrar que o compromisso com “centrão” é com quem governa e não com quem é governado.
João Américo de Freitas é advogado e comentarista político na Caruaru FM