Por João Américo Monteiro
O governo Bolsonaro atravessava a sua pior crise. Os protestos da esquerda se avolumavam, a direita também protestava, e pediam o impeachment. Mortes em Manaus e condução errática da pandemia, derrota na guerra da vacina. Todos os indicativos apontavam que o governo poderia caminhar para o fim antes do esperado. Mas a política é dinâmica, e nada como um dia após o outro.
Como havíamos antecipando, em artigo, logo após o pleito municipal, Bolsonaro não havia perdido as eleições nos municípios, pelo contrário, ele saiu fortalecido. Essa previsão foi confirmada com as vitórias de Rodrigo Pacheco, no Senado, e Arthur Lira, na Câmara dos Deputados. Ainda sobre eleições municipais, reafirmamos que o povo escolheu, majoritariamente, o caminho da direita e da centro direita. Essa vontade se estendeu para as paragens do Congresso Nacional, e, por falta de lideranças nacionais competitivas no campo político da direita, os partidos do chamado centrão correram e caíram no colo do governo Bolsonaro. Lógico que essa adesão não saiu barato. O poder de sedução de Bolsonaro foi exercido com dinheiro de emendas e distribuição de cargos.
Nos caminhos tortuosos da política, entre encontros e desencontros, afagos e mal tratos, a vitória de Pacheco e Lira sela um reencontro de Bolsonaro com a classe política e com o Congresso Nacional. A eleição dos dois amigos do planalto fará, pelo menos, a curto prazo, Bolsonaro abandonar o discurso autoritário de fechamento do Congresso Nacional e de pautas antidemocráticas, tornando o nosso mandatário em um mais do mesmo, ou seja, fez o que seus sucessores fizeram, deram os anéis e ficou com os dedos, ou, como disse Joaquim Francisco, o “centrão” não resiste à “inhaca do poder e um carro preto com o motorista”, (e por esse motivo estão de braços dados com quem lhe oferecer mais) – trecho do artigo que havíamos publicado antes em QUEM GANHOU AS ELEIÇÕES FOI BOLSONARO.
Por incrível que pareça, o resultado das eleições da Câmara e do Senado faz bem à democracia. Sem entrechoques à vista, o discurso de que o Congresso é inimigo do Governo e do Brasil não tem razão de existir, desse modo, o Congresso Nacional e o Governo Federal, ao que tudo indica, entrarão em uma lua de mel institucional, regada, lógico, como dito a emendas (dinheiro) e a cargos.
Outro efeito imediato da eleição de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco será o fim, por hora, do projeto impeachment de Bolsonaro, que fez dois gols, mas marcou três (os dois presidentes aliados no Congresso e o fim do impeachment).
Mas a harmonia entre os poderes e a manutenção do regime democrático tem um custo, que vai além do dinheiro e dos cargos. A fatura a ser paga pelo congresso será a falta de independência e autonomia em relação ao executivo. O sistema denominado checks and balances, ou seja, freios e contrapesos, será substituído por um modelo “pagou levou”. Bolsonaro abriu o apetite dos congressistas (novos aliados), além de seus desejos insaciáveis. Desse modo, cada votação será uma nova negociação no balcão da República. Veremos, nos próximos dias, um Congresso subserviente ao Governo Federal, e que sempre vai querer mais e mais cargos e emendas parlamentares.
A sociedade também pagará caro pela manutenção da democracia e harmonia entre os poderes. E o preço será ter que assistir à pornografia institucional mantida por vários governos, por meio de cargos e emendas liberadas para selar com um beijo falso, cheio de malícia, o desejo de poder de uma classe política que se preocupa mais com seus problemas do que com os do país, ressalvadas, honrosas exceções.
Enquanto o povo morre de vírus de fome, covid, assistimos a governabilidade das Senhoras e Senhores Deputados e de uma elite no poder, que vai às festas tomar espumantes e dançar os hits do momento.