Por João Américo
Humanismo com finalidade, a razão nas tomadas de decisões e ciência a serviço dos outros dois. Nesses tempos difíceis que atravessamos, as palavras iniciais desse artigo, que são atemporais, parecem, para alguns, distantes e inaplicáveis.
Perder a cabeça, agir impulsivamente, operar sem razão, são a nova tendência, digna de aplauso e culto. Tensionar e criar ambientes onde a razão e a ciência sejam substituídas pela patologia passional do ego pessoal, político ou ideológico, e encontra-se sempre certo no que diz, pensa e faz, acima de qualquer coisa, argumento ou ideia, deve ser o caminho a ser trilhado. Aos que pensam o contrário a mim, todos que assim agem estão errados. Essas são algumas facetas do obscurantismo atual e a tônica da existência de muitos governantes e governados. Existem aqueles que, entretanto, entendem que a razão ainda tem espaço na existência e dirigem suas vidas segundo a filosofia e pensamento de Espinoza, que legou para posteridade pensamento acerca da razão que pode ser expressado na frase: “Os que são governados pela razão não desejam para si nada que também não desejem para o resto da humanidade”.
A ciência não se compatibiliza com medrosos, indecisos, indolentes, ambivalentes e inseguros. Na filosofia de Immanuel Kant existe uma convocação ao pensamento, à razão, para que o ser humano saia de sua submissão “preguiçosa e covarde” e, em suas palavras, “ouse entender!”. Em um mundo de opiniões conflitantes, que constratam e se chocam, onde as avaliações do “eu acho” se sobrepõem de forma desoladora sobre todos os aspectos existenciais, a intelectualidade foi substituída pelo ceticismo das ideias científicas, e a incapacidade de compreender que as nossas opiniões não são capazes de mudar as leis de Newton, Einstein, Galileu Galilei, Arquimedes, entre outros. O mundo não se alicerça em premissas exclusivamente ideológicas, políticas, teleológicas e egocêntricas, a ciência serve e aplica-se a comunistas e liberais conservadores.
O aprimoramento e desenvolvimento do ser humano é um acúmulo de bilhões de anos de racionalidade e conhecimento sistematizados por métodos experimentais que levaram à ciência, essa, por sua vez, responsável por toda tecnológica que nos cerca, pelo prolongamento da vida, diminuição, extinção e cura de algumas doenças. Desse modo, o destino de nossa sociedade não pode estar sob a influência de valores, discursos e argumentos que não se baseiam no pensamento raciocinado e sistematizado de cunho científico, principalmente quando nos deparamos com uma pandemia.
O humanismo é a valorização da condição humana acima de tudo, onde solidariedade, empatia e compaixão são meios de aprimoramento dessa nossa humanidade. Em tempos de obscuridade só quem pode iluminar o caminho é a luz do conhecimento e desse modo a razão, ciência e humanismo representam a trilha necessária para enfrentar o obscurantismo. Não podemos esquecer de que esse tripé sustenta o progresso da humanidade, e deve ser posto em marcha para que o cidadão e a sociedade evoluam rompendo a barreira do “eu acho que é melhor assim”.
Diante da pandemia, esperamos que os governantes e a sociedade amparem suas decisões na ciência, e que as nossas escolhas pessoais sejam tomadas de forma racional com bases científicas para, o desenvolvimento humanístico no caminho da evolução.
A ciência, no fim, triunfará, pois é nela que encontramos o caminho para salvar vidas e que levará a humanidade a dias melhores.
João Américo é advogado