Artigo:Trabalho, cidadania e dignidade

Por Daniel Finizola

Quando adolescente, meu pai sempre me dizia: “Se queres entender bem algo, consulta a história”. Partindo dessa observação, vejamos à luz do tempo o quanto foi e é dura a luta da classe trabalhadora por melhores condições de trabalho. São séculos de sangue derramado frente à busca de melhor dividir a riqueza produzida pelas mãos de quem trabalha.

No nosso cotidiano é comum escutar que “o trabalho dignifica o homem”. Não sou contra a afirmação, mas precisamos analisar em que contexto ela é colocada. Sim, ele dignifica quando garante os direitos e condições que ampliem a cidadania para quem trabalha. Fora dessa perspectiva, a reprodução da frase torna-se vazia. Favorece o interesse de quem detém o poder econômico. O trabalhador e a trabalhadora passam a ser “peças” na engrenagem do capital. Não participam das decisões, são silenciados pelo poder e estruturas de quem detém os meios de produção (ou: dos patrões), são impedidos de protagonizar uma nova história para si e para os demais.

As grandes decisões políticas do mundo são tomadas de acordo com os movimentos do mercado. Esse “ser” onipresente tem demonstrado ser capaz de derrubar governos democráticos, de colocar veneno em nossas mesas e de mudar legislações trabalhistas em todo mundo. Tudo para favorecer os que já detém a maior parte da riqueza. A França, que historicamente já foi palco de várias lutas por melhores condições de trabalho, hoje luta contra a lei “Al Khomri”, imposta pelo governo de Macron e que precariza o trabalho, sobretudo para os mais jovens.

No Brasil, a chantagem política, populismo jurídico e os movimentos da mídia tradicional, levaram o nosso país a um golpe de Estado. Junto com ele, veio a ampliação da terceirização do trabalho, a reforma trabalhista, a redução de direitos. A jornada diária de trabalho que era de oito horas diárias, já excessiva, poderá ser de até 12 horas diárias! Vendeu-se a ilusão de que patrões e empregados podem estabelecer acordos em pé de igualdade. Segue-se um movimento de enfraquecimento dos sindicados, instrumento tão importante para as conquistas da classe trabalhadora ao longo da história: 13º, FGTS, Férias. Nada disso caiu do céu. Nem foi dádiva do capitalismo. Foi fruto da luta dos/as trabalhadores/as organizados. Hoje, vemos também se substituir 13 anos de valorização do salário mínimo por uma Emenda Constitucional nefasta que congela os gastos públicos, deixando cada vez mais vulnerável a vida de milhares de brasileiros/as.

Em Caruaru, nosso Mandato tem se colocado cotidianamente ao lado dos trabalhadores e das trabalhadoras. Seja junto a ambulantes, mototaxistas, motoristas de ônibus, comerciários, professoras/es. Encaminhamos audiências públicas e fomentamos o debate contra o o assédio moral. Hoje, levantamos como prioridade a bandeira da melhoria do transporte público, meio fundamental para que os/as trabalhadores/as tenham acesso à cidade, tanto no âmbito profissional como do lazer. Lutamos para que a licitação do transporte coletivo, tão questionada pelo Ministério Público, seja refeita, considerando as peculiaridades de nossa cidade e a necessidade de integração, pontualidade, qualidade e acessibilidade.

São vários os desafios que envolvem o trabalhador e trabalhadora em todo o planeta. É preciso juntar forças, politizar e internacionalizar o debate, fortalecer os sindicatos e formas coletivas de organização. Ampliar a justiça social e diminuir as desigualdades passam necessariamente por transformar as relações de trabalho. Estamos juntos nessa luta! Que neste 1º de maio, saudemos quem faz todas as coisas existirem: a classe trabalhadora.

 

 

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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