lA cada 100 pessoas que são assassinadas no Brasil, 71 são negras. Mais do que isso, a estimativa é que um cidadão negro possui chances 23,5% maiores de ser assassinado em comparação com cidadãos de outras raças/cores – isso já descontando diferenças de idade, sexo, escolaridade, estado civil e bairro de residência. Esses dados foram apresentados pelo Atlas da Violência 2017, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), levando em consideração o comparativo de dados de 2005 a 2015.
Segundo o Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (CRESS-SP) esses dados são alarmantes e deixam clara uma realidade histórica de genocídio da população negra. O Conselho é a entidade que representa os Assistentes Sociais do estado, categoria de profissionais que atua diretamente na defesa dos Direitos Humanos.
Para o assistente social e diretor do CRESS-SP, Júlio Cezar de Andrade, esses números são manifestações do racismo institucionalizado e da profunda desigualdade social que já é enraizada no Brasil. “Esses fatores contribuem para essa realidade nefasta, que coloca a população negra à margem da sociedade e, mais do que isso, ceifa milhares de vidas”, aponta.
Juventude interrompida
Ainda segundo o Atlas da Violência, mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. Do total de homicídios que aconteceram no último ano analisado pelo relatório, 54,1% das vítimas tinham entre 15 e 29 anos. A mesma discrepância racial se expressa nessa população – enquanto o número mortes de jovens negros cresceu 18,2%, o número de jovens brancos mortos diminuiu 12,2%.
“Esse volume de óbitos, e principalmente a discrepância entre a queda na morte de brancos e aumento nos assassinatos de negros, deixa clara que a situação brasileira é a de um genocídio da população negra. Genocídio esse promovido por um Estado que é ausente em questões básicas como acesso à saúde e educação, mas extremamente punitivo – trazendo uma força policial que já aplica a pena de morte em uma guerra às drogas que não pode ser vencida e vitima anualmente milhares de jovens”, ressalta Júlio.
A mesma discrepância é vista entre as mulheres negras. Entre 2005 e 2015 ocorreu um aumento de 22% no índice de mortalidade de mulheres negras, quanto o número de mortes de mulheres não negras caiu 7,4%.
“A diretoria do CRESS-SP reafirma o compromisso do Conselho na defesa dos direitos humanos e combate ao racismo. Essa é uma dimensão importante para atuação profissional dos assistentes sociais e para a luta de classes”, finaliza o diretor do CRESS.