Homens vestidos de terno arrastaram a bailarina Bella Maia em meio a um protesto realizado nesta quinta-feira (19) no Recife contra a violência crescente em Pernambuco, de acordo com números divulgados pela própria Secretaria de Defesa Social (SDS) do estado. A cena foi uma das performances apresentadas pelo grupo que organizou o ato. A arte foi usada em várias ocasiões para simbolizar casos de repressão e expor a indignação dos presentes em relação aos 1.522 assassinatos ocorridos entre janeiro e março deste ano.
“Nossa ideia é usar a nossa arte como instrumento para essa discussão, essa exposição pública desse modo absurdo de tratar a pessoa humana”, explica o professor universitário e diretor de teatro Marcondes Lima, 50 anos, um dos organizadores do ato que realizado no início da noite na rua lateral do Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual. A frente do edifício e todas as ruas que circundam a praça em frente ao local estavam isoladas por grades e seguranças.
A manifestação foi pequena em número de participantes, mas chamou atenção pelas performances. Mais cedo, por volta de 17h, o grupo entregou um manifesto a Marcelo Canuto, secretário-executivo de coordenação da Secretaria da Casa Civil do governo estadual. “O governador tem que abrir imediatamente um fórum apropriado de debate com a sociedade, especialistas, com a universidade. Nós queremos ainda investimento em prevenção, atendimento das pautas dos policiais e, de outro lado, o reconhecimento que a violência policial também é parte do problema”, enumera a produtora cultural Liana Cirne, outra organizadora do ato.
A assessoria de comunicação do governo estadual disse que não haveria pronunciamento a respeito do ato e informou que o manifesto foi entregue e protocolado. Um dos principais especialistas em segurança pública de Pernambuco, José Luiz Ratton, participou da manifestação. Ele foi o idealizador do Pacto Pela Vida, programa de redução de homicídios lançado em 2007 pelo então governador Eduardo Campos (PSB) que conquistou seguidas reduções dos números da violência em uma época em que outros estados do Nordeste registravam o movimento contrário. Desde 2014, no entanto, os índices voltaram a subir. O total de mortes de janeiro deste ano já tinha sido o maior dos últimos 10 anos.
“O Pacto Pela Vida foi um programa exitoso a partir de um processo de pactuação com a sociedade e com foco na elucidação dos homicídios e governança das polícias. Mas desde o seu princípio, o Pacto foi incapaz de estabelecer metas mais abrangentes, como a construção de programas de prevenção da violência, humanização e modernização do sistema prisional e da Funase [sistema socioeducativo para menores de 18 anos], investimento em inteligência”, disse Ratton, que também é professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O sociólogo enumerou medidas emergenciais que poderiam ser tomadas para enfrentar o crescimento da violência no estado, como o fortalecimento do departamento de homicídios e proteção à vida, recuperação da elucidação de casos de assassinatos e articulação com o Ministério Público e a Justiça.