Apesar da confirmação da condenação do ex-presidente Lula em segunda instância no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), por 3 votos a 0 ontem (24), os eleitores do já anunciado pré-candidato à Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores (PT) devem manter as suas preferências. Ao menos no primeiro momento. Na avaliação de representantes de institutos de pesquisas eleitorais, a condenação do petista não deverá surtir, em um primeiro momento, grande impacto nos seus índices de intenção de votos.
Para o presidente do Instituto Data Popular, Renato Meirelles, o impedimento da candidatura de Lula pela Lei da Ficha Limpa e sua eventual prisão podem criar um cenário de “comoção”, e até mesmo um sentimento de “injustiça”, em parte da opinião pública e do eleitorado. Com o cenário pós-condenação do petista, novas pesquisas de intenção de voto para as eleições de outubro deverão ser divulgadas nos próximos dias.
Uma situação extrema de eventual prisão do ex-presidente Lula leva a uma comoção do eleitorado simples. Imagina que, para parte configurável do eleitorado, aquele apartamento e as outras coisas são quase nada comparadas às outras denúncias de corrupção que existiram, dentro do próprio PT, inclusive”, avaliou.
Por sua vez, o diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, lembrou que a maior parte dos eleitores do ex-presidente já tem conhecimento das acusações que tramitam contra o petista na Justiça. Ou seja, não existe fato novo. “Ele [Lula] pode subir ou cair dentro da margem de erro. Em nossa última pesquisa, cerca de 90% dos entrevistados já sabiam das denúncias. O eleitor já está votando nele com todas as condenações e com todas as denúncias. No primeiro momento, não deve haver mudança. Não é um fato que estava sob sigilo de Justiça e se tornou público para o povo brasileiro”, analisou.
Apesar de julgar pouco provável, Hidalgo também ponderou que alguns eleitores podem acabar declarando o voto em Lula por pena. “Tem pouca probabilidade, mas as pessoas podem ficar com pena dele, e ele pode até crescer um pouquinho nas próximas pesquisas”, disse. Ele acredita que a incerteza sobre a possibilidade real do ex-presidente concorrer às eleições e assumir o cargo pode gerar insegurança em parte do seu eleitorado, que poderá começar a pensar em uma segunda opção nos próximos meses. “Ele pode começar a perder [votos] daqui a uns 30 ou 40 dias, porque o eleitor dele começa a acreditar que ele não vai ser candidato. Esse passará a ser o seu maior problema”, justificou.
O resultado adverso de 3 a 0, com a decisão também unânime de aumentar a pena de prisão de 9 para 12 anos de prisão, jogou um balde de água fria nas pretensões da defesa do ex-presidente de protelar a decisão final e até mesmo pedir um novo julgamento por meio dos chamados embargos infringentes.
Como não teve nenhum voto favorável e ninguém que divergisse da pena imposta, Lula só poderá questionar aspectos formais da sentença, sem possibilidade de revisão do mérito. Nesse cenário, além de ficar mais distante das urnas, por causa da Lei da Ficha Limpa, o petista ainda corre risco de ser preso antes da eleição. Por isso, o julgamento de ontem tornou ainda mais imponderável o cenário político eleitoral. Lula será candidato? Quem ganha com uma eventual saída dele da disputa?
Cenário de incertezas
O presidente do Instituto Data Popular cogitou ainda que um cenário político sem o líder petista pode levar a uma pulverização na disputa eleitoral. “O ex-presidente Lula, de alguma forma, organiza o outro campo da política. Sem o ex-presidente Lula, nós temos um cenário muito mais pulverizado e, provavelmente, teremos dois candidatos com cerca de 25% dos votos indo para o segundo turno”, afirmou.
“O improvável ganha com a condenação do Lula. O Lula de alguma forma organiza um determinado pensamento social. Sem o Lula, isso fica mais desorganizado e, portanto, tudo pode acontecer”, ressaltou Renato Meirelles.
Para o presidente do Instituto Paraná Pesquisas, os petistas irão insistir em Lula como candidato até o final, já que o partido não possui outro nome forte igual ao do ex-presidente. “Quanto mais ele esticar a corda que vai ser candidato, melhor vai ser, do ponto de vista eleitoral, para o PT”, constatou Murilo Hidalgo.
“Injustiça”
Líder da oposição na Câmara, o deputado federal José Guimarães (PT-CE) afirmou que a decisão unânime dos desembargadores do TRF-4, que aumentaram a pena de Lula para 12 anos e 1 mês de prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex no Guarujá (SP), não tira os votos do pré-candidato petista.
“Não terá impacto. Lula não perde votos. Assim como no golpe, estamos vencendo a narrativa. Essa decisão é uma injustiça contra o Lula. Do jeito que estão as coisas, eles criaram uma situação muito grave, do ponto de vista da democracia”, disse ao Congresso em Foco.
Para o parlamentar, ninguém ganha com a saída de Lula da disputa pela Presidência. Pelo contrário – quem perde são os aliados do presidente Michel Temer. “Essa perseguição ao Lula vai gerar protestos, o que é mais um desgaste para o governo Temer. Mesmo os que não votam no Lula acham que ele deve ser candidato”, acrescentou.
‘Candidatura é ficção’
Já o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) declarou que a base de sustentação do ex-presidente Lula fica desidratada com a sua condenação.
“Ele se tornou um cidadão inelegível. Ninguém vai se colocar contra uma decisão legal. A candidatura dele é uma ficção. Não tem nenhuma base legal e não sobrevive a qualquer questionamento da Justiça. O julgamento já foi feito. A Lei da Ficha Limpa foi sancionada, aprovada, então essa regra vai prevalecer”, opinou. “Não existe mais essa tese de Lula candidato. Isso já não procede, já não tem fundamento”.
O líder do DEM no Senado rebateu ainda as declarações de José Guimarães. Para Caiado, quem ganha com a condenação de Lula são a democracia e a decência na vida pública.
“A realidade é que os brasileiros já entendem muito bem que a lei existe para todos. Ele [Lula] está sendo julgado pelos crimes praticados, que estão nos autos do processo. Não cabe a nós agora, a toda decisão da Justiça, criar um clima como se aquilo fosse um julgamento político. Não, é um julgamento criminal. Neste momento, a democracia ganha, a decência na vida pública ganha. E a corrupção, a malversação do dinheiro público e o enriquecimento ilícito passam a perder, porque a Justiça resgata a sua credibilidade condenando o ex-presidente da República, coisa que ninguém imaginava que pudesse acontecer na história do país”, completou.
Fonte: Congresso em Foco