Dormir bem é uma necessidade física, assim como comer e beber água. Porém, os distúrbios do sono atingem de 30 a 45% da população ao redor do planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e já é considerada uma epidemia, pois ameaça a saúde de forma global. Por isso, no próximo dia 17 de março é celebrado o Dia Mundial do Sono, para alertar a população dos riscos da insônia para a saúde.
Mas, afinal, o que está roubando o nosso sono?
O aumento dos casos de insônia tem várias explicações. De acordo com Fernanda Queiroz, psicóloga e neuropsicóloga, cofundadora da Estar Saúde Integrada, vivemos em um mundo “hiperconectado”, em todos os sentidos. “Somos estimulados, o tempo todo, a estarmos disponíveis e conectados por meio da tecnologia, o que causa agitação e realmente pode afetar a qualidade do sono, principalmente em adolescentes e adultos jovens. Neste público, as consequências podem ser graves”, explica.
Um estudo publicado no Journal of Youth and Adolescence mostrou que a cada hora a menos de sono na adolescência, o risco de sentir tristeza aumenta em 28%, o de apresentar pensamentos suicidas aumenta em 42% e de usar drogas aumenta em 23%. “O que acontece é que dormir mal afeta as funções executivas do cérebro, que na adolescência está em fase de maturação. Como resultado, podem surgir dificuldades acadêmicas e mudanças de comportamento, deixando o adolescente mais irritado, agressivo e desatento”, afirma Fernanda.
Para a neuropsicóloga, há ainda outra explicação para o aumento das queixas de insônia. “Nos últimos anos, o Brasil está enfrentando uma crise econômica sem precedentes, levando muitas pessoas ao desemprego. Quem ainda está empregado, enfrenta o medo de perder o trabalho. Soma-se a isso a violência urbana e a agitação dos grandes centros urbanos como fatores de risco para a insônia”, comenta Fernanda.
Estima-se que há mais de 100 tipos de distúrbios do sono, sendo que a maioria pode ser prevenida e tratada. Entretanto apenas 30% das pessoas que têm algum problema para dormir procuram ajuda. “Há várias razões para esse baixo índice. A insônia não é caracterizada apenas pela incapacidade de conseguir dormir. Quem desperta várias vezes durante a noite e sente que o sono não foi restaurador no dia seguinte, também sofre de insônia e pode nem se dar conta disso”.
A psicóloga explica que a insônia é um sintoma que pode ocorrer isoladamente ou acompanhar uma doença. “Os transtornos ansiosos e do humor, em geral, afetam a qualidade do sono. ‘Por isso, é comum encontrarmos a insônia com um sintoma importante da depressão, da ansiedade e de outros transtornos do humor, por exemplo,”.
“Como tudo que fazemos na vida, dormir também tem uma ação específica no organismo e é tão importante quanto as nossas outras necessidades fisiológicas. O sono atua na restauração de processos químicos e físicos danificados ao longo do dia, além de agir no equilíbrio e na conservação da energia. Tem papel fundamental ainda na memória e na conservação dos neurônios”, explica Fernanda.
“Para o sono ser considerado bom, ele precisa ter três características: precisa ser um sono contínuo, ou seja, sem fragmentações; precisa ser um sono profundo, para recuperar o corpo do cansaço, assim como para recuperar os desgastes de órgãos e tecidos; e precisa ter uma duração suficiente para que a pessoa se sinta descansada e alerta para realizar suas atividades ao longo do dia”, explica Fernanda.
Dicas para dormir melhor
Para ajudar você dormir melhor, a psicóloga Fernanda Queiroz preparou algumas dicas para realizar a higiene do sono. Confira:
Escolha um horário para dormir e um para acordar e procure segui-lo todos os dias
O quarto deve ser escuro, sem aparelhos eletrônicos, com temperatura agradável
Não consuma café, produtos com cafeína e cigarros três horas antes de dormir
Faça refeições leves antes de dormir, evitando comidas pesadas ou de difícil digestão
Se você tem dificuldade para dormir, evite fazer atividades físicas à noite, assim como tirar cochilos durante o dia
Tome um banho morno e invista em chás sem cafeína, como erva-cidreira, camomila e melissa
Escolha colchão e travesseiro adequados para seu peso e altura
Se a insônia está interferindo na sua qualidade de vida, procure médicos especialistas e o psicólogo. Estudos mostram que a terapia cognitivo comportamental apresenta resultados importantes na melhora da insônia, e em alguns casos dispensa o uso de medicamentos. “Os medicamentos podem ajudar, mas é preciso descobrir e tratar a causa da insônia e a psicoterapia pode ser muito útil nesses casos”, conclui Fernanda.