O XII Fórum de Saúde Mental Infantojuvenil de Fernando de Noronha aconteceu nesta quarta-feira (24). O evento, promovido pela Administração da ilha, por meio da Superintendência de Saúde, foi realizado no auditório da Escola Arquipélago, das 17h às 21h, e reuniu técnicos da rede intersetorial e a comunidade. A programação contou com a palestra do psicólogo Hugo Monteiro, com um debate técnico sobre campanhas temáticas e a apresentação cultural do Maracatu Nação Noronha.
A superintendente de Saúde do distrito, Isabel Sobral, avaliou a importância da temática do encontro no arquipélago. “A saúde mental do jovem e da criança hoje é importantíssima para construção dos seus futuros, de como eles vão crescer mentalmente saudável e de como vão se desenvolver. A gente precisa sempre pensar neles, não só no aspecto físico, mas também na saúde mental”, disse.
Este ano, o Fórum teve o diferencial de ser aberto para toda a comunidade. “O evento sempre foi um encontro intersetorial, com técnicos da saúde, da educação, do social, Conselho Tutelar. Este décimo segundo encontro está sendo muito especial porque a gente está abrindo para todas as famílias. Não tem como falar de saúde mental infantojuvenil sem a gente estar próximo dessas famílias. Não tem como falar dos jovens e crianças sem falar com os pais, com os cuidadores e responsáveis. Então esse momento está sendo muito importante com a presença de toda a família noronhense. Esta é a prova de que o Fórum é um espaço legítimo e importante para que todos se encontrem, fortaleçam e ampliem a rede para toda a comunidade”, ressaltou Wanessa Moura, gestora do Núcleo de Saúde Mental de Noronha.
O Fórum contou com a palestra do neuropsicólogo Hugo Monteiro, autor do livro “Geração do Quarto: quando as crianças e adolescentes nos ensinam a amar”. Ele é professor do Programa de Pós-graduação em Educação, Culturas e Identidades da UFRPE e coordenador do Núcleo do Cuidado Humano e do Grupo de Estudos de Transdisciplinaridade da Infância e da Juventude (Getij/UFRPE).
A sua palestra teve como foco a relação entre afetividade e escola, repercutindo no conceito do que o psicólogo chama de “Geração do quarto”. “Geração do quarto é um conceito que eu criei que trata de crianças que passam por experiências violentas, e essas experiências repercutem na saúde mental dessas crianças e adolescentes, tanto do ponto de vista dos sintomas psicopatológicos quanto do comportamento autodestrutivo”, afirma.
O seu livro, resultado de uma pesquisa com milhares de jovens brasileiros (com idade entre 11 e 18 anos), em várias capitais do país, aponta para um quadro preocupante de intenso sofrimento dos jovens diante da realidade brasileira, das novas formas de socialização e das dores de crescimento em sociedade. Na sua pesquisa, o autor revela um grupo de meninas e meninos frágeis emocionalmente, que demonstram sérios problemas de convivência, passando mais de seis horas por dia isolados dentro de seus quartos, o que demonstra profundo sofrimento psíquico, com quase nenhum diálogo com as pessoas que moram na mesma casa, bem como muita dificuldade de dizer o que sentem e um potencial de violência contra si mesmo ou contra o outro muito intenso.
“Se os pais identificarem que os filhos têm características da ‘Geração do quarto’, a minha sugestão primeira é que os pais acolham os filhos, tentem ouvi-los, compreendê-los, mas também, no mesmo movimento, procurem um profissional da saúde mental, porque pessoas que estão no quarto do modo como eu conceituo estão adoecidas mentalmente”, orienta o neuropsicólogo Hugo Monteiro.
A gestora do Núcleo de Apoio Psicossocial e Pedagógico (NAPP) da ilha, Massilde Costa, ratifica a grande importância do Fórum para a comunidade noronhense. “É sempre bem-vindo esse Fórum. A gente participa há bastante tempo. E o NAPP sempre dá um apoio ao Núcleo de Saúde Mental. A ilha está precisando, as crianças estão precisando desse acolhimento. E a saúde mental vem exatamente para isso, para acolher, para sentir um pouco essas crianças, as necessidades delas. Então esse Fórum é de grande valia”, conclui.