Anualmente, os bancos de leite humano e postos de coleta em todo o país se mobilizam na semana que inclui o dia 19 de maio para reforçar a importância da doação de leite materno, estimulando as mães que estão em período de amamentação com seus bebês a doar o excedente. As atividades de conscientização se estendem ao longo do ano, mas é nesse período que a Secretaria Estadual de Saúde (SES/PE) alerta para a necessidade desse ato de solidariedade. Para se ter uma ideia, um litro de leite materno doado pode alimentar até dez recém-nascidos por dia.
Em 2018, as unidades pernambucanas coletaram mais de 11 mil litros de leite humano – entre os coletados nos cerca de 15 unidades pernambucanas, entre bancos de leite e postos de coleta. Em relação ao número de doadoras, o Estado pulou, no primeiro quadrimestre de 2019, de 2.090 em 2018 para 2.312 neste ano, o que equivale a 10% de aumento. Apesar do acréscimo, a ampliação no leite distribuído foi de apenas 1,5% (3.238 litros em 2018 e 3.287 litros em 2019) e de crianças beneficiadas, de 2,3% (3.757 em 2018 e 3.847 em 2019). Por isso, é necessário incentivar as mães a fazer parte, permanentemente, dessa rede de apoio.
Para se tornar doadora, além de ter excesso de leite, a mulher deve ser saudável e não usar medicamentos que impeçam a doação. “A interessada pode procurar o banco de leite mais próximo de sua residência, levando todos os exames clínicos em dia para fazer o cadastro e receber todas as orientações necessárias para o processo correto de doação. É importante lembrar, ainda, que a campanha acontece em maio, mas nossos bancos de leite precisam de doação o ano inteiro, principalmente nos períodos festivos, como Natal, Ano Novo e Carnaval, quando os bancos de leite registram uma queda nas doações”, pontua a coordenadora de Aleitamento Materno da SES, Marília Macêdo.
Uma das principais referências estaduais é o Banco de Leite Humano e Centro de Incentivo ao Aleitamento Materno do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (BLH/CIAMA/IMIP). O serviço foi o primeiro hospital no Brasil a receber o título de “Hospital Amigo da Criança”, outorgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pelo Ministério da Saúde, prêmio para as unidades que cumprem os dez passos para o sucesso do aleitamento materno. O banco de leite do Imip é uma das unidades responsáveis por pesquisas e treinamentos sobre o assunto, além de ser o serviço responsável por compilar todos os dados dos bancos de leite e pontos de coleta em Pernambuco. Anualmente são atendidos, em média, no local, 97 mil recém-nascidos, lactentes e suas mães.
O leite humano doado passa por um processamento especial. A substância é analisada, pasteurizada e submetida a um rigoroso controle de qualidade antes de ser ofertado a uma criança. Geralmente, é destinado a bebês prematuros de baixo peso internados nas UTIs e UCIs neonatal dos hospitais de referência, além de alojamento Canguru. A maioria apresenta patologias diversas, principalmente do trato gastrointestinal. “O leite materno doado auxilia, principalmente, a estabilizar a situação clínica desses bebês, fornecendo as substâncias necessárias para a nutrição de qualidade e para a melhora deles. Por isso, costumamos dizer que esse alimento salva vidas”, reforça a coordenadora.
Nos bancos de leite, além de ordenhar o material excedente, as mães também são acolhidas e orientadas em casos de dúvidas e dificuldades em relação ao aleitamento. Tanto as que estão internadas no próprio serviço de saúde, quanto as doadoras externas. De janeiro a abril deste ano, foram 102.588 atendimentos às doadoras, entre sessões individuais e em grupo. Esse número equivale a um aumento de 25,9% em relação à quantidade de atendimentos realizados no mesmo período em 2018 (81.471 atendimentos). Em todo ano passado, foram 244.948 atendimentos.
Atualmente, quatro bancos de leite estão sob gestão do Governo de Pernambuco e aceitam doação do público. No Recife, há o Hospital Barão de Lucena (81 3184.6552), que, atualmente, possui 22 litros e está com consumo diário em torno de 500 ml; já o Hospital Agamenon Magalhães (81 3184.1690), também no Recife, está com estoque de 45 litros (consumo diário de 1,5 L). Já no Hospital Jesus Nazareno (81 3719.9338), em Caruaru, o estoque está em 20 litros (consumo diário de 500 ml); e o Hospital Dom Malan (87 3202.7000), em Petrolina, que conta, atualmente, com 3 litros (necessidade de, em média, 1 L/dia). Outras instituições públicas e privadas também recebem doação. Para ver a lista completa, basta acessar o link https://bit.ly/2sfx9MM.
COMO DOAR – As mães interessadas em doarem seu leite excedente devem entrar em contato com o Hospital pelo 3184.1690. Para retirar o leite da mama, a indicação é que a mãe use um lenço para proteger a boca e a cabeça, além de higienizar as mãos antes de iniciar o processo. O produto deve ser armazenado em potes de vidro com tampa de plástico, como os de maionese ou café. O papel que vem na parte interna da tampa precisa ser retirado antes de todo o processo. Para higienizá-los, deve-se lavá-los com água corrente e sabão neutro. Em seguida, colocá-los em uma panela com água e levá-los ao fogo. Após a água começar a ferver, deixar por mais 15 minutos.
AMAMENTAÇÃO CRUZADA – Nos últimos meses, uma prática bastante usada no passado, pelas chamadas “amas-de-leite”, quando uma mulher que possuía excedente optava por amamentar diretamente um bebê cuja está impossibilitada de amamentar, voltou a chamar atenção ao ser veiculada em programas da mídia.
No entanto, esse costume, formalmente chamado de amamentação cruzada, é contraindicado pelo Ministério da Saúde (MS) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), uma vez que traz diversos riscos ao bebê, podendo transmitir, inclusive, doenças infectocontagiosas, como o HIV/Aids. “Nós sabemos que muitas vezes a mãe doadora tem boa intenção em amamentar outra criança que não a sua, mas é preciso entender que essa prática pode ser prejudicial para o bebê. Esse leite excedente deve seguir todo o processo preconizado pelos bancos de leite, o que garante a sua qualidade”, alerta a coordenadora de Aleitamento Materno da SES.
Foto: Miva Filho / SES