Por Gustavo Krause*
Os “pais fundadores” da democracia americana – signatários da Declaração de Independência, participantes da Revolução Americana e da redação da Constituição dos Estados Unidos devem estar dando voltas nos seus túmulos seculares. Raivosos e, sobretudo, envergonhados com os acontecimentos políticos que atentam contra os pilares de uma construção sólida e longeva.
A preocupação central da engenharia política estava expressa na Declaração de Independência: “Consideramos estas verdades como auto evidentes, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes são a vida, liberdade e busca da felicidade”.
Ali estava o alicerce da filosofia política e um conjunto de valores a ser observado pela sociedade americana.
A democracia era (e é) uma ideia antiga e experiência nova no mundo. Em menos de três séculos de existência, evoluiu para uma cultura política, assegurando às nações paz e prosperidade. Países democráticos não fazem guerras: a beligerância somente ocorre onde uma das partes vive sob o tacão da tirania. Bobbio identifica na democracia e suas fragilidades a única forma de nutrir os valores da tolerância, da não-violência, da renovação gradual da sociedade, da fraternidade e deles se realimentar.
Porém, o grande pensador italiano falava nas promessas não-cumpridas pela democracia: era um sistema feita de homens para governar homens nas suas imperfeições. Atualmente, a democracia corre graves riscos e ameaças: ora pelo argumento da força, ora pela força do populismo, um disfarce de tirano cada vez mais aperfeiçoado.
De verdade, mudou de cara. As ondas do populismo, autoritário na essência, não saem mais dos quarteis com tanques e fuzis. Seu propósito com a mensagem mistificadora é dominar e eliminar as instituições da democracia liberal por considerá-las oligárquicas e contra a “vontade popular”.
Do ponto de psicológico, o populista mistura narcisismo e megalomania; mitomania e delírios persecutórios e se nutre do confronto sob manto do obscurantismo.
Ninguém acredita que uma personalidade tão deformada possa liderar uma nação. Os analistas subestimam. Quem poderia acreditar que Trump seria Presidente dos Estados Unidos? E Bolsonaro, eleito Presidente do Brasil?
A onda do populismo aninhado na extrema direita obedece a uma cartilha ideológica: o Tradicionalismo e as ferramentas da comunicação são as redes sociais. Pais e filhos da corrupção empunham cinicamente a bandeira da moralidade com voraz apetite pelo poder.
*Ex-governador de Pernambuco