Os tambores ecoaram na praia de Ipanema durante o desfile do Bloco Rio Maracatu. Na manhã desta terça-feira (13), o carnaval pernambucano ganhou um espaço no carnaval do Rio de Janeiro. Próximo ao Posto 8, centenas de foliões e também banhistas pararam e se contagiaram com a música e a dança.
O Rio Maracatu é um grupo fundado em 1997 a partir da união de músicos pernambucanos e cariocas. Seu surgimento também se deu paralelamente a outros blocos, num contexto de mobilização pela retomada e renovação do carnaval de rua no Rio de Janeiro. Mas as atividades do grupo não se restringem aos dias da folia, havendo shows, oficinas e cortejos durante todo o ano.
O bloco busca valorizar e dar visibilidade ao maracatu de baque virado, uma tradição da cidade do Recife. “Estamos completando 21 anos. Em todo este tempo, temos aprofundado esta tradição em intercâmbio constante com os mestres e nações de Recife. E resulta nesse trabalho bonito que nós botamos na rua, trazendo um pedacinho da cultura pernambucana”, conta Bruno Abreu, um dos fundadores.
O maracatu é uma manifestação folclórica originada em Pernambuco. Vinculado à cultura negra, ele traz em um cortejo real elementos profanos e também ligados a religiões de matriz africana, como o Candomblé. No Recife e em Olinda, desenvolveu-se com mais força o maracatu do baque-virado. Na área rural do estado pernambucano, se destaca o maracatu de baque solto, que incorpora instrumentos de sopro, além da percussão.
As nações de maracatu são os grupos tradicionais e seculares. “O Rio Maracatu não é uma nação, mas oferece uma amostra do que elas produzem. É um trabalho com embasamento, muito fundamentado. Temos músicas nossas que misturamos com músicas dos grupos tradicionais de Recife”, acrescenta Bruno.
As centenas de espectadores viram um cortejo com cerca de 100 pessoas, metade dos quais integrantes da bateria e a outra metade dançarinos. Bruno explica que a corte de bailarinos traz diversos personagens, tais como o rei, a rainha e as catirinas.
A cineasta Aline Lourena integrou o cortejo. “Recebi um convite da coreógrafa do bloco para compor a ala das rainhas negras, dentro de uma proposta de enegrecermos o Rio Maracatu. Eu já participei outras vezes, mas em outras funções. Neste ano, somos seis mulheres, cada uma com suas profissões, aqui destacando a importância da mulher negra na cultura afrobrasileira”, contou.
Segundo a cineasta, a mistura cultural enriquece as tradições brasileiras. “Apesar do maracatu ter sua origem em Pernambuco, ele vem para o Rio de Janeiro e se torna outra coisa: um maracatu com uma essência carioca. E é importante lembrar que o maracatu não está só no carnaval, embora nessa época temos a oportunidade de mostrar para mais pessoas esse estilo musical que tem tanto a ver com o Brasil”.
O estudante Renan Rosa de Oliveira, fantasiado com um véu na cabeça, acompanhava a apresentação. Ele veio com amigos de Nova Iguaçu, na baixada fluminense, para marcar presença pelo quarto ano consecutivo. “É uma experiência maravilhosa. É muito interesse ver diversas tradições do Brasil se juntando no carnaval”, disse o folião, acrescentando que também costuma frequentar arrastões e ensaios do Rio Maracatu.