Brasil: Prisioneiro do passado, refém do presente

Por João Américo de Freitas

Duas propostas políticas partidárias emergem como as únicas competitivas para o pleito do próximo ano, Lula e Bolsonaro. Ao que tudo indica, Bolsonaro e Lula serão os grandes protagonistas de uma disputa eleitoral sem precedentes em nosso país.

A possibilidade de Lula ter seus direitos políticos reabilitados pelo Supremo Tribunal Federal transforma todo o cenário político eleitoral, e a sua presença, já na fase de pré-candidaturas, asfixia os presidenciáveis de centro esquerda, criando basicamente uma única alternativa para o campo político auto nominado de progressista. Já o outro polo, liderado por Bolsonaro, consolidou-se com uma base orgânica que defende o presidente de forma ativa e sistemática nas redes sociais. Esse apoio, junto com o fato de o presidente ter a máquina na mão, dá uma vantagem formidável ao presidente Bolsonaro.

Voltando para Lula, o ex-presidente sinaliza para o centro em busca de apoio de alianças perdidas, e modera o seu discurso para agradar o mercado.

O que existe de semelhança entre Bolsonaro e Lula é que ambos são mais rejeitados, pois sofrem os dois de contradições, controvérsias, e por terem passado por desgastes seus governos.

Já as forças políticas do centro têm pretensões próprias e caminha para uma unidade fazendo aceno ao diálogo. Seis líderes políticos, todos ligados ao centro, se propuseram a assinar uma carta defendendo a democracia e criticando iniciativas autoritárias, demostrando, desse modo, aptidão para a construção de uma frente ampla, ou seja, uma terceira via que se encontra em fase embrionária e sem previsão de vigar. Mas antes, o que era uma barreira intransponível, se apresenta em uma possibilidade palpável e exequível.

Sem unidade, ou seja, sem concesso em torno de uma candidatura competitiva, o centro será, certamente, engolido na polarização que provavelmente ocorrerá em torno de Bolsonaro e de Lula.

O centrão espera paciente e avidamente, como um predador à espreita, aguardando a sua melhor presa passar para que o bote seja certeiro, que no fim das contas não fará tanta importância, pois o centrão será governo, quer queira ou não o presidente de ocasião.

No meio dessa luta entre centro, Bolsonaro e Lula, ficará o voto da classe média, onde boa parte ainda se inclina entre Bolsonaro, e busca alternativa mais ao centro. Ao que parece, o coração dos pobres — um eleitorado que muda mais fácil de opinião e pode ter alguma “saudade” dos governos do petismo e, desse modo, seria a faixa de eleitorado onde Lula teria mais densidade. O grande desafio do PT será reconquistar o eleitorado da classe média.

No fim, ficamos com a certeza de que o Brasil precisa, com senso de urgência, consolidar novas lideranças nacionais deslocadas da polarização, que se apresentem como alternativas viáveis em uma eventual disputa presidencial, sejam elas de que matizes ideológicos forem.

João Américo de Freitas é advogado e comentarista político da Caruaru FM

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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