Silenciosa e sem sintomas, a hipertensão arterial não recebe a devida atenção da maioria das pessoas e, se não controlada, torna-se um perigo para a saúde. Segundo o cardiologista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, Gustavo Bernardes de Figueiredo Oliveira, a hipertensão é o principal fator de risco para o acidente vascular cerebral (derrame), sendo responsável por quase 50% de todos os casos. “Isso acontece porque indivíduos hipertensos, particularmente sem conhecimento do diagnóstico ou sem tratamento e controle adequados, apresentam três vezes mais chances de sofrer um derrame do que aqueles com níveis considerados normais de pressão arterial”, afirma.
A hipertensão ainda é responsável por 15% a 20% dos casos de infarto agudo do miocárdio, com risco progressivamente maior à medida que outros fatores de risco estão associados. De fato, cerca de 80% dos casos de infarto são previstos por 05 fatores de risco tradicionais: hipertensão arterial, tabagismo, alterações metabólicas como dislipidemia (níveis inadequados das dosagens do colesterol, suas frações e dos triglicerídeos), diabetes e obesidade. “Também causa insuficiência renal (podendo progredir para falência total dos rins), retinopatia (danos aos vasos sanguíneos na retina) com perda de acuidade visual (capacidade de visão normal), insuficiência cardíaca, além de alterações graves da artéria aorta e artérias periféricas (geralmente dos membros inferiores)”, explica o cardiologista.
O número de pessoas diagnosticadas com hipertensão no país cresceu 14,2% na última década, passando de 22,5% em 2006 para 25,7% em 2016, segundo pesquisa recente divulgada pelo Ministério da Saúde. Mas, segundo Dr. Gustavo, o número é superior ao registrado. “Há outros estudos internacionais que apontam para índices ainda maiores”. Obesidade, dietas hipercalóricas, com excesso de sal, e baixa ingestão de verduras, legumes e frutas, além de consumo abusivo de bebida alcoólica, alterações metabólicas, sedentarismo e estresse aumentam as chances de desenvolvimento da hipertensão. Também é mais frequente entre mulheres e nos indivíduos pardos e negros. O avanço da idade registra maior prevalência.
Apesar de não existir cura, a hipertensão pode ser mantida sob controle se tratada de forma correta. “Entre os pacientes diagnosticados, metade faz o tratamento adequado e menos de 25% consegue manter os níveis da pressão arterial controlados”, ressalta o especialista. “As pessoas não costumam associar a hipertensão à presença de fatores de risco e, por não sentirem sintomas específicos, não acreditam que possam ter a doença e, mais grave ainda, não aceitam que devem tomar medicamentos. Por isso, medidas educativas são essenciais e relevantes para mudar esse cenário”, reforça Gustavo Oliveira.
O tratamento para a hipertensão arterial inclui a adoção de dieta saudável, redução na ingestão de sódio, moderação no consumo de álcool, perda de peso (principalmente da gordura abdominal), atividade física regular e, em casos específicos, a introdução de medicamentos. “O acompanhamento periódico com o cardiologista também é importante para identificar fatores de risco mal controlados e evitar possíveis complicações”, alerta o médico.