Um total de 80% dos bancários da Caixa Econômica Federal participantes de nova pesquisa encomendada pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) tem alguma doença relacionada ao trabalho. Os primeiros resultados do levantamento também revelam outros dados alarmantes: 33% dos afastamentos por licença médica foram motivados por depressão, 26% por ansiedade, 13% por Síndrome de Burnout [esgotamento profissional, exaustão extrema] e 11% por Síndrome do Pânico.
Até o momento, 1.704 mil empregados da ativa responderam ao questionário da pesquisa. Deste total, 6% estão afastados do trabalho por licença médica. O estudo também mostra que 20% dos trabalhadores têm jornada de trabalho maior que oito horas diárias.
A pesquisa de opinião da Fenae sobre a saúde dos bancários da Caixa foi realizada entre os últimos dias 19 de novembro e 10 de dezembro. Um total de 3.034 empregados participaram do estudo, sendo 56% (1.704) empregados da ativa e 44% (1.330), aposentados.
Conforme avalia o presidente da Fenae, Sergio Takemoto, o cenário “piorou muito” desde o último levantamento da Federação sobre a saúde dos empregados [iniciado em 2018]. “Sabemos que a pandemia é um fator que pesa na saúde mental dos trabalhadores. Mas, a atual pesquisa mostra que o adoecimento está atrelado ao trabalho”, analisa. “Ou seja, o modo de gestão do banco, as cobranças e a pressão por metas, além de jornadas extenuantes, estão interferindo na saúde dos empregados. Esses dados vão nos ajudar a buscar ações em defesa dos bancários da Caixa, que se mantiveram na linha de frente do atendimento à população em toda esta crise sanitária”, acrescenta Takemoto.
Antes da pandemia, o quadro de saúde psicológica dos empregados da Caixa Econômica já preocupava a Fenae: levantamento feito pela entidade em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) revelou que mais da metade dos trabalhadores do banco (53,6%) havia passado por pelo menos um episódio de assédio moral. O estudo também mostrou que quase 20% dos empregados ativos revelaram ter depressão ou ansiedade. O percentual de bancários que buscavam acompanhamento regular psicológico ou psiquiátrico era de 19,6%. E 47% dos trabalhadores tinham conhecimento de algum episódio de suicídio entre colegas.
A PESQUISA — Nesta nova pesquisa, do total de respondentes da ativa, 74% estão lotados em agências, 34% têm cargo em gerência e 21% são Técnicos Bancários Novos (TBN). Um percentual de 71% tem entre 30 e 49 anos. Já entre os aposentados, 66% têm de 60 a 69 anos. A margem de erro da pesquisa é de 1,8 ponto percentual, com intervalo de confiança de 95%.
“Os dados são assustadores”, avalia a diretora de Saúde e Previdência da Fenae, Fabiana Matheus. “De imediato, com estas informações preliminares, podemos dizer que a Caixa, de algum modo, está fazendo mal à saúde dos seus trabalhadores”, completa.
“Os dados coletados irão subsidiar a Fenae e as associações de pessoal do banco (Apcefs) na construção de ações de saúde e bem-estar, além de auxiliar nas nossas reivindicações junto à direção da Caixa para a melhoraria das condições de trabalho dos empregados”, ressalta Sergio Takemoto.
SOBRECARGA — Em 2014, a Caixa Econômica Federal tinha mais de 101 mil empregados. Ao longo de sete anos, o quantitativo foi caindo e o déficit se aproxima de 17 mil trabalhadores.
Entre os cinco maiores bancos do país, a Caixa é o que tem o maior número de clientes por empregados. Segundo dados consolidados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), relativos ao primeiro trimestre de 2021, esta relação é de 1.775 [clientes por trabalhador] na Caixa. No Santander, 1.146. E no Bradesco, 1.112.
CAMPANHA — Desde 2019, a Fenae desenvolve a campanha “Não Sofra Sozinho”. A iniciativa prevê medidas de prevenção ao adoecimento mental no ambiente de trabalho.
Uma das ações é o desenvolvimento de estratégias para a implementação de serviços de assistência aos empregados da Caixa que estejam em sofrimento. A campanha, que é permanente, também subsidia a Fenae e as Apcefs na proposição e execução de políticas e práticas sindicais e institucionais de prevenção a psicopatologias do trabalho.