Pensando na tendência de aumento no consumo de seis tipos de drogas lícitas e ilícitas mais populares nos carnavais em todo Brasil, a campanha #RolêSemVacilo, lançada neste carnaval, tem como alvo promover a redução de danos para pessoas que pensam em usar drogas nos dias de folia.
Projeto da iniciativa Drogas: Reduzir Danos, do Centro de Convivência É de Lei e da Plataforma Brasileira de Política de Drogas (PBPD), em parceria com a produtora de eventos culturais Pipoca, a campanha #RolêSemVacilo: Experimente Reduzir Danos tem como foco informar sobre o uso de Alcool, Cocaína, Ecstasy / MDMA, LSD, Inalantes (lança-perfume, B25, tiner, cola) e Ketamina. Será levada às ruas em parceria com grandes blocos carnavalescos paulistanos, como Frevo Mulher, Bicho Maluco Beleza, Monobloco, Baiana System e Orquestra Voadora, promovidos pela Pipoca.
A campanha disponibilizou material informativo direcionado aos foliões para disseminação em blocos do Carnaval de rua paulistano e nas redes socias das iniciativas envolvidas, como um serviço de utilidade pública. O objetivo é promover o conceito de redução de danos com dicas e práticas que ajudam a minimizar potenciais efeitos danosos causados pelo uso dessas substâncias durante os dias de festa – e ao longo de todo o ano.
“Nos quatro dias de fervo de uma das festas mais populares do país, é sabido que o consumo de substâncias/drogas lícitas e ilícitas aumenta consideravelmente entre os que se jogam nos blocos e eventos carnavalescos. A combinação “tanto tempo esperando” + “a fantasia voltará para o armário em breve” ajuda ainda mais para que esse consumo seja feito como se não houvesse amanhã”, explica o texto da campanha.
O conteúdo explicativo em material online e publicado em parceria com grandes blocos carnavalescos de São Paulo informa sobre as diferenças entre as substâncias e seus efeitos no sistema nervoso central (SNC), classificando-as como estimulantes (que aumentam a atividade do SNC e deixam as pessoas mais ativas, como cafeína, cocaína e anfetaminas), depressoras (que diminuem a atividade do SNC e diminuem a capacidade dos neurônios de responder a estímulos, diminuindo o autocontrole e deixando as pessoas sedadas ou com sono, como álcool, opióides e sedativos) e perturbadoras (que, em vez de aumentar ou diminuir a atividade do SNC, alteram a qualidade de seu funcionamento, como LSD, DMT e, para alguns especialistas, maconha).
Partindo desta explicação, o material fornece informações básicas sobre cada substância, cuidados importantes para a saúde de quem for utilizá-las e possíveis reações e riscos para misturas entre mais de uma droga. O material ainda traz dicas gerais de saúde e bem estar, como a importância de se manter hidratado, com estômago cheio e prestar atenção aos sinais de seu corpo, além das pessoas e do ambiente à sua volta.
“Geralmente, falamos sobre abuso drogas apenas em contextos como a Cracolândia ou operações policiais. Porém, sabemos que durante o Carnaval aumenta bastante o consumo e o abuso de álcool e de outras drogas comuns em ambientes de festas. Queremos mostrar que as práticas de redução de danos são amplas e se aplicam a diferentes contextos de uso de drogas”, diz Nathalia Oliveira, da iniciativa Drogas: Reduzir Danos e da Plataforma Brasileira de Política de Drogas. “É uma abordagem racional que procurar responsabilizar o usuário e promover segurança coletiva. O abuso de álcool e de outras drogas nessa época do ano também está associado ao aumento de atendimentos em unidades de saúde, acidentes de trânsito e casos de assédio sexual e de agressão”.
Para Rogério Oliveira, diretor da Pipoca, esta é uma boa oportunidade para agregar conteúdos de relevância social e de saúde para momentos de festa. “O carnaval, assim como outras grandes celebrações, é uma boa oportunidade para promovermos conceitos de redução de danos e de bem estar coletivo junto a uma expressiva parte da população jovem que frequenta esses eventos”, afirma.
O que é Redução de Danos (RD)
Redução de Danos é um conjunto de práticas e políticas de saúde pública cujo objetivo é reduzir os danos relacionados ao uso de drogas em pessoas que não podem, não conseguem ou não querem parar de consumi-las. É norteada pelo cuidado em liberdade e o respeito à autonomia, buscando construir formas de cuidado junto ao usuário de drogas e ao seu contexto. A redução de danos não tem a abstinência como objetivo central.
A Redução de Danos é uma prática reconhecida pela Organização Mundial de Saúde. No caso do uso de drogas, a RD parte da premissa que as pessoas usam drogas (lícitas e ilícitas) e oferece dicas concretas como não misturar substâncias, manter-se hidratado e alimentado, além de informações e alertas sobre os possíveis efeitos específicos de cada droga no corpo da pessoa. A redução de danos considera que uma pessoa bem informada pode ter maior autonomia e ser mais responsável no consumo de substâncias, minimizando os impactos para si mesmo e para terceiros.
Sobre Plataforma Brasileira de Política de Drogas
A Plataforma Brasileira de Política de Drogas (PBPD) é uma articulação de diversos atores da sociedade civil brasileira que trabalham com política de drogas em suas múltiplas frentes, como segurança pública, acesso à justiça, saúde e cuidado e direitos humanos. A PBPD consiste, assim, em um ambiente de atuação conjunta que busca promover e propor políticas de drogas que tenham como fundamento a garantia dos direitos humanos e a redução de danos e da violência associada à ilegalidade das drogas. A PBPD também busca promover políticas que garantam sobretudo a autonomia e a cidadania das pessoas que usam drogas, o efetivo direito à saúde e o tratamento em liberdade, bem como a promoção de políticas desencarceradoras e que revertam a letalidade pelas forças de segurança pública do Estado.
Sobre Centro de Convivência É de Lei
Organização da sociedade civil que este ano completa 20 anos de atuação na perspectiva de redução de danos associados ao uso de drogas. Realiza atividades em seu centro de convivência, o primeiro destinado a pessoas que usam drogas no Brasil, atuando também em campo – nos contextos de uso, especialmente na região central de São Paulo – e em contextos de festas, com o projeto ResPire. A organização oferece ainda cursos, palestras e capacitações sobre drogas e redução de danos, além de articular diferentes atores em torno de políticas de drogas mais pragmáticas, efetivas e alinhadas com os direitos humanos.
Sobre Drogas: Reduzir Danos
Iniciativa organizada pela Agência Lema em parceria com a Open Society Foundations, o projeto visa estimular e ampliar o diálogo em torno da redução de danos para todas as drogas, no Brasil.
Sobre Pipoca
Somos um coletivo de produtores e artistas que enxergam a rua como local perfeito para que nos reconheçamos como iguais. Criamos e desenvolvemos projetos culturais que façam com que as pessoas de diferentes ideologias, crenças, cores, classes ocupem de forma feliz, culturalmente rica e civilizada o espaço público e retornem para suas casas afetadas na alma com o que experimentaram e viveram.