Após 21 anos do crime, foi preso o acusado de ser o autor intelectual do homicídio da promotora de Justiça Maria Aparecida Clemente, ocorrido em 7 de abril de 2001, em Igarassu, na Região Metropolitana do Recife. José Aderval Clemente foi preso nessa terça-feira (11) em Aracaju (SE), numa operação do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Pernambuco (Gaeco-MPPE) com a colaboração do Gaeco-MPSE.
José Aderval Clemente era o marido da vítima. O MPPE informou que conseguiu, junto à Vara de Igarassu, à frente a juíza Ana Cecília Toscano Vieira Pinto, a prisão cautelar dele.
Maria Aparecida tinha 43 anos quando foi morta. Ela foi sequestrada quando saía de um supermercado no bairro da Torre, no Recife, e levada ao Loteamento Ana Albuquerque, o chamado “lixão de Igarassu”, onde foi executada com dois tiros na cabeça. O carro foi encontrado no dia seguinte ao assassinato no bairro do Poço da Panela, no Recife. Para forjar latrocínio, foram realizados saques com cartões bancários dela em caixas eletrônicos.
Segundo o MPPE, os autos do processo “mostram trazem a história de uma mulher negra, filha de pessoa trabalhadora doméstica, que estudou e conseguiu vencer o estrutural regime de exclusão social e se tornou uma representante do Ministério Público, mantendo todas as características de sua origem simples.”
As investigações apontaram que Maria Aparecida quis terminar o casamento que, se mantido, mancharia sua imagem e comprometeria o exercício do seu cargo como promotora de Justiça atuante em Vara da Fazenda Pública da Capital. O marido, José Aderval Clemente, de acordo com o processo, administrava empresas em nome de “laranjas” e praticava irregularidades e crimes fiscais.
O MPPE explicou que a prisão foi possível porque a Procuradoria-Geral de Justiça mobilizou vários setores do Ministério Público para impulsionar o processo. Foram designados dois membros da instituição para trabalhar junto ao promotor de Justiça natural do caso, José da Costa Soares, que atua em Igarassu. O Gaeco e o Nimppe também ingressaram no caso por determinação do procurador-geral de Justiça, Paulo Augusto de Freitas Oliveira, para o necessário suporte operacional.
“A união de esforços institucionais e a determinação dos membros que passaram a atuar nesse processo foram fundamentais para captura do mandante do bárbaro e covarde crime praticado contra uma mulher que preservava suas origens e dignificava o MPPE. Agora, vamos manter o foco no julgamento do processo e na devida aplicação da lei penal”, destacou o procurador-geral de justiça, Paulo Augusto de Freitas Oliveira.
Segundo explicou a promotora de Justiça Ana Clézia Ferreira Nunes, durante todo o processo criminal, o acusado não era localizado nos mais diversos endereços informados, até mesmo em outros estados.“Vários atos judiciais, inclusive cartas precatórias, com custo e empenho de funcionários da Justiça, foram executados sem lograrem êxito na sua efetiva localização em nenhum dos endereços, restando claro que se encontrava em lugar incerto para o Poder Judiciário de Pernambuco, e agia para tumultuar o andamento do feito e retardar indefinidamente o seu julgamento pela sociedade”, afirmou.
Na busca pelo acusado, foram usadas várias tecnologias pelo Gaeco, informou o promotor de Justiça Frederico Magalhães.”Indispensável e fundamental o trabalho de levantamento e análise do NCyber, que possibilitou o sucesso de toda a equipe”, afirmou.
De acordo com o promotor de Justiça natural do caso, José da Costa Soares, “levar o presente feito ao seu desfecho, mesmo passados mais de 21 anos, é uma resposta à barbaridade do crime praticado e à memória de Maria Aparecida”.
O Ministério Público informou que agora aguarda a decisão judicial que “apreciará o pedido de admissibilidade para julgamento do acusado em plenário.”