O caos sanitário de Manaus, capital do Amazonas, onde há déficit de cilindros de oxigênio para os pacientes graves com Covid-19 nos hospitais, e pessoas têm sido transferidas para outros estados para não morrer sem ar, trouxe novamente ao centro do debate o enfrentamento à pandemia da Covid-19 adotado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) e levou de forma intensa ao Planalto o desgaste da pandemia.
Nesta sexta-feira (15), inclusive, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), abordou a possibilidade de impeachment. “Acho que esse tema é um tema que, de forma inevitável, certamente será debatido no futuro”, afirmou em entrevista à imprensa no Palácio dos Bandeirantes, ao lado do governador João Doria (PSDB) e do candidato à presidência da Câmara Baleia Rossi (MDB-SP). Maia voltou a afirmar que ainda não pautou o impeachment por conta da pandemia. “”Não foi avaliar ou deixar de avaliar o impeachment. Foi compreender que o enfrentamento à pandemia é a prioridade de todos nós. […] Qualquer decisão sobre impedimento hoje, com perdas de vidas, é nós tirarmos o foco daquilo que é fundamental, que é tentar salvar o maior número de vidas”, afirmou.
Bolsonaro, por sua vez, disse que o governo fez sua parte para evitar o colapso de Manaus. “Problemas. A gente está sempre fazendo o que tem que fazer. Problema em Manaus. Terrível, o problema em Manaus. Nós fizemos a nossa parte. Recursos, meios. Hoje, as Forças Armadas ‘deslocou’ para lá um hospital de campanha. O ministro da Saúde esteve lá segunda-feira e providenciou oxigênio”, afirmou.
A crise de Manaus trouxe de volta os panelaços contra o presidente, que marcaram o primeiro semestre de 2020. O apresentador Luciano Huck, cotado para ser candidato à presidência em 2022 convocou a manifestação em suas redes sociais, sendo seguido por outras celebridades. Também por rede social, o vereador Carlos Bolsonaro (Rep-RJ) ironizou a convocação de panelaços postando um vídeo de um homem batendo numa panela com um pênis de plástico.
Panelaço
Os panelaços ocorreram em várias capitais do Brasil, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Belo Horizonte. No Recife, há registros nas redes sociais de manifestações na Zona Sul e na Zona Norte. “Panelaço por mais de 10 minutos no Parnamirim, zona norte do Recife. Por essa eu não esperava”, afirmou o usuário do Twitter Rodrigo Cunha. “Panelaço pesado em Boa Viagem, no Recife. Mesmo local que, literalmente, soltou fogos quando Bolsonaro se elegeu”, relatou o usuário do Twitter Maurício Penedo.
Análise
A professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda Priscila Lapa crê que a proporção do que ocorre em Manaus “torna a situação difícil para o presidente”. “Gera a percepção de que nada que o governo está fazendo é suficiente. Estamos vivendo uma segunda onda pior e mais grave, com as pessoas saturadas do tema. A chance de insatisfação com o presidente é muito maior”, afirma. Ela pondera, porém, que o impeachment não encontra lastro para se consolidar. “A sociedade volta a cobrar, mas é difícil ganhar prosseguimento na Câmara. O Centrão não tem uma concertação política clara, a eleição da Câmara agora vai deixar mais claro se um pedido de impeachment teria força ou não para passar”, frisa.
Blog da Folha