“Quer estacionar?”, pergunta Pedro Henrique Machado, 23 anos, em pleno centro de Porto de Galinhas, em Ipojuca, principal destino turístico de Pernambuco. Em meio à pandemia do novo coronavírus, turistas e moradores continuam circulando na praia, bares e restaurantes. Lojistas ainda abrem seu comércios. Em quase duas horas no centro da cidade, a reportagem do Diario flagrou quatro guardas municipais com máscara, além de uma banhista, que também usava luvas. No acesso à Porto pelo pedágio, as máscaras e luvas usadas pelos funcionários avisam que a Covid 19 pede restrição. O último boletim aponta que Ipojuca tem dois casos suspeitos. Nenhum confirmado.
Pedro disse não ter outra fonte de renda para sobreviver e custear a família, formada pela mulher e um filho. “Se a coisa apertar, vou para o alto-mar pescar para comer.” Pedro ajuda a estacionar carros e leva turistas para restaurantes. Ganha cerca de R$ 250 por semana. “Eu tenho medo de pegar a doença, mas se eu não trabalhar, não como”, disse. No bolso, guarda uma máscara. O álcool em gel ele consegue no contratante de seu serviço. “A maioria dos gringos já foi embora. Temos mais turistas de São Paulo e Bahia.”
Os turistas Camila Diniz, 25, e Vinícius Fernandez, 30, chegaram a Porto vindos de São Paulo na sexta-feira. Deixam a praia nesta quinta-feira. A precaução com a Covid 19 somente surgiu agora para o casal. “Estamos indo comprar máscaras e álcool em gel para usar no aeroporto. Por aqui deu para a gente se divertir. Não ficamos com medo de contaminação porque não sabemos de nenhum caso”, disse Vinícius.
Sob a justificativa de ser um ambiente aberto, a praia de Porto segue procurada. “Na praia a gente entende que dá para se divertir. Dá para aproveitar, mas evitando aglomeração”, disse o turista Erivaldo José da Rocha, 43, acompanhado da mulher, Jarlene da Rocha, 27,ambos de Cuiabá. O transporte de turistas nos buggies também parece normal. “Para mim, tudo continua a mesma coisa. O passeio não caiu. Não tô com medo da doença. Vejo televisão direto e acho que aqui não vai afetar”, disse Eliel Silva, 38 anos, há vinte trabalhando na praia.
No restaurante, Carol Vasconcelos optou por reduzir a carga horária dos seus funcionários e investir na limpeza e conscientização. “A gente está seguindo o decreto do estado. Também estamos conscientizando sobre a necessidade de afastamento das mesas e limpeza. Mas parece que a população, de forma geral, ainda não está entendendo porque está todo mundo na rua”, comentou. Segundo ela, há pessoas preocupadas com o estoque adquirido para negociar. “Tenho dito que estamos em uma pandemia e que depois tratamos da questão da isenção de imposto, do adiamento de pagamento. O turismo já está diminuindo naturalmente e temos orientado turistas a ficarem nos hotéis e pousadas.”
Bernadete Freitas, moradora e dona de imóveis para aluguel na região, disse que já se confinou em casa por conta da pandemia. “Acho um absurdo as pessoas continuarem nesse movimento na rua. As normas tinham que ser uma só para o país todo e não por município. Vivo do turismo, mas essa não é a hora de estar fora de casa.”
Ontem, a Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde de Ipojuca solicitou à prefeitura o Plano de Contingenciamento para o coronavírus. O plano deve mostrar as medidas que serão adotadas para a prevenção e controle da pandemia. “O MPPE está acompanhando com a Procuradoria do Município as medidas adotadas quanto ao funcionamento dos serviços públicos básicos, nos setores de saúde e patrimônio público, bem como acompanhando as notificações dos casos suspeitos da contaminação pelo vírus. Considerando ainda que se trata de um município que costuma atrair turistas do mundo inteiro, a prefeitura ainda deve informar ao MPPE sobre as medidas administrativas a serem adotadas para evitar aglomerações que favoreçam a proliferação da doença e, assim, sobrecarregar os serviços de saúde municipal, diz uma nota encaminhada à imprensa,
Na segunda-feira, a prefeitura anunciou medidas preventivas contra possíveis casos da Covid 19 e, ontem, fez atualizações no documento. Entre as medidas, está a suspensão das aulas a partir da quarta-feira passada, proibição de eventos com público superior a 50 pessoas, cancelamento da Paixão de Cristo, de viagens de servidores e funcionamento diferenciado das repartições públicas. Entre as medidas mais recentes, a determinação de apenas dez passeios de jangada, com redução de seis para quatro passageiros, sendo uma pessoa em cada banco, no período máximo de 40 minutos. No caso de fila para embarcar, a distância entre as pessoas deve ser de dois metros. Antes eram realizados cerca de 80 passeios de jangada. Também fica estabelecido o total de no máximo 50 pessoas por área nas piscinas naturais.
Um pronunciamento do governador Paulo Câmara, no início desta tarde, deve modificar totalmente as condições do turismo em Porto a partir de sábado. Ele determinou o fechamento de shoppings, bares e restaurantes e comércio de praia, o que afeta de forma drástica o destino turístico do litoral sul e a renda de milhares de pessoas que não têm outra fonte de sobrevivência. Neste momento, a ordem é sobreviver primeiro à Covid 19.
Diario de Pernambuco