Por Marcelo Rodrigues
Estamos vivenciando, nos últimos anos, novas modalidades de moradias nas cidades brasileiras, no que pese o aumento pelo interesse por modelos alternativos de habitação, como o cohousing (habitação colaborativa) e o co-living (moradia compartilhada). Esses conceitos não são novos em outros países e, em nosso território, com o crescimento exponencial da população acima de 60 anos e os altos preços dos imóveis, levam as pessoas a buscarem alternativas que promovem a convivência e a colaboração entre os moradores, oferecendo resultados arrojados para desafios urbanos como envelhecer ativamente contra a solidão, a carência de espaços e os altos gastos com a moradia.
O cohousing é um exemplo que abrange e prepara para as comunidades intencionais, onde os habitantes partilham áreas comuns, como cozinhas, jardins e salas de estar, mantendo seus domicílios individuais. Ademais, podem fazer parte desses espaços serviços básicos como farmácia, padaria, cabeleireiro, tudo aberto à comunidade externa. Dessa forma, o acerto dessa modalidade de morar estimula a interação social, contribui na construção de laços entre as pessoas, cooperando para uma vida comunitária mais rica e intensa.
No Brasil, projetos de construção de cohousing têm se espalhado em várias cidades, instigando pessoas que buscam resguardar a autonomia e a individualidade por serem idosas, prevenindo também a imposição limitadora que caracteriza as instituições de longa permanência (asilos), onde prevalece o vazio generalizado e que maltrata pelo eminente fim, sendo possível perceber a preocupação com o suprimento das carências e limitações do público-alvo.
Por outro prisma, o co-living, que era até então para estudantes e jovens profissionais, no estágio atual de evolução das moradias, vai além e engloba muitos outros fatores – como um senso de comunidade, sustentabilidade e economia colaborativa, uma mistura entre morar de forma mais barata e ter uma convivência razoável com pessoas. Assim, por uma quantia justa, é viável possuir um cômodo individual e dividir espaços comuns. Dessa maneira, inúmeras pessoas estão partilhando dessa forma de conviver, e assim, o co-living tornou-se uma solução atraente e eficaz, e é nesse padrão de moradia onde se oferecem recintos privativos menores e espaços compartilhados, a exemplo de cozinhas, salas de estar e até espaços de trabalho, criando uma comunidade dinâmica, onde os moradores podem construir novos relacionamentos e trocar experiências vivenciadas.
Um e outro modelo apontam benefícios que vão além da economia financeira. Eles oportunizam a sustentabilidade ao despertar o compartilhamento de recursos, como utensílios domésticos e os lugares destinados ao lazer. Outrossim, essas moradas auxiliam na construção de redes de apoio e assistência entre os residentes. A confraternização entre as diversas gerações, especialmente no caso do cohousing intergeracional, pode incentivar a vida comunitária e criar um ambiente bem mais inclusivo.
Contudo, a instalação de projetos de cohousing e co-living no Brasil ainda enfrenta vários desafios, como a regulamentação urbana, a disponibilidade de terrenos e a relutância em aceitar novas maneiras de construir habitações, que podem dificultar essas iniciativas. É essencial que construtores, arquitetos e urbanistas criem políticas de incentivo a esses modelos de moradia, viabilizando cidades mais humanas e solidárias.
Por fim, o cohousing e o co-living são respostas inovadoras às necessidades atuais de moradias em nossas cidades. Ao estimular o compadrio e a cooperação, esses exemplos não apenas contribuem para o enfrentamento dos desafios econômicos e sociais, mas apontam uma nova forma de viver juntos de maneira mais harmoniosa, pois têm a capacidade de converter a maneira como nos comunicamos com o espaço urbano e uns com os outros.
Marcelo Augusto Rodrigues, é advogado especialista em direito ambiental e urbanístico, ex-Secretário de Meio Ambiente do Recife, e sócio proprietário do escritório de advocacia Marcelo Rodrigues Advogados.