Por Herlon Cavalcanti
Vivemos um momento e singular em nossa história, que se faz necessário refletir sobre a realidade em que estamos inseridos e nosso papel como sujeitos históricos na construção de um novo projeto de sociedade. Em todo mundo levado pelo modismo do neoliberalismo se assiste a fragmentação da solidariedade humana, a coisificação dos indivíduos, a morte dos sonhos, das utopias e a inversão e alienação do significado de justiça,ética, paz, igualdade e liberdade.
Em tais circunstância as aparências se sobrepõem à essência, “o real” é uma construção e uma maquinação distorcida da verdade. Nesse mundo de fantasia e fantasmagórico, no qual o simplismo, o banal, o medíocre e o fútil se generaliza, torna-se o ambiente ideal e propício para entender o quadro político e eleitoral, onde a demagogia dá o tom, o populismo deita raízes e o clientelismo molda o enredo da tragédia.
As eleições no Brasil condensam os mais diversos estilos de mandonismo, vivenciados neste 514 anos de história. Nos quais se formou uma cultura política como espaço para poucos que são endinheirados. O financiamento de campanha dita as regras do jogo, que tem mais leva tudo. Durante toda a campanha eleitoral se fala no povo, quando eleitos, governam para os financiadores. Os governos municipais, estaduais e o federal, são loteados entre os financiadores e governa para eles.
No processo eleitoral os candidatos, mostram-se seres divinizados, sérios, honestos, perfeitos, competentes, altivos, austeros e imaculados, os salvadores da pátria, defensores dos pobres e dos oprimidos e protetores dos velhos e das criancinhas. Vale tudo para se iludir e enganar o povo. Programa de campanha e promessa são mera peças de ficção. O povo em uma mistura de extasse,delírio, transe e histeria coletiva, deixa de lado qualquer princípio de cidadania e comporta-se como um fanático torcedor de torcida organizada.
Se durante a campanha tudo era possível, todos os problemas tinham solução e todos os desafios seriam equacionados. Depois de eleitos, falam das dificuldades que encontraram, da herança maldita que receberam, da crise por que passa a sociedade, e de poucos recursos para se realizar as promessa de campanha. Criam-se culpados, descobrem-se inimigos e conspiradores por todos os lados. As reais intenções de seu governo, dos grupos econômicos que lhe dão sustentação e da própria incompetência administrativa, são ocultadas através de uma poderosa, milionária e massificadora campanha midiática que invade o cotidiano e o imaginário social, entorpecendo as mentes e anestesiando o senso crítico da população.
Por esse caminho, o coronel é transformado em Estadista, sua incompetência em sucesso, as práticas clientelistas transformar-se em “participação popular” e o fisiologismo em políticas sociais. Para os movimentos sociais/populares e partidos de esquerda só existe dois caminhos, cooptar os dóceis e oportunistas e tentar desqualificar, difamar e sufocar os que são críticos e oferecem resistência.
Entre os vários casos, a luta dos trabalhadores em educação em Caruaru, merece um capítulo a parte nesta história. Vejamos: Durante a campanha eleitoral se falou de uma Caruaru brilhante, pulsante, harmônica sem contradições, uma vitrine para Pernambuco, para o nordeste e para o Brasil. Diariamente se dizia, O Nordeste cresce mais que o Brasil, Pernambuco cresce mais que o Nordeste e que Caruaru crescia mais que Pernambuco.Ou seja, nenhuma unidade da federação crescia mais que Caruaru, nossa cidade era o mirante, o farol do desenvolvimento, a Dubai do Brasil. Graças a nosso gestor, graças ao “governo das parcerias”.
Dizia-se que em 2013, após ter liquidada tal herança maldita, Caruaru chegaria o um novo patamar de desenvolvimento. O novo mandato , não seria um governo de continuidade, mais um novo governo que teria seus paradigmas centrados em cinco eixos: Modernidade e eficiência administrativa, Transparência, Diálogo e Participação popular. Em fim depois de ter vencido as forças do mal, Caruaru chegaria a século XXI.
A distância entre o discurso da campanha eleitoral, reiterado na posse dos eleitos veio por terra dia 30 de janeiro de 2013. Quando vereadores eleitos são convocados em regime de urgência para a provarem o reajuste do salário mínimo para os servidores. A farsa foi montada, o engodo servido. O propósito real do governo foi aprovação de o novo plano de cargos e carreira para os trabalhadores da educação do município. O método, o conteúdo, a forma e o estilo, deu a dimensão da qualidade do “choque de gestão” que o governo municipal pretendia impor aos professores e em seguida a sociedade caruaruense.
O P.C.C, foi assinado e aprovado por unanimidade, sem debates, questionamentos ou qualquer participação dos trabalhadores em educação, da comunidade a acadêmica e muito menos da sociedade civil.O pior a elaboração do PCC se deu na surdina, em pleno calor da campanha, enquanto o prefeito glorificava o modelo de educação municipal, exaltava seu compromisso com os educadores, ao mesmo tempo que a grande maioria dos educadores enchiam as rua e as praça defendendo o nome do Prefeito atual.
A aprovação do PCC, não é apenas um ato autoritário e arbitrário, ele expressa em sua essência brutal ou simbólica a realidade política que vivemos em Caruaru:
1º – Com a aprovação do PCC, caiu a máscara e toda retórica democrática exibidas pelo prefeito, mostrou que a nova cultura política era simplesmente um marketing eleitoral e o orçamento participativo e a secretaria de participação social, uma peça de ficção;
2º – Mostrou que a câmara municipal não exerce qualquer função constitucional de poder independente e autônomo, passou a um poder tutelado pelo executivo. Que vereadores aprovam projetos de relevância social sem ler e muito menos questionam o que assinam;
3º Que a figura de Secretário de educação é mera figuração, não ordenam despesas, não fazem nomeação e muito menos participam de projetos e negociações que envolvem sua pasta;
4 º Que o Ministério público, é desrespeitado cotidianamente pelo o poder executivo os termos de ajuste de conduta são tratados pelo executivo municipal, como algo sem qualquer significado e importância, jurídica e social;
5º Que a justiça nesse país não conseguiu romper a relação entre a Casa Grande e a Senzala, pois tende a criminalizar os movimentos sociais em sua morosidade, inoperância e beneficiar o capital e os poderosos em sua rapidez e eficiência;
A greve dos professores e sua vitória ética e moral sobre a tirania e o arbítrio, mostra o caminho e as formas de luta que a sociedade caruaruense deve trilhar para superar o atraso político e social que foi jogada e construir um espaço democrático em que a cidadania seja o eixo pela a qual se concebe a cidade e seus cidadãos.
Herlon Cavalcanti é da direção do PCB em Caruaru