O STF precisa de um novo membro que ajude a lhe restaurar a credibilidade

Por Maurício Rands

O ministro Stephen Breyer, da Suprema Corte dos Estados Unidos, em seu recente livro  (“The Authority of the Court and the Peril of Politics”, 2021), reconhece que parte da opinião pública americana acha que os membros da corte atuam como se fossem políticos de toga, nomeados por critérios políticos e autores de decisões que seguem alinhamento político-partidário. E sugere soluções para que a autoridade da corte seja recuperada. Todas na direção de que as decisões sejam percebidas como de autoria de juízes imparciais, justos, competentes e equilibrados.

No Brasil polarizado, a confiança no STF, que já não era alta, também se tornou muito baixa. Uma pesquisa da Quaest, de 31/07/2022, coloca o STF entre as instituições menos confiáveis para os brasileiros (16% confiam; 45% confiam pouco; 33% não confiam; e 7% não sabem). Apenas os partidos e o parlamento tiveram índices piores. Além das razões do ambiente polarizado, existem razões internas para a má imagem do STF, que decorrem da própria conduta de seus ministros. Da oscilação de suas decisões. Da percepção de que elas decorrem de disputas políticas e de intrigas internas. Do recorrente afastamento dos parâmetros do texto constitucional. Do exibicionismo e dos interesses individuais.

Para recuperar a credibilidade, nosso STF vai precisar de reformas e de mudanças atitudinais. A começar pelo mecanismo de nomeação de seus membros e pelo fim da vitaliciedade. Seus integrantes atuais deixam muito a desejar quanto ao saber jurídico, ético e institucional. Nomeados que foram depois de sabatinas de mentirinha. O país tem saudades da altivez e elevado conhecimento jurídico de ministros do porte de Vítor Nunes Leal, Evandro Lins e Silva, e Hermes Lima, cassados pelo Regime Militar em 1969. Ou de ministros como Gonçalves de Oliveira e Antônio Carlos Lafayette de Andrada, que abandonaram o colegiado em protesto contra as cassações. As decisões do STF precisam ser percebidas como adotadas em respeito às normas da Constituição. Precisam deixar de ser tomadas monocraticamente, como se existissem 11 “Supremos”. Precisam ser consistentes ao longo do tempo, fruto de construção jurisprudencial sólida. Precisam respeitar a competência dos demais poderes. E precisam obedecer a uma pauta que reflita os anseios nacionais, mais do que o capricho do “poder da pauta” do presidente de suas turmas ou do pleno.

O país saiu das últimas eleições ainda muito dividido. Mas a vitória de Lula, em ampla coalisão, sinaliza que, pela maioria, os brasileiros escolheram determinados valores e uma certa direção nas políticas públicas. Optaram por democracia, desenvolvimento econômico, redução da pobreza e da desigualdade social, e por uma boa governança que aumente a eficiência do estado e o liberte da corrupção e da sua captura por interesses privados e corporativos.

A escolha do presidente Lula para a vaga do ministro Lewandowski deveria recair em alguém que esteja sintonizado com esses objetivos que prevaleceram nas últimas eleições. Alguém que compreenda as necessidades de recuperação da legitimidade, credibilidade e qualidade do STF. Que tenha notável saber jurídico de verdade. Alguém cuja competência jurídica tenha sido comprovada por publicações de livros e ensaios respeitáveis, por titulação acadêmica ao nível de doutoramento, por larga experiência na magistratura, na advocacia (pública ou privada) ou na academia. Alguém que não reproduza a magistrocracia e a promiscuidade hoje reinante em Brasília, com parentes de ministros praticando a advocacia de influência para clientes poderosos.

Alguém que restaure a percepção de que a justiça é igual para todos, ricos e pobres, dotados de conexões poderosas ou não. Que seja impermeável aos grandes lobbies. E que saiba resistir às ondas efêmeras da opinião pública, a fim de exercer o papel contramajoritário quando for necessário para preservar as garantias fundamentais até mesmo contra investidas do próprio Judiciário.

Alguém que não sonhe em se tornar celebridade. Alguém que não se seduza pelas viagens e eventos patrocinados por jurisdicionados de grande poder econômico. Alguém com real estatura ética e respeitabilidade capaz de influir sobre os pares para correção dos muitos defeitos que hoje diminuem a credibilidade do STF. Embora uma nomeação tão importante não deva ser prisioneira do identitarismo, o presidente Lula fará bem em reconhecer que a diversidade de gênero e raça da sociedade precisa estar mais presente na composição do STF. E acertará se conseguir sinalizar o apreço aos princípios republicanos que não se harmonizam com escolhas por gratidão pessoal ou amizade.

Maurício Rands, advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxforde

 

Homem que jogou carro contra árvore para matar esposa, vai à Juri Popular

Foto em que uma magistrada segura o martelo usado em audiências judiciais e em juris populares realizados no Poder Judiciário

Nesta segunda-feira (10), às 9h, Guilherme José Lira dos Santos será levado a júri popular na 1ª Vara do Tribunal do Júri Popular da Capital, no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, em Ilha Joana Bezerra, no Recife. O réu é acusado de ter assassinado a ex-esposa, Patrícia Cristina Araújo dos Santos, em uma colisão de carro na Rua João Fernandes Vieira, no bairro da Boa Vista, no dia 4 de novembro de 2018. O processo referente ao caso é o de número NPU 0021504-84.2018.8.17.0001. O júri será presidido pela juíza de Direito, Fernanda Moura de Carvalho.

Na denúncia oferecida pelo Ministério Público de Pernambuco, o réu é acusado de provocar a colisão contra uma árvore com o objetivo de assassinar a vítima. Na sessão, o acusado será julgado por homicídio qualificado. As qualificadoras são ter cometido o homicídio por motivo fútil; mediante dissimulação ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima; e contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (feminicídio). A defesa do réu nega que houve intenção de matar a vítima e alega que houve apenas um acidente de trânsito, o que faria o homicídio ser culposo. Para a oitiva do julgamento em plenário, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) arrolou cinco testemunhas e três peritos criminais; e a Defesa arrolou cinco testemunhas e dois informantes.

Cobertura – Durante a sessão, será permitido o acompanhamento pela imprensa em plenário, sem necessidade de credenciamento prévio. No entanto, fica proibida a realização de filmagem dos jurados integrantes do Conselho de Sentença, do réu e das pessoas presentes no local. Não haverá transmissão em tempo real da sessão de julgamento pelo Youtube. A transmissão será feita pela Ascom TJPE através do perfil oficial da instituição no Twitter (http://www.twitter.com/TJPE_oficial).  A magistrada Fernanda Moura de Carvalho concederá entrevistas à imprensa unicamente para fornecer informações técnicas sobre o desenvolvimento da sessão de julgamento. Imagens da magistrada, dos membros do MPPE e dos advogados de Defesa serão permitidas, desde que as pessoas envolvidas autorizem expressamente aos profissionais de mídia e imprensa.

 

Inicialmente, o júri popular deste caso foi marcado para o dia 20 de março, às 9h. Foi adiado para o dia 10 de abril, porque a juíza da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, Fernanda Moura, atendeu pedido do Ministério Público e da Assistência da Acusação, após haver sido certificada por oficial de justiça, sobre a impossibilidade do comparecimento de duas testemunhas a serem ouvidas durante o julgamento, que estava programado para segunda-feira (20/3). Foi alegado, pelos pedidos, que uma das testemunhas não poderia comparecer por motivo de saúde e a outra por se encontrar fora do estado.

Rompimento de barragem provoca inundações e alagamento no Ceará

Farias Brito (CE), 09.04.2023 - Rompimento de barragem no sul do Ceará, que afeta o distrito de Cariutaba, na cidade de Farias Brito, Ceará. Foto: Defesa Civil do Ceará

O rompimento de uma barragem particular, causado pelas fortes chuvas que elevaram o nível do rio Cariús, no sul do Ceará, provocou inundações e alagamento de ruas, casas, comércios e escolas do município de Farias Brito.

Falando neste domingo (9) à Agência Brasil, o coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil do Ceará, tenente-coronel Haroldo Gondim, informou que o rompimento da barragem ocorreu no distrito de Cachoeira dos Bezerras, situado no limite com a cidade de Nova Olinda, e distante do centro do município de Farias Brito.

“Esse rompimento, juntamente com a chuva, aumentou o nível do rio de forma rápida, mas também baixou rápido. Mas, quando sobe, causa muitos transtornos, porque entra nas casas, nas escolas”.

O coordenador informou que a chuva nem foi tão intensa, atingindo somente 34 milímetros. “Choveu bem na região, mas não foi uma chuva torrencial que causou isso, não”. Segundo Gondim, o rio Cariús corta outras cidades “e já vem pegando água de outras localidades”.

Farias Brito (CE), 09.04.2023 - Rompimento de barragem no sul do Ceará, que afeta o distrito de Cariutaba, na cidade de Farias Brito, Ceará. Foto: Defesa Civil do Ceará
Rompimento afetou o distrito de Cariutaba, na cidade de Farias Brito – Defesa Civil do Ceará/divulgação

 

Não houve vítimas, nem destruição de casas. Apenas pessoas desalojadas, que tiveram perdas materiais, como móveis, disse o tenente-coronel. “Tudo isso causa bastante prejuízo e a cidade fica muito suja, com lama. Destruição mesmo não teve”. Uma equipe do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil permanece no local para ajuda à população.

Amanhã (10), Haroldo Gondim anunciou a chegada em Farias Brito de técnicos de barragem para avaliar a segurança das demais barragens particulares existentes na região e que podem causar o mesmo transtorno. “Vai ser feita avaliação onde merece ser feita”.

Segundo o coordenador estadual, existe preocupação com relação ao distrito de Cariutaba, situado na parte baixa da cidade, que já está, inclusive, com nível de águas elevado. Devido à sua localização, esse distrito recebe o excesso de água do rio que banha o restante da cidade.

Após o trabalho de mitigação da situação do município afetado, deverá se proceder à identificação do proprietário da barragem que rompeu, visando possível responsabilização.

Operação Escola Segura: Justiça pede exclusão de 270 contas do Twitter

O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) solicitou a exclusão de 270 contas do Twitter que veiculavam hashtags relacionadas a ataques contra escolas de todo o país. A informação foi divulgada neste domingo (9) pela pasta. Hashtags são palavras-chave ou termos associados a uma informação ou discussão que se deseja indexar de forma explícita em aplicativos, como Twitter e Facebook, antecedidos pelo símbolo cerquilha (#).

Segundo informou o ministério, por meio de sua assessoria de imprensa, tanto conteúdos como autores estão sob investigação. Foram cumpridos também mandados de busca, resultando na apreensão de sete armas. Um suspeito foi preso. Foi solicitada ainda que a plataforma Tik Tok retire do ar duas contas que estavam transmitindo conteúdo que incitava medo nas famílias. O trabalho foi realizado pela Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública.

Operação Escola Segura – dia 8

1) Houve solicitação para exclusão de 270 contas do Twitter, as quais veiculavam hashtags relacionadas a ataques contra escolas. Conteúdos e autores em investigação.

2) Cumpridos mandados de busca com apreensão de 7 armas e prisão de suspeito.…

— Flávio Dino 🇧🇷 (@FlavioDino) April 8, 2023
Escola segura
Os participantes da Operação Escola Segura identificaram mais de 80 perfis que tiveram seus links removidos, face à violação de política da plataforma. O conteúdo desses links foi preservado a pedido do Ministério da Justiça para que seja possível avançar nas investigações. Foram realizadas diversas ações preventivas e repressivas contra ataques nas escolas em todo o Brasil, entre as quais a busca por perfis nas redes sociais com postagens relacionadas a crimes contra a vida e discursos de ódio.

Delegacias de crimes cibernéticos das principais regiões brasileiras também monitoraram ameaças na internet relacionadas a possíveis ataques. Os dados estão sendo analisados pela equipe do Laboratório de Operações Cibernéticas (Ciberlab), do ministério, que se dedicará exclusivamente a esse trabalho nos próximos dias, em regime de plantão 24 horas. Qualquer cidadão poderá denunciar ameaças ligadas à segurança de escolas e alunos no site do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

O canal exclusivo para receber informações de casos suspeitos de ataques a instituições de ensino foi criado pelo ministério, em parceria com a SaferNet Brasil. Essa associação civil de direito privado atua na promoção dos direitos humanos na internet e, desde 2006, oferece uma plataforma online para denúncias de conteúdo ilegal ou prejudicial na rede. A organização atua como um canal direto entre os usuários da internet e as autoridades, oferecendo um ambiente seguro e confidencial para o envio das denúncias.

Nas ações que integram a Operação Escola Segura, organizada pelo MJSP em parceria com os estados, trabalham de forma integrada 51 chefes de delegacias de investigação e 89 chefes de agências de inteligência de Segurança Pública (Polícias Civis e Polícia Militar). A operação vai vigorar por tempo indeterminado, de forma contínua e durante vinte e quatro horas por dia, reunindo centenas de profissionais.

Levantamento

Desde o recente caso de ataque ocorrido na última quarta-feira (5), em escola de Blumenau (SC), em que quatro crianças morreram e, pelo menos, mais cinco ficaram feridas, o Laboratório de Operações Cibernéticas do MJSP tem apoiado o Grupo de Trabalho Interministerial no levantamento de informações sobre possíveis ameaças às escolas, por meio de monitoramento em redes sociais. Representantes da área participaram da primeira reunião do GT realizada na quinta-feira (6), no Ministério da Educação (MEC).

O Ciberlab atua em diversas frentes para combater os crimes virtuais. Para isso, o laboratório conta com uma equipe especializada em tecnologia da informação, que utiliza técnicas avançadas de investigação para rastrear a origem de crimes virtuais e identificar os responsáveis. A partir dos crescentes casos de violência em centros de ensino do Brasil, o Ciberlab também tem atuado em ações preventivas de ataque às escolas e creches brasileiras, produzindo relatórios que são encaminhados às polícias estaduais de todo o país.

Divergências com Banco Central marcam 100 primeiros dias de governo

Ao longo dos 100 primeiros dias de governo, nenhum conflito teve temperatura mais alta que o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o Banco Central (BC). Na última quinta-feira (6), em café da manhã com jornalistas, Lula voltou a declarar que os juros estão muito altos e disse que talvez seja necessário mudar a meta de inflação.

Desde agosto do ano passado, o BC mantém a taxa Selic (juros básicos da economia), em 13,25% ao ano. A reação dos membros do governo varia.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem criticado o tom dos comunicados do Comitê de Política Monetária (Copom), que não descarta novos aumentos nos juros se a inflação continuar persistente. A ata do Copom, que sai seis dias depois de cada reunião, tem saído com tom mais ameno, o que faz o governo reduzir as críticas ao BC.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem dito que a redução da Selic não é fácil porque houve um “deslocamento de demanda” em relação a bens. “A gente tenta suavizar o ciclo. A gente olha para frente. A gente entende que os juros altos causam esses impactos na parte produtiva. A gente tenta suavizar isso, porque o nosso trabalho é fazer isso na forma que cause o mínimo de dano possível a economia”, destacou o presidente do BC em apresentação nesta semana a um banco de investimentos.

Postura

A postura do governo em relação ao Banco Central divide os especialistas. Para o professor do Departamento de Economia e de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Nassif, as críticas são acertadas porque a atuação do BC impede a retomada econômica. “Eu me sinto um pouco desapontado em relação aos 100 primeiros dias. Não em relação ao governo Lula em si, mas porque existem travas institucionais, principalmente por parte do Banco Central, que reduzem a autonomia do governo para fazer uma política que gere empregos”, diz.

Professora emérita de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Virene Matesco contesta e diz que a postura da autoridade monetária é acertada. “Qualquer outra política para combater a inflação fora da política monetária [aumento de juros] é paliativo. Quando o presidente Lula fica batendo no Banco Central, ele só piora a situação. Que a presidenta do PT fale é uma coisa, mas o presidente da República falar é outra coisa”, critica.

Segundo ela, cada declaração de Lula contra a política monetária provoca turbulências no mercado financeiro. “É como se o presidente estivesse pagando [por meio de oscilações no dólar e nos juros futuros] para criticar o Banco Central”, compara.

A divulgação do novo arcabouço fiscal parece ter distendido as relações. Na última quarta-feira (5), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse ter uma avaliação “superpositiva” das novas regras e declarou que o futuro marco fiscal evitará o descontrole da dívida.

Paralelamente, o governo tem o poder de indicar dois novos diretores do BC cujos mandatos acabaram em 28 de março pela lei de autonomia do BC. Titular da diretoria mais importante, a de Política Monetária, Bruno Serra já foi exonerado. O diretor de Fiscalização, Paulo Sérgio Neves de Souza, pode ser reconduzido.

Emprego e renda

Para os próximos meses, o governo tem vários desafios. O principal é a aprovação do novo marco fiscal pelo Congresso sem grandes mudanças. A equipe econômica também terá de contar com a aprovação das medidas que revisam ou revertem incentivos fiscais concedidos há décadas para garantir as receitas necessárias para cumprir o novo arcabouço.

Enquanto o governo está em compasso de espera, a economia sente os efeitos da desaceleração. A criação de empregos com carteira assinada nos dois primeiros meses do ano atingiu o nível mais baixo para o período desde 2020. A taxa de desemprego, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, caiu para 8,6% no trimestre encerrado em fevereiro, mas o recuo deve-se à criação de vagas com baixos salários.

No curto prazo, dizem os especialistas, a única alternativa para destravar o mercado de trabalho depende da retomada dos investimentos públicos. “As obras públicas são um importante motor para contratar trabalhadores no curto prazo. Uma saída é a retomada de obras paradas, principalmente de creches. Além de amenizar o problema de emprego, as creches têm uma função social e ajudam mães que querem trabalhar fora e não conseguem”, diz Matesco.

Nassif é mais pessimista e diz que os investimentos para gerar empregos dependem, neste momento, da queda de juros. “Não há outra solução que não passe pela redução dos juros o mais rápido possível. A inflação no Brasil não é de demanda, mas de choques nos preços de combustíveis e de alimentos provocados pela retomada da economia global no pós-pandemia e a guerra na Ucrânia”, declara.

Para esta semana, está previsto o relançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do novo marco das parcerias público-privadas (PPP). Em relação às obras paradas, o governo lançou a plataforma Mãos à Obra, por meio da qual governos locais informam projetos interrompidos num banco de dados.

Lula defende atuação conjunta de governos para evitar novas tragédias

Trizidela do Vale sofre enchentes após fortes chuvas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que é preciso “tentar convencer” moradores de regiões atingidas por enchentes de que não é possível construir novas casas nos mesmos locais. Neste domingo (9), Lula sobrevoou áreas inundadas na região de Trizidela do Vale e Pedreira e visitou um abrigo em Bacabal, municípios do Maranhão que são afetados por chuvas intensas.

“Está aqui o ministro das Cidades [Jader Filho] me ouvindo. Nos projetos de construção de novas casas precisamos convencer as pessoas que não é possível construir uma casa no lugar que a gente sabe que vai dar enchente”, disse Lula, em coletiva de imprensa ao lado de ministros e do governador do Maranhão, Carlos Brandão, no Aeroporto Regional de Bacabal.

A visita também foi acompanhada do ministros da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino; e do ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta; além de parlamentares maranhenses e prefeitos de cidades atingidas.

“Em 2009 eu vim aqui em Bacabal numa cheia, a Roseana [Sarney] era governadora e eu estive aqui no mesmo rio, na mesma enchente. É uma demonstração de que quando moramos perto do rio não tem jeito não, vai sofrer enchente quando a chuva for demais”, completou o presidente.

Lula viaja para a China na próxima terça-feira (11), mas disse que não poderia ir para outro país, sem visitar os estados que estão sofrendo com as enchentes. Ele citou também o Ceará, onde 19 municípios decretaram situação de emergência e um decretou calamidade pública.

“Vim para fazer aquela visita de conforto às pessoas que estão passando necessidade. Eu já morei em bairros que enchiam d’água e não era pouco. E a gente ficava disputando espaço com barata e rato e a chuva ia embora e tinha que ficar tirando lama com sanguessuga pegando nas canelas. Eu sei o que esse povo passa, deixar suas casas, seus móveis, às vezes não tem tempo de tirar, perde tudo o que tem, perdem geladeira, fogão, cama, colchão”, lamentou Lula.

No Maranhão, mais de 7,5 mil famílias estão desabrigadas e 35 mil afetadas pelas inundações nos 64 municípios do estado em situação de emergência. Desse total, o governo federal fez a homologação de 53.

Com o reconhecimento da situação de emergência ou de calamidade pública, que é um caso mais grave, os municípios afetados podem receber verbas federais por meio do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

Na semana passada, um decreto de emergência do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, repassou o valor de R$ 3,8 milhões para ajuda aos municípios. Até o momento, o Governo Federal aprovou mais de R$ 12 milhões para auxílio. Lula comentou que todo auxílio tem ajudado às famílias.

“As pessoas pedem colchão, as pessoas pedem botijão de gás, as pessoas pedem qualquer coisa para dar um certo conforto, coisa que o governo pode fazer. Essa junção entre o governo federal, governo estadual e os governos municipais é obrigatória”, disse o presidente.

Por causa das chuvas, a prefeitura de Trizidela antecipou as férias dos estudantes de julho para abril, já que cinco escolas estão alagadas e outras sete servem de abrigo. De acordo com a prefeitura de Bacabal, as famílias da região começam a ser afetadas quando o rio Mearim, que corta a região, ultrapassa o nível de 6 metros acima do normal. Nesse final de semana, o rio ultrapassou 8,3 metros acima do nível normal.

A cidade maranhense de Buriticupu também decretou estado de calamidade pública. A 395 quilômetros de São Luís e com cerca de 72 mil habitantes, o município é assolado por voçorocas, fenômeno geológico que cria crateras gigantes. Segundo as autoridades maranhenses, algumas fendas chegam a medir 600 metros de extensão e 70 de profundidade.

O governo federal ainda trabalha, junto com as equipes de defesa civil, na ajuda humanitária às famílias, com distribuição de água, cestas básicas, colchões e material de higiene.

Desde março, seis mortes foram registradas por causa das fortes chuvas e comunidades inteiras estão isoladas. Em todo o estado, nove rios, além de riachos e açudes, transbordaram.

Lula afirmou ainda que é obrigação dos governantes atuarem em conjunto nessas situações. “Não é possível esse país dar certo se não tiver uma combinação entre prefeitos, entre governadores e entre presidente da República”, disse, e concluiu “é obrigação moral, política e ética cuidarmos dessa gente que sofre e que precisa de nós”.

Alerta
Bombeiros e Defesa Civil também percorreram comunidades ao longo do Rio Itapecuru, que corta o Estado, para alertar os moradores da região. É que o nível do rio subiu em várias cidades, atingindo a cota de inundação desde o início do mês, como é o caso de Itapecuru Mirim, Cantanhede e Codó. De acordo com o Serviço Geológico do Brasil, o nível das águas na cidade de Itapecuru Mirim ultrapassou os 15 metros acima do nível normal na semana passada.

PF vai investigar atuação interestadual de grupos neonazistas

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flavio Dino, informou, nesta quinta-feira (6), que determinou a instauração de inquérito pela Polícia Federal (PF) para investigar a atuação interestadual de organismos nazistas. A medida foi anunciada em publicação nas redes sociais.

“Assinei agora determinação à Polícia Federal para que instaure inquérito policial sobre organismos nazistas e/ou neonazistas no Brasil, já que há indícios de atuação interestadual. Há possível configuração de crimes previstos na Lei 7.716/89”, anunciou o ministro.

A lei prevê punição para os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

A determinação ocorre após ataque a uma creche em Blumenau (SC), onde um homem invadiu a unidade, matou e feriu crianças. Na semana passada, uma escola em São Paulo também foi alvo de um atentado e uma professora foi morta.

No mês passado, o massacre na escola Raul Brasil, em Suzano (SP), completou quatro anos. O crime resultou na morte de sete pessoas e os autores, que eram ex-alunos da instituição de ensino, se suicidaram após a tragédia.

De acordo com as investigações, os autores do crime eram ativos em fóruns da internet, onde predominam os discursos de ódio misóginos, supremacismo branco, bullying e nazismo. Esses discursos continuam reverberando entre a juventude.

Um relatório com diagnóstico desse tipo de violência nas escolas e possíveis soluções foi elaborado na transição do governo Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2022, intitulado “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental.”

O documento mostra que no Brasil – desde a primeira década dos anos 2000 – houve 16 ataques em escolas, dos quais quatro no segundo semestre do ano passado, com 35 mortos e 72 feridos.

Ontem (5), o governo se comprometeu com ações de promoção à cultura de paz e não violência na sociedade e instituiu Grupo de Trabalho Interministerial para propor políticas de prevenção e enfrentamento da violência nas escolas. O ministro Flávio Dino também anunciou a liberação de R$ 150 milhões para ampliar as patrulhas escolares em todo o país.

Política de drogas causa extermínio de jovens negros, diz pesquisadora

Mulheres presas acusadas de tráfico de drogas são na maioria negras e com poucas oportunidades de estudar, diz a pesquisadora Dina Alves que analisa as condições de mulheres encarceradas.

“A política de drogas é instrumento de extermínio da juventude negra. Porque são jovens e são negras. São mulheres que nem sequer tiveram a oportunidade de acessar a universidade”, enfatiza.

Para a pesquisadora, a forma como está estabelecido o combate aos mercados ilícitos de drogas é uma maneira de perseguir populações sem oportunidades. “Se as mulheres negras que estão encarceradas compõem o mesmo perfil de mulheres negras fora do sistema prisional que estão desempregadas, que são mães com mais de um, dois ou três filhos, que exercem função muitas vezes de subemprego – de empregada doméstica, de babá, de faxineira ou de vendedoras ambulantes – elas já estão em um lugar de vulnerabilidade”, aponta.

Perseguição a negras e periféricas
Essas mulheres são atingidas ainda, segundo Dina, pela forma como as ações que têm como pretexto o enfrentamento ao tráfico de drogas são direcionadas a determinadas comunidades.

“As mulheres que são acusadas de tráfico com penas muito severas sobre os seus corpos, não exerciam nenhuma função de gerência no microtráfico de drogas. Muitas estavam no varejo ou exerciam um lugar de aproximação ao que se chama de tráfico. Porque elas já moram em comunidades criminalizadas como lugar de produção do tráfico”, acrescenta.

Como marco nesse processo, a pesquisadora destaca a promulgação da lei de drogas de 2006, que estabeleceu penas mais duras às pessoas acusadas de tráfico. Essa mudança, na visão de Dina, faz parte de um recrudescimento da repressão a nível global que aconteceu a partir da década de 1990.

“Desde que a lei foi promulgada, a gente vê um alarmante crescimento de mulheres encarceradas sob a justificativa que são perigosas traficantes de drogas”, diz. “De 2000 a 2016, se a gente for fazer esse recorte, foi um crescimento de 525% – encarceramento de mulheres”, acrescenta.

O fato dessas prisões atingirem, na grande maioria, pessoas negras, é, na avaliação da pesquisadora, um reflexo do racismo que descende do regime escravocrata brasileiro, que vigorou legalmente até 1888. “Se existe uma perseguição histórica contra negros e indígenas no Brasil, a gente tem que enxergar e compreender o sistema de justiça criminal como um dos braços mais expressivos do Estado de extermínio dessa população”.

Sem condenação e sem estudo
Dados do Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (Sisdepen) apontam que, em junho de 2022, estavam nas prisões brasileiras 45,5 mil mulheres. Dessas, pelo menos 29%, cerca de 13,2 mil, não tinham condenação.

As informações relativas ao perfil racial e a escolaridade só abrangem 33,3 mil das encarceradas. Nessa amostragem, o número de analfabetas, que totalizam 675, supera daquelas que tem curso superior (661). Há ainda 1,5 mil que são alfabetizadas, mas não frequentaram o ensino regular e 13,8 mil que não concluíram o ensino fundamental.

Dina alerta que é preciso ter cuidado ao fazer análises a partir das informações fornecidos pelo Poder Público, que tem sido, segundo ela, um dos principais violadores de direitos dessas populações. “A gente não pode confiar nos dados que o Estado produz sobre as suas próprias violações”, afirma.

Por isso, em seus trabalhos, ela tem optado por ouvir diretamente as pessoas afetadas. “Existem outros dados que devem também ser considerados que são as narrativas que se produzem dentro do sistema prisional, a narrativa das mulheres”, ressalta. Essas escutas embasaram o espetáculo de Dança Rés, montado pela Corpórea Companhia de Corpos em 2017.

Indulto e desencarceramento
A socióloga e cofundadora da Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas, Nathália Oliveira, defende que seja feita uma inflexão na forma como o Estado brasileiro lida com a questão das drogas.

“A gente pode ter neste ano um bom indulto de mulheres. Muitas dessas mulheres são presas por baixas quantidades, são vítimas do tráfico de drogas, não necessariamente apenas agentes de violência, como é colocado pela mídia”, diz ao defender que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promova uma anistia a mulheres presas por acusações de tráfico a partir do indulto presidencial. É costume que na época de Natal o presidente conceda perdão a grupos de pessoas condenadas.

Esse gesto poderia, na opinião de Nathália, ser um indicativo de mudança na atual política de drogas. “Precisamos desenvolver uma relação pacífica com a indústria que envolve a produção, circulação e consumo de substâncias em geral. Uma relação racional do ponto de vista da nossa sociedade. Isso é fundamental. Não faz sentido a gente ficar investindo o nosso orçamento público em uma agenda de morte em vez de investir em uma agenda de garantia de direitos”, ressalta.

A secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, Martha Machado, diz que o Ministério da Justiça não deve atuar pela mudança na atual legislação sobre o tema. “Essas decisões devem ser resolvidas ou pelo STF [Supremo Tribunal Federal] ou pelo legislativo”, diz. O ministério promoveu em março um seminário sobre os impactos da política de drogas na população feminina e lançou um edital, com inscrições até 21 de abril, para apoiar grupos que trabalham com essas pessoas.

Segundo Marta, a secretaria tem feito ações para reduzir o número de mulheres presas acusadas de tráfico. “A gente já tem uma lei que não penaliza o usuário. A gente entende que tem muito o que fazer para evitar os vieses de aplicação dessa lei. Trabalhar junto às audiências de custódia. Existe uma experiência exitosa no CNJ [Conselho Nacional de Justiça] de fomentar as audiências de custódia, de melhorar a qualidade, de trabalhar na porta de entrada do sistema de justiça criminal, auxiliando o juiz”, diz.

As audiências de custódia são o momento em que as pessoas presas em flagrante são ouvidas por um juiz para averiguar a legalidade ou necessidade daquela pessoa ser mantida privada de liberdade. Nessa ocasião, o magistrado pode optar por liberar o acusado ou determinar medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica, em substituição à prisão.

“Então, a gente tem como modelo de ter uma rede psicossocial de profissionais – psicólogos, assistentes sociais, pessoas ligadas ao sistema de saúde que, por exemplo, atendem essa pessoa antes do encaminhamento ao juiz e conseguem fazer um laudo que ajude o juiz. O laudo pode mostrar mais claramente se a pessoa é usuária ou traficante. Nessa separação a gente acha que isso é muito importante”, acrescenta a secretaria.

Dina Alves defende a adoção de uma agenda ampla de desencarceramento e de reconhecimento dos erros cometidos pela política instituída até aqui. “Um dos primeiros passos é reconhecer essa memória escravocrata, que é póstuma na memória e na existência das instituições. Reconhecer a formação política, com perspectiva racial para a sociedade. Mas, principalmente, eu acho que o cárcere precisa ser aberto na sociedade. A gente precisa falar sobre a desmilitarização da polícia como agenda urgente. E também políticas de desencareramento. Que as políticas de desencarceramento sejam efetivas”.

IEL-PE divulga seleção de estágio na área de Arquitetura e Urbanismo, em Caruaru

O Instituto Euvaldo Lodi (IEL-PE) abriu vagas de estágio para estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo, em Caruaru, no Agreste de Pernambuco. Para participar da seleção, é preciso estar cursando a partir do 3º período da graduação e ter disponibilidade para trabalhar de segunda a sábado, das 8h às 13h.

O candidato selecionado irá receber uma bolsa estágio de R$ 880 e um auxílio transporte de R$ 77. Os interessados em participar da seleção devem enviar o currículo para o e-mail caruaru@ielpe.org.br com o assunto “ARQUITETURA E URBANISMO/102198”. No currículo, deve constar o curso, o período e o turno que o candidato está estudando.

Secretaria de Obras de Caruaru combate transtornos causados pela chuva com intensificação de operações

Engajada sempre na execução de medidas que possibilitem melhores condições de vida para a população caruaruense, a Prefeitura de Caruaru, através da Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), intensificou os serviços das operações Tapa-Buracos e de Manutenção, em março, mês da ocorrência da quinta maior chuva da série histórica da Agência Pernambucana de Águas e Climas (APAC), referente à cidade.

De acordo com os dados da Siurb, no período, 300 intervenções foram feitas em relação à pavimentação asfáltica, 160 a calçamento, além de 140 no que se refere a saneamento, requalificando quase 130 vias de Caruaru. Dentre os bairros contemplados estiveram Cidade Alta, Divinópolis, Petrópolis, Centenário, Indianópolis, Vassoural, Alto do Moura, Salgado, Kennedy, Nova Caruaru, São Francisco, Nossa Senhora das Dores e Maurício de Nassau.

Somadas, as operações da Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras de Caruaru são responsáveis por reparos na pavimentação, desobstruções de redes de esgotos, limpezas de sistemas de drenagem, além de requalificações nas estruturas físicas dos espaços. Elas obedecem a um cronograma semanal, planejado de acordo com as necessidades emergenciais de cada localidade.

“A Prefeitura de Caruaru, através da Tapa-Buracos e de Manutenção, prossegue redobrando os esforços para deter os transtornos causados pelo volume grande de chuvas caído na região. Nossas equipes vêm atuando de forma emergencial nos locais mais atingidos, bem como estão dando sequência aos serviços do nosso cronograma de ações. O trabalho não para em toda a cidade”, destacou o secretário de Infraestrutura e Obras de Caruaru, Andrews Melo.

Já no que se referem a melhorias feitas em espaços públicos, 12 praças receberam manutenções no intervalo, contemplando os bairros Universitário, Nossa Senhora das Dores, Riachão, Vila Kennedy, Centenário, Cidade Jardim, dentre outros. Também no mês de março, a Siurb requalificou 20 ruas do Bairro Deputado José Antônio Liberato, com o serviço de patrolagem (recuperação de vias).