Cidades Sustentáveis no Semiárido: Integrando Verde, Azul e Cinza para um Futuro Resiliente

Por Marcelo Rodrigues

As Áreas de Infraestrutura Urbana Verde-Azul-Cinza (GBGIs) têm um enorme potencial para transformar a paisagem e a qualidade de vida nas cidades do Nordeste, especialmente nas regiões onde prevalece a caatinga, o bioma típico do semiárido brasileiro. Em um cenário de urbanização crescente e desafios climáticos intensos, soluções que integrem o verde, o azul e o cinza se tornam cada vez mais essenciais para criar ambientes urbanos mais equilibrados, sustentáveis e resilientes.

O “verde”, que diz respeito à infraestrutura verde, desempenha um papel central nesse processo. Ele inclui áreas de amenidades e jardins, que não apenas embelezam a cidade, mas também oferecem espaços de lazer, relaxamento e convivência. Em cidades do semiárido, como as que estão situadas em regiões de caatinga, a vegetação nativa, como o umbuzeiro, o xique-xique e a catingueira, pode ser incorporada a esses jardins e áreas públicas, promovendo o frescor, melhorando a qualidade do ar e diminuindo o impacto do calor urbano. Além disso, os recursos lineares, como arborização ao longo de ruas e avenidas, também ajudam a mitigar as altas temperaturas e oferecem sombra, tornando as áreas urbanas mais agradáveis para os moradores.

O conceito de “azul”, por sua vez, envolve a gestão da água e seu uso eficiente. No semiárido, onde a água é um recurso escasso e essencial, a infraestrutura híbrida para água, que combina soluções naturais e construídas, se torna fundamental. Isso inclui a captação de águas pluviais, o uso de cisternas e reservatórios, e a criação de áreas urbanas abertas que possam absorver a água da chuva. Jardins de chuva, por exemplo, são uma solução interessante para garantir que a água das chuvas seja corretamente canalizada e armazenada, ajudando a prevenir alagamentos e recarregar os lençóis freáticos. Além disso, áreas como parques e áreas verdes que integram sistemas de drenagem sustentável oferecem uma combinação de benefícios ambientais e sociais, ao mesmo tempo que ajudam a manter o equilíbrio hídrico.

O “cinza”, a infraestrutura construída, também precisa ser repensado dentro desse conceito. O planejamento de ruas, calçadas e edifícios deve integrar soluções de sustentabilidade, como a permeabilidade do solo, que permite a infiltração da água e evita alagamentos, além de usar materiais que absorvem menos calor, como pavimentos mais claros. A infraestrutura construída também inclui os parques, que, além de sua função recreativa e paisagística, atuam como espaços multifuncionais para o gerenciamento de água, captura de carbono e conservação da biodiversidade.
Uma das grandes vantagens de adotar a infraestrutura verde-azul-cinza nas cidades do semiárido é a criação de áreas urbanas abertas, que favorecem o contato com a natureza e contribuem para o bem-estar da população. Esses espaços podem ser projetados para atender a diversas necessidades da comunidade, incluindo lazer, educação ambiental e promoção de saúde. Além disso, a integração da infraestrutura híbrida para água, com soluções como sistemas de captação e reuso da água da chuva, permite um uso mais eficiente dos recursos hídricos, que são tão limitados nessas regiões.

Ao combinar o verde, o azul e o cinza de forma inteligente, as cidades do Nordeste podem se tornar mais resilientes aos efeitos das mudanças climáticas. A vegetação nativa ajuda a adaptar o ambiente ao calor intenso, enquanto a gestão integrada da água previne alagamentos e garante o uso sustentável desse recurso. A infraestrutura construída, quando planejada de maneira sustentável, contribui para um ambiente mais agradável e funcional, sem prejudicar o ecossistema local.

Em resumo, ao aplicar o conceito de infraestrutura verde-azul-cinza nas cidades do semiárido, especialmente nas áreas de caatinga, é possível criar um equilíbrio entre os diferentes elementos urbanos, promovendo espaços mais agradáveis, sustentáveis e adaptados ao clima. A inclusão de amenidades, jardins, recursos lineares, áreas urbanas abertas, parques e soluções híbridas para a água não só melhora a qualidade de vida das pessoas, mas também fortalece a resiliência das cidades frente aos desafios climáticos e ambientais. Esse planejamento integrado cria um futuro mais sustentável para as cidades do Nordeste e do semiárido, onde a natureza e a infraestrutura caminham juntas em harmonia.

  • Marcelo Augusto Rodrigues, é advogado especialista em direito ambiental e urbanístico, ex-Secretário de Meio Ambiente do Recife, e sócio proprietário do escritório de advocacia Marcelo Rodrigues Advogados

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.