Por MENELAU JÚNIOR
Pode algum ser humano enxergar o futuro? Será mesmo possível ver aquilo que ainda não aconteceu? A resposta a essas perguntas depende muito mais de crenças e superstições do que de análises científicas. Mas pelo menos num ponto a fé pode ser deixada de lado: a análise linguística.
É relativamente usual lermos em sinopses de filmes que certo personagem tem a capacidade de “prever o futuro”. Charlatães de toda espécie também andam por aí prometendo esse tipo de coisa. Entretanto, na língua portuguesa, o verbo “prever” e o substantivo “previsão” não devem estar acompanhados da palavra “futuro”. Por quê? Pelo óbvio: só se pode prever o futuro.
Como escapar, então, a essa capciosa redundância? Existem algumas maneiras. Veja que, em lugar de escrever que alguém pode “prever o futuro”, é possível dizer que esse alguém pode “prever os acontecimentos”. Com o substantivo “previsão” não é diferente: nada de sair por aí dizendo – ou, pior, escrevendo – que alguém faz “previsões para o futuro”. Basta dizer que esse alguém “faz previsões”.
A arte de escrever é também a de economizar palavras. Nesses casos, o excesso é pecado. Ninguém precisa dizer que o amigo “ainda continua” hospitalizado se ele apenas “continua” hospitalizado. Você não precisa dizer que começou a ler esta coluna “há cinco minutos atrás” se você começou a ler “há cinco minutos”. Ou seja, o cuidado com as repetições desnecessárias deve ser permanente.
Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br