Após a flexibilização do isolamento social determinado para evitar o contágio pelo novo coronavírus, o uso de máscaras vai continuar durante muito tempo. O instrumento de defesa contra a covid-19 é fundamental, especialmente para os pacientes oncológicos.
A avaliação foi feita à Agência Brasil pelo médico epidemiologista Alfredo Scaff, da Fundação do Câncer. Com o objetivo de proteger os pacientes com câncer, a instituição sem fins lucrativos criou a campanha #UmporTodos, em suas redes sociais, para captar recursos usados na fabricação de máscaras de tecidos por costureiras de comunidades do Rio de Janeiro.
O material é produzido pela organização não governamental (ONG) Pipa Social, que atua na geração de renda de 49 comunidades do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense por meio da costura e do artesanato. A distribuição de máscaras aos pacientes oncológicos é feita pela entidade filantrópica Davida – Casa do Bom Samaritano.
As doações podem ser feitas no site da Fundação do Câncer. A campanha não tem prazo para ser encerrada. “A ideia é não parar com a campanha”, reforçou Scaff. Da meta inicial de R$ 30 mil, já foram arrecadados até o fim de junho passado R$ 20 mil.
O valor das doações é investido na produção das máscaras de tecido pelas costureiras das comunidades, que têm assim uma forma extra de geração de renda. Depois de confeccionadas, as máscaras são doadas aos pacientes oncológicos em situação de vulnerabilidade social e a seus familiares. Além de doadores individuais, Alfredo Scaff pretende buscar também doações de empresas, “que podem colaborar com mais recursos” para ampliar o universo de beneficiados.
Alto risco
O epidemiologista da Fundação do Câncer destacou que os pacientes oncológicos constituem um grupo de alto risco neste momento de relaxamento da pandemia do novo coronavírus. “Este momento é muito crítico para os grupos de risco”, afirmou. Os pacientes devem continuar com o distanciamento e ficar a maior parte do tempo possível de máscara, mesmo em casa, da mesma forma que seus familiares, recomendou.
“Por causa do tratamento, eles têm a imunidade rebaixada e, caso se contaminem com a covid-19, que ataca também o sistema imunológico, pode ser uma catástrofe. Pode ser muito grave para esses pacientes”, assegurou Scaff. Segundo o médico, a máscara serve também como uma lembrança para a pessoa tomar os cuidados com o distanciamento, lavar as mãos, usar álcool gel, não ficar próximo das pessoas. “Infelizmente, até que tenhamos uma vacina ou um tratamento eficaz contra essa doença, a gente vai ter que fazer uso da máscara. Não tem outra saída”.
As máscaras já estão sendo encaminhadas para serviços que estavam mais descobertos, como o Hemorio, que trata pacientes de leucemia, e os movimentos Outubro Rosa Niterói e Unidas pela Vida, disse Scaff.
Interrupção
O médico da Fundação do Câncer alertou que os pacientes oncológicos não devem interromper os tratamentos durante a pandemia, já que se trata de uma doença tempo dependente, ou seja, “se você perder tempo no tratamento, a doença pode avançar e aí o tratamento fica muito mais dificil”. Nas visitas aos centros de referência e em outras atividades em que seja necessário ir à rua, os pacientes precisam, algumas vezes, da ajuda de familiares e cuidadores, que também devem estar protegidos pelo uso de máscaras.
A aposentada Márcia Maria Rodrigues de Souza, de 54 anos, sai de Itaipu, na região oceânica de Niterói, onde mora com seu filho de 26 anos, para continuar o tratamento de câncer de mama no Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), no centro da cidade. Em entrevista à Agência Brasil, Márcia defendeu o uso da máscara. “Ela é muito importante para a gente, tanto para não contaminar quanto para não ser contaminado. Quando as duas pessoas usam, o risco fica bem mais baixo”. Márcia lembrou que a máscara, além de proteger o rosto, evita que as pessoas fiquem levando a mão à boca ou ao nariz. “Isso é automático. Mas se você está com a máscara, você lembra que não pode tocar. É muito importante”.
Márcia fez quimioterapía entre 2018 e 2019. Após a cirurgia, ela complementa o tratamento com aplicações do remédio Herceptin e a realização periódica de exames de sangue e ecocardiogramas.
A aposentada Georgina dos Santos, de 67 anos, moradora do Morro Dona Marta, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, se desloca todos os dias a um casarão na Rua das Palmeiras, situado a cerca de um quilômetro de sua casa, onde funciona a ONG Pipa social. Ali, Georgina e outras mulheres complementam a aposentadoria com a costura.
Engajamento
A campanha está recebendo também o engajamento de artistas, como a atriz e apresentadora Cissa Guimarães, que gravou um vídeo para o facebook da Fundação do Câncer, convidando as pessoas a fazer doações.
“Todo mundo sabe como é importante o uso da máscara para conter a disseminação do novo coronavírus. E todo mundo sabe também que grupos de risco, como os pacientes de câncer, precisam se cuidar ainda mais, pois têm muito mais chances de desenvolver um quadro grave de covid-19. Por isso, convido todos a participar da campanha #UmporTodos da Fundação, que ajudar a proteger quem está em tratamento e gerar renda para quem precisa”, disse Cissa.