O uso das bicicletas como meio de transporte tem atraído mais adeptos a cada dia, em especial no verão, quando as temperaturas e o horário especial favorecem a prática de exercícios e a troca do carro pelas duas rodas. O seu uso auxilia no conceito de mobilidade urbana e também como forma de inclusão social, de redução e eliminação de agentes poluentes e na melhoria da saúde da população. Porém, para inserção nos deslocamentos urbanos faz com que seja necessária uma abordagem dentro de um plano macro que preveja integração com os demais meios e modais.
Além disso, muitas ciclovias são construídas fora dos padrões de segurança estabelecidos. Para o diretor e especialista em trânsito da Perkons, Luiz Gustavo Campos, é necessário que as políticas públicas tratem adequadamente o tema, pois enquanto os gestores não considerarem transportes não motorizados como parte do sistema e com prioridade, não haverá melhora significativa. “Precisamos ter uma infraestrutura de cidade que diminua a necessidade de viagens motorizadas. Ainda é comum vermos ciclovias com extensão limitada, com trechos que não se conectam, sem integração com os outros tipos de transportes e poucos (ou nenhum) estacionamentos seguros. Por isso, a importância de implantação de um sistema cicloviário integrado”, detalha.
A ciclovia, segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), implica na segregação física do ciclista em relação ao tráfego motorizado. São indicadas para avenidas e vias expressas, pois protegem o usuário da bicicleta da circulação rápida e intensa e podem ou não ter seu espaço compartilhado com pedestres. Para melhorar as ciclovias brasileiras é preciso sensibilizar o poder público e a sociedade para a importância do uso da bicicleta como mobilidade cotidiana, de acordo com a doutora em mobilidade não motorizada, consultora e professora, Maria Ermelina Malatesta. “Algumas medidas como a Lei Federal de Mobilidade Urbana já começaram este processo”, afirma.
Para o presidente do Clube dos Amigos da Bike, Sergio Augusto Affonso, quanto mais usadas forem as ciclovias mais elas serão melhoradas. Ele acredita que estamos no caminho correto ao investir em ciclovias e que se o poder público der continuidade aos projetos, em um futuro próximo, mais pessoas irão utilizar a bicicleta, melhorando o trânsito, o ar e a qualidade de vida, já que uma bicicleta a mais pode ser um carro a menos. “As ciclovias com certeza ajudam os ciclistas e diminuem os riscos de acidentes, pois pedalar em locais não delimitados é muito mais perigoso”, avalia.
Ciclovias internacionais chegam à maturidade enquanto no Brasil surgem os primeiros avanços
Na Eslováquia, surgiu um projeto para aperfeiçoar as vias utilizadas por ciclistas. A ação, nomeada “bikes without borders”, tem a inclusão da Áustria e da Hungria, além da ajuda de fundos comunitários. Entre as vantagens proporcionadas pelas ciclovias estão melhorias ambientais e de saúde pública, por meio do ecoturismo, já que a entrada de turistas para as três capitais passa a ser compartilhada com estas ciclovias internacionais, que interligam as localidades. A ideia tem recebido participação de outras cidades da região, que enxergaram no projeto oportunidades de melhorar seu potencial econômico.
Em São Paulo, o número de ciclistas cresceu 50% em um ano, de acordo com pesquisa Ibope. Os dados mostram que em 2014 a cidade conquistou 86,1 mil ciclistas. Em parte, o período coincide com a ampliação das ciclovias da capital paulista. Em 2013, o levantamento sinalizou que 174,1 mil pessoas utilizavam bicicletas como meio de transporte diário, um ano depois o dado subiu para 261 mil.
Já em Curitiba, recentemente foi sancionada a lei nº 14.594, chamada de Lei da Bicicleta. A nova legislação institui a bicicleta como modal de transporte regular de interesse social na capital paranaense e determina que 5% das vias urbanas sejam destinadas a construção de vias para ciclistas.
Com a nova lei, a construção das ciclovias passa a seguir um padrão, que inclui, entre outros itens, mão única em cada faixa, no mesmo sentido dos carros; demarcação dos símbolos de bicicleta no pavimento no mesmo sentido da faixa; largura de pelo menos 1,5 metro para o ciclista pedalar com conforto; pavimento demarcado por contraste de cor de acordo com a orientação do Departamento Nacional de Trânsito; instalação de tachões bidirecionais na cor amarela para separar a ciclofaixa das ruas e avenidas.