O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) anunciou que vai disputar com o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes a indicação do partido para a sucessão da presidenta Dilma Rousseff, em 2018. A informação foi confirmada pelo próprio pedetista ao Congresso em Foco, em entrevista exclusiva concedida em seu gabinete. Segundo o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, o partido terá dois ou três nomes no páreo da corrida presidencial.
Definindo-se como um político “de esquerda” por não estar satisfeito com o “estado de coisas” do país, Cristovam já está em ritmo de pré-campanha pelo país, a cerca de três anos do pleito majoritário. Em 2015, o senador já visitou diversas capitais do país, onde suou a camisa em discursos e debates com correligionários pedetistas. No último fim de semana, segundo sua assessoria, percorreu mais de mil quilômetros e foi a seis cidades do Rio Grande do Sul, berço do trabalhismo, onde dispõe de apoio significativo do PDT local.
Contrário à filiação dos irmãos Ciro e Cid Gomes, também ex-ministro e ex-governador do Ceará, Cristovam diz já estar preparado para o estilo explosivo de ambos – para exemplificar, nas respectivas solenidades de filiação, Cid chamou o vice-presidente da República, Michel Temer, de “chefe de quadrilha”, enquanto Ciro classificou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de “maior vagabundo de todos”. Mas o senador deve se preocupar especialmente com Ciro, com quem terá de disputar a preferência do PDT.
Para Cristovam, a filiação dos irmãos Gomes ao PDT é uma prova da “submissão” de Lupi ao ex-presidente Lula e uma maneira de promover a reaproximação entre a sigla, uma das rebeldes da base aliado, e o PT. Questionado sobre como lidará com o gênio do ex-ministro da Integração Nacional no governo Lula, o senador foi fiel ao próprio estilo. “Eu preferia que você perguntasse a ele como é que, com o espírito aguerrido dele, vai enfrentar um diplomático. Eu não vou mudar meu estilo. Não consigo, aliás, mudar meu estilo. E não vejo por que mudar. Eu vou continuar nesse estilo de composição, de compromisso, de diálogo. E falando manso, como dizem”, declarou.
Cortejado por partidos como PPS, que lhe ofereceu legenda para disputar o cargo que pretender (Cristovam é recorrentemente cogitado para o Governo do Distrito Federal), e a Rede Sustentabilidade, o senador faz da federalização da educação e do trabalhismo suas principais bandeiras na corrida presidencial. Ex-governador do Distrito Federal pelo PT entre 1995 e 1999, quando criou o Bolsa-Escola, Cristovam diz que a presidenta Dilma Rousseff repete o mesmo erro do ex-presidente Fernando Collor, cassado em 1992, ao não apostar no diálogo para governar.
“O PT só quer ouvir quem é da patota”, lamentou o senador, membro do grupo suprapartidário de senadores que, no começo do ano, foram levar sugestões para que Dilma conseguisse retomar a governabilidade. Decepcionado com a recepção, ele diz que a petista não é propensa ao diálogo e prefere negociar cargos para manter as relações com os partidos da base aliada – a entrega do Ministério das Comunicações ao deputado e colega de partido André Figueiredo (PDT-CE), nas palavras do próprio Cristovam, foi mera “negociata”.