Deltan queria concorrer ao Senado e MPF ‘lançar um candidato por Estado’

Foto: José Cruz/Agência Brasil
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Foto: José Cruz/Agência Brasil
De acordo com mensagens reveladas nesta terça-feira (3) entregues por fonte anônima ao The Intercept Brasil, o procurador Deltan Dallagnol considerou durante mais de um ano se candidatar ao Senado nas eleições de 2018. Em um chat consigo mesmo, uma espécie de espaço de reflexão do procurador, ele chegou a se considerar “provavelmente eleito”.
Também examinou a possibilidade de proporcionar a mudança que desejava implantar no país, que dependeria de “o MPF lançar um candidato por Estado”, ou seja, uma atuação partidária do Ministério Público Federal, o que é proibido pela Constituição.
Ainda de acordo com as mensagens, a candidatura não era apenas um plano pessoal de Dallagnol, e sim, um desejo de procuradores que ia além da Lava Jato e do Paraná. Em vários momentos, Deltan diz que teria apoio da força-tarefa caso decidisse concorrer, o que indica que a possibilidade foi tema de debates internos.
Além disso, o procurador também deixa margem para o entendimento de que resolveu as candidaturas de figuras como o jurista Joaquim Falcão, professor da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, ex-presidente da Fundação Roberto Marinho e membro da Academia Brasileira de Letras.
Mesmo sentindo que a política era “algo que está no meu destino”, Deltan decidiu no final de 2017 permanecer como procurador da República. Entretanto, não abandonou a ideia de futuramente ver sua imagem nas urnas eletrônicas.
“Tenhoapenas 37 anos. A terceira tentação de Jesus no deserto foi um atalho para o reinado. Apesar de em 2022 ter renovação de só 1 vaga e de ser Álvaro Dias, se for para ser, será. Posso traçar plano focado em fazer mudanças e que pode acabar tendo como efeito manter essa porta aberta”, Dallagnol escreveu, em 29 de janeiro de 2018, numa longa mensagem enviada no chat consigo mesmo.
A referência ao senador Alvaro Dias (PODE-PR), aliado da Lava Jato e poupado pelas investigações da operação, conta com o término do seu mandato em 2022. Deltan havia recebido um convite para candidatura ao Senado naquele mês, pelo partido de Dias, entregue por outro procurador da Lava Jato, Diogo Castor de Mattos. Alguns dias depois, avaliou ainda estar entre os prós e contras de uma aventura política, ainda em um texto enviado para si mesmo no Telegram.
Em suas reflexões, Dallagnol se via dividido entre três opções. A primeira delas era se candidatar ao Senado, o que considerava porque seria “facilmente eleito” e por ver “circunstâncias apontando possivelmente nessa direção” – entre elas o fato de que “todos na LJ apoiariam a decisão” de apresentar seu nome aos eleitores.
Mas, ainda assim, o procurador percebia haver “risco para a Lava Jato porque muitas pessoas farão uma leitura retrospectiva com uma interpretação de que a atuação desde sempre foi política”. “Pior ainda, pode macular mais do que a Lava Jato, mas o movimento anticorrupção como um todo, que pode parecer politicamente motivado. Por fim, a candidatura pode macular as 10+ como uma plataforma pessoal ou de Deltan para eleição, retirando aura técnica e apartidária”, completou a reflexão apreensiva.
“Há ainda quem leia que uma atuação simbólica como a de Randolfeé inócua (como Josias de Souza), embora eu discorde (com Michael Mohallem). Além disso, ainda que seja algo que está no meu destino, como Joaquim Falcão disse, sair agora seria muito arriscado e não produtivo em comparação com outras opções”, continuou o procurador.
Ao site Intercept, Josias de Souza e Mohallem confirmaram que tiveram conversas com Dallagnol no teor mencionado pelo procurador em sua reflexão. Falcão ainda não foi encontrado para comentar

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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