Por Susana Falchi (*)
O risco é parte de qualquer atividade, tanto na vida pessoal, profissional ou nas organizações, podendo envolver perdas de diversas naturezas. E o risco relacionado à conduta das pessoas que nos cercam deve ser um ponto alto de atenção dos Conselheiros de Administração nas companhias.
A ação das pessoas que representam uma organização pode ser uma referência para o sucesso ou fracasso de um negócio. No entanto, poucas empresas expressam preocupação no conhecimento do perfil comportamental de seus executivos e de suas lideranças. E aqui não se fala somente do comportamento observável, mas sim da sua estrutura de caráter.
A HSD avalia centenas de pessoas e o nível de desvio de caráter encontrado no grupo de executivos surpreende. A última pesquisa da consultoria, realizada em 2017, com uma amostra de 3.500 executivos, o índice encontrado é de 27%, dos quais 100% com desvios de conduta comprovadas por auditoria.
São classificados como desvios de conduta: desvios de valores com interesse pessoal, conflito de interesses com atividades que levam a ganho pessoal, conduta moral e ética, inclusive com maquiagem de resultados, dentre outros que comprometem a imagem da empresa e mais que isto, cria uma cultura de permissividade organizacional onde fragilizam os controles e os resultados apresentados.
Apesar deste indicador, observa-se que algumas empresas ainda relutam em tomar decisões para o desligamento de executivos e a justificativa de alguns CEO´s é que estes executivos trazem resultados para o negócio. Ora, se há materialidade do desvio de conduta comprovada pela auditoria, uma ação imediata e contundente deveria ser a ordem e não uma discussão, inclusive com o sistema de consequências definido no código de ética.
Empreender significa buscar um retorno econômico-financeiro adequado ao nível de risco associado à atividade, na área de negócios, a consciência do risco e a capacidade de administrá-lo, aliados à disposição de correr riscos e de tomar decisões, são elementos-chave. Assumir riscos pode diferenciar empresas líderes, mas também pode levá-las a grandes fracassos.
A aplicação do conceito de risco no contexto empresarial requer a definição de indicadores como: geração de fluxo de caixa, valor de mercado, lucro, reclamações de clientes, quebras operacionais, fraudes, entre outros, associados aos níveis de volatilidade. As possibilidades tanto de ganho como de perda, podem ter causas de natureza externa como: ambiente competitivo, regulatório, financeiro ou de natureza interna: diferencial tecnológico, controles, capacitações, conduta.
O impacto na cultura organizacional é devastador quando tal conduta não é restringida na empresa, pois indubitavelmente, outras pessoas da organização conhecem essa conduta e a mensagem transmitida é de permissão para esses desvios, desde que tragam resultados. Aspectos que podem impactar fortemente na perenidade empresarial, principalmente se as pessoas ocupantes de altos níveis hierárquicos tiverem poder de deliberação dentro da organização.
É preciso ajustar urgentemente tanto o filtro de seleção de executivos quanto mapear os executivos atuantes, porque normalmente, estes executivos trazem traços de grande influência e inteligência, os quais mascaram uma personalidade doentia, que pode ser reforçada pelo ambiente permissivo sem um sistema de consequências condizente.
É preciso portanto gerenciar os riscos corporativos e contribuir para a continuidade da organização, atendendo aos seus objetivos estatutários e estratégicos.
(*) Susana Falchi é CEO da HSD Consultoria em RH e criadora do PSIT, App que mapeia percepções para autodesenvolvimento dos colaboradores