Dia Mundial do Câncer: inteligência artificial é mecanismo eficaz de prevenção

Inteligência artificial (IA) não é mais parte de uma visão utópica que lotou salas de cinema no século passado, com filmes como Exterminador do Futuro, Matrix e Blade Runner. Ela agora está em nossos bolsos, computadores e, cada vez mais, na forma que trabalhamos com a saúde. Graças ao seu desempenho no diagnóstico e tratamento do câncer, a IA está protagonizando uma verdadeira revolução – suas ferramentas são capazes de armazenar, processar e cruzar informações da literatura médica e do acompanhamento dos pacientes.

Isso é evidenciado na colonoscopia, principal mecanismo de prevenção do câncer colorretal. Anualmente, esta neoplasia é responsável por mais de 35 mil diagnósticos no Brasil, de acordo com dados no Instituto Nacional do Câncer (INCA), contudo, com um rastreamento efetivo, seria possível evitar 60% desses casos. O uso da inteligência artificial permite aumentar a precisão e sensibilidade na detecção de adenoma, lesão benigna precursora de diversos cânceres do intestino grosso, mesmo que ainda muito pequenas.

O objetivo de integrar esse nível de tecnologia ao exame é alcançar a taxa de 50% na identificação do adenoma, feito já relatado em estudos com populações em idade de rastreio realizados pela Universidade da Califórnia (EUA).

“Atualmente, essa taxa varia entre 7% e 53% — o ideal é igualar esse índice à prevalência. Com a inteligência artificial aplicável no combate ao câncer de cólon e reto, essa realidade é possível”, analisa o Dr. Tomazo Franzini, diretor da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED).

Estudo apresentado no World Congress of Gastroenterology, no ano passado, indica que a tecnologia de rede neural convolucional, uma classe de rede neural artificial usada no processamento e análise de imagens digitais, foi capaz diferenciar imagens com e sem pólipos com 96% de precisão. Para chegar a tal conclusão, foram usadas 9 mil imagens de colonoscopia de rastreio. Esse sistema de machine learning pode analisar até 170 imagens por segundo, facilmente aplicado no vídeo ao vivo.

“Precisamos chegar a taxas de detecção mais verdadeiras para, além de prevenir o câncer colorretal, também diminuirmos o risco do câncer de intervalo e a mortalidade pela doença. Por isso é fundamental, além da estruturação de um programa de screening de qualidade, a utilização de ferramentas modernas e mais eficazes – desta forma teremos maior segurança para médicos e pacientes”, afirma o especialista.

Suporte no diagnóstico precoce

Tecnologia aliada à luta contra o câncer também impulsionou pesquisas japonesas, na Universidade de Showa. Por lá, foi desenvolvido um sistema de inteligência artificial capaz de detectar tumores de cólon e reto em estágio inicial com assertividade de 86%. Denominado EndoBRAIN, analisa as mudanças neoplásicas, ou seja, quando há crescimento anormal, acelerado ou descontrolado de tecidos ou células, fornecendo diagnóstico automático com o pressionar de um botão.

Para chegar a esses resultados, foram compiladas mais de 30 mil imagens de células cancerígenas e pré-cancerígenas em um banco de dados que foi apresentado à IA para identificar as diferenças entre elas. O processo para identificar quais células se tornariam cancerígenas demorou menos de um segundo.

“A detecção precoce é a chave para um tratamento preciso, que prolongue a vida do paciente e que apresente chances reais de cura, que podem chegar a 90%. O rastreio assintomático, somado à qualidade do exame, é capaz de salvar vidas e evitar que mais pessoas morram graças a uma doença altamente curável, como é o câncer colorretal”, atesta Franzini.

“Diferentes pesquisadores, nacionais e internacionais, já evidenciaram em seus trabalhos a redução de óbitos em virtude da doença: em geral, o percentual é de 14% a 18% com testes bianuais e de 33% quando feitos anualmente. Precisamos aliar essa tecnologia com alta capacidade de precisão ao trabalho de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento assertivo. A IA está sendo desenvolvida para caminhar ao lado dos médicos e profissionais de saúde, fornecendo armas poderosas na luta contra o câncer”, conclui o especialista da SOBED.

Em todos esses estudos, os softwares usados leem as informações registradas pelo banco de dados – a tecnologia para reconhecimento durante os procedimentos está em fase de desenvolvimento, com avanços promissores. Tomazo estima que em aproximadamente cinco a seis anos a utilização de inteligência artificial estará comprovada e disponível no mercado para os sistemas de saúde.

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