Dia Nacional da Caatinga: bioma foi o segundo mais visitado em 2023, de acordo com pesquisa do Semeia

A imensidão do Vale do Catimbau na fotografia de Eduardo Kenji

Data celebra a biodiversidade única do semiárido brasileiro, que contou com cerca de 2,5 milhões de visitas a parques naturais

Celebrado em 28 de abril, o Dia Nacional da Caatinga é uma data dedicada à valorização e à conservação de um dos biomas mais singulares do planeta. A data foi instituída em 2003, por meio do Decreto Federal publicado no Diário Oficial da União, em homenagem ao nascimento do ecólogo João Vasconcelos Sobrinho, um dos pioneiros nos estudos ambientais no Brasil e grande defensor da Caatinga.

A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, ocupando cerca de 11% do território nacional e abrangendo oito estados da região Nordeste, sendo eles, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, além de áreas do norte de Minas Gerais.

Trata-se de um ecossistema rico, com alta diversidade biológica, espécies endêmicas e uma impressionante capacidade de adaptação às condições adversas do semiárido. A baixa umidade, o volume reduzido de chuvas e os longos períodos de estiagem moldam esse bioma tipicamente brasileiro, composto por espécies vegetais adaptadas a esse clima rigoroso, que conseguem sobreviver nessas condições.

De acordo com o estudo Visitômetro dos Parques do Brasil, do Instituto Semeia, a Caatinga registrou aproximadamente 2,5 milhões de visitas a parques naturais, o segundo bioma com maior visitação nessas unidades em 2023. O único bioma a superá-la em número de visitas foi a Mata Atlântica, que registrou mais de 10,4 milhões no mesmo período. Esses números refletem não apenas a quantidade de parques existentes em cada bioma, mas também a concentração populacional nas regiões em que estão localizados.

Bioma abriga os maiores sítios arqueológicos do país

Além de sua riqueza natural e biodiversidade única, a Caatinga também guarda importantes tesouros históricos e culturais. É nesse bioma que se encontram os maiores sítios arqueológicos do país: o Parque Nacional da Serra da Capivara e o Parque Nacional do Catimbau.

Localizada no semiárido nordestino, a Serra da Capivara impressiona pelas paisagens naturais, formadas por paredões rochosos, cânions, planícies e serras. O cenário abriga vestígios do homo sapiens com mais de 50 mil anos – revelando um dos capítulos mais antigos da presença humana nas Américas.

Durante a década de 1970 e junto a outros arqueólogos brasileiros e franceses, Niède Guidon, considerada uma das grandes cientistas brasileiras e guardiã do parque, descobriu nessa região a existência de fósseis, ferramentas e pinturas rupestres que remontam à chegada desses ancestrais.

Já o segundo maior parque arqueológico do Brasil, o Parque Nacional do Catimbau, situado em Pernambuco, é um verdadeiro santuário de arte rupestre, com mais de duas mil inscrições em paredões rochosos que revelam traços das primeiras ocupações humanas na região. Hoje, 12 dos 75 parques nacionais estão na Caatinga. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, o  Catimbau é uma das últimas reservas desse bioma.

“Cada pedaço desse bioma carrega história, cultura e vidas que resistem mesmo nas condições mais difíceis”. A visitação dos parques naturais que estão na caatinga ajuda os brasileiros a se conectarem com esse bioma e valorizar a importância de sua conservação. Além disso, o turismo de natureza gera outras oportunidades de renda locais – com guias, pousadas, restaurantes, artesanato sendo demandados pelos turistas. Essa é uma alternativa positiva considerando que a o caatinga hoje sofre muito com o desmatamento para queima da gipsita, por exemplo, comenta Renata Mendes, diretora executiva do Semeia.

De acordo com a porta-voz, o bioma enfrenta muitos desafios como o desmatamento e as queimadas, que ainda são práticas comuns, degradando o solo e colocando em risco a biodiversidade. “A desertificação avança em várias áreas, impulsionada pelo uso inadequado da terra e pelas mudanças climáticas, que tornam as secas ainda mais severas. Além disso, falta investimento em políticas públicas que valorizem e protejam o bioma e acabam pressionando os recursos naturais para sobreviver. É urgente olhar para a Caatinga com o cuidado e a importância que ela merece”, conclui.

Clique aqui para conferir a pesquisa completa.

Sobre o Instituto Semeia

O Instituto Semeia é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é inspirar brasileiros e brasileiras a visitar e se orgulhar dos parques. Acredita que eles são parte de um ciclo virtuoso, funcionando como instrumentos para a conservação ambiental, a transformação social e o desenvolvimento econômico. Promove o turismo sustentável e o desenvolvimento de parcerias que melhorem a infraestrutura e gestão dos parques. Também produz pesquisas e estudos para apoiar a elaboração de políticas públicas e incentivar o debate sobre parques e seus impactos no Brasil. Desde 2011, oferece suporte técnico a mais de 20 governos estaduais, municipais e nacionais e contribui para a conservação de 5.000 km² em 33 parques no Brasil.

 

Para mais informações, acesse:

https://semeia.org.br/ | https://www.instagram.com/institutosemeia/

 

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.