Foto: Arquivo/Agência Brasil/Ricardo Stuckert/Instituto Lula |
A decisão do ministro Edson Fachin de anular todos os processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Justiça do Paraná no âmbito da Lava-Jato sacudiu o tabuleiro político do Brasil. Relator da Lava-Jato, Fachin atendeu ao pedido da defesa do petista e anulou os processos que se referem ao triplex do Guarujá, ao Sítio de Atibaia e ao Instituto Lula. O ministro considerou a Justiça Federal do Paraná “incompetente” para julgar os processos, que passarão a ser avaliados pela Justiça Federal do Distrito Federal. A decisão de Fachin, tomada de forma monocrática, ainda será analisada pelo Plenário do Supremo. A Procuradoria-Geral da República (PGR) já declarou que vai recorrer.
A mudança acende o sinal de alerta no Palácio do Planalto, já que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem sofrido constantes desgastes por conta da condução do governo durante a pandemia. Pesquisas divulgadas nesta semana inclusive já apontam a possibilidade de Lula derrotar o presidente nas próximas eleições, caso o petista se mantenha de fato elegível para 2022. Especialistas apontam que uma disputa no ano que vem entre Lula e Bolsonaro poderia criar um acirramento de ânimos ainda maior que o visto em 2018.
“Os dois no páreo vão gerar uma das eleições mais polarizadas da história do Brasil. Lula é uma figura central, diferente de um Haddad, de uma Gleisi Hoffmann”, explica o cientista político Antônio Lucena. “Se fosse Bolsonaro contra um outro candidato do PT, que seria o melhor cenário para ele, ele provavelmente se reelegeria. Mas com Lula na disputa, a coisa muda de figura, porque você ainda tem uma parcela da população que tem na memória os ‘anos dourados’, digamos assim, das duas gestões de Lula e a primeira de Dilma Rousseff”, completa.
Por outro lado, a possível candidatura de Lula pode exacerbar ainda mais o sentimento do antipetismo, que já deu mostras de que permanece vivo na memória de parte da população. Nas últimas eleições municipais, a sigla não conseguiu vencer em nenhuma capital brasileira, amargando derrotas em cidades como Recife e São Paulo.
Quem também pode sair perdendo com a entrada do petista na corrida à presidência são os outros nomes que já são vistos como pré-candidatos. É o caso de quem busca se colocar como opção “anti-Bolsonaro”, casos do governador de São Paulo João Doria (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), como os ‘outsiders’ como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), o ex-ministro da Justiça Sergio Moro e até mesmo o apresentador Luciano Huck.
Lula e Bolsonaro são os nomes com maior capacidade de angariar apoio de parcelas significativas da população, o que virtualmente já os colocaria no segundo turno. “O que a gente vai ter é um rearranjo do processo eleitoral. Essas discussões envolvendo Luciano Huck, Sergio Moro, Mandetta, como vai ficar esse processo? Se todos esses forem disputar, haverá um nível de fragmentação muito elevado, que favorece Bolsonaro e Lula. Acho que a gente pode discutir já que vai ser uma eleição de segundo turno, se isso que está ocorrendo se mantiver”, explica o cientista político Antônio Lucena.
Diário de Pernambuco