A plataforma merepresenta.org.br anuncia o primeiro balanço de candidatos e candidatas que já se manifestaram a favor de temas relacionados aos direitos humanos. Até agora, 473 pretendentes às cadeiras do Legislativo, de todos os Estados (com exceção do Piauí), responderam o questionário com 22 perguntas enviadas elxs, sobre os assuntos: gênero, raça, LGBT, povos originários e meio ambiente, segurança, corrupção, direitos sociais, drogas e migrantes. Também apontaram quais seriam os 3 temas prioritários do seu mandato.
De maneira online e gratuita, o portal #MeRepresenta se destaca entre os demais sites e aplicativos nestas eleições porque está focada apenas nos pretendentes às vagas do Congresso Nacional (Câmara e Senado) e da Assembleia Legislativa (deputados estaduais), além de concentrar informações sobre as pautas sociais de cada candidato e candidata.
O acesso é simples: basta os eleitores e eleitoras dizerem os temas que consideram importantes na decisão do voto que a plataforma elenca as candidaturas inscritas que mais priorizam esses temas em todo o país.
“Apesar de maioria no país, as mulheres negras são representadas por apenas 7 dos 513 congressistas em Brasília”, explica Ana Carolina Lourenço, cientista social e uma das articuladoras do #MeRepresenta. “A presença de pessoas negras ou que entendam as questões que afetam a comunidade negra no legislativo é o que vai influenciar diretamente na garantia do enfrentamento à violência contra a mulher, ao racismo e promoção políticas sociais, levando em consideração suas necessidades específicas, seja na saúde, na economia ou na educação”, acrescenta Ana, que também coordena a Rede Umunna.
Nas eleições de 2016, o #MeRepresenta conseguiu atrair, em apenas 10 dias, 1 milhão de visualizações e mais de 150 mil internautas que, na ocasião, faziam suas escolhas para os representantes das Câmaras Municipais de todo o Brasil. Do total de visitas ao site, 70% eram mulheres eleitoras, na faixa etária de 18 e 34 anos. Os 35 partidos existentes à época cadastraram cerca de mil candidatos de 244 municípios e 24 Estados. Nove em cada dez buscas realizadas resultavam em mulheres candidatas, sendo 3 negras e uma trans. A vereadora Marielle Franco, assassinada em março deste ano, estava entre os perfis mais acessados na plataforma.
Nesta fase inicial, os candidatos seguem preenchendo o formulário enviado pelo #MeRepresenta ao e-mail de cada candidatura registrada no TSE. Se esse contato falhar, a plataforma conta com um time de 1.100 voluntários em todo o Brasil para ajudá-los na localização dos candidatos. Os eleitores, por sua vez, devem preencher o cadastro no site e aguardar até a segunda quinzena de setembro quando poderão iniciar suas pesquisas.
Qual o diferencial do #MeRepresenta – Os organizadores do #MeRepresenta optaram por trabalhar apenas com aspirantes aos cargos da Câmara, Senado e Assembleias Estaduais porque entendem que, apesar de o debate eleitoral girar em torno dos nomes de presidenciáveis, um líder sozinho só conseguirá melhorar o Brasil se receber o apoio de deputados estaduais, federais e senadores. O #MeRepresenta surgiu há dois anos, fruto do trabalho voluntário de coletivos e demais organizações, preocupados em aumentar a presença de simpatizantes às causas sociais para o fortalecimento da democracia transparente e participativa.
Representatividade LGBT+ -– Uma das populações pouquíssimo representada hoje no Legislativo brasileiro é a de LGBT+, que necessita de um debate urgente para a redução da violência contra essa parcela da sociedade. O Brasil é o lugar onde mais se matam LGBTs no mundo. Ao menos 868 travestis e transexuais foram assassinados nos últimos oito anos, o que o deixa no topo do ranking de países com mais registros de homicídios de pessoas transgêneras, segundo relatório publicado pela ONG Transgender Europe (TGEu) em novembro de 2016. Só no ano passado, foram registrados 445 homicídios desse tipo, um aumento de 30% em relação ao ano anterior. A cada 19 horas, uma pessoa LGBT+ é morta ou se suicida no Brasil.
Para a construção da plataforma #MeRepresenta, os coletivos contaram com o apoio da Ben & Jerry’s – conhecida internacionalmente por sua trajetória ativista em pautas socioambientais. No Brasil, a marca já vem atuando em prol das causas LGBT+ e sua militância no tema durante o período de eleições vem da luta por maior representatividade de travestis, transexuais, lésbicas, bissexuais e gays na política institucional. A Bem & Jerry’s entende que não se pode cruzar os braços quando há pessoas sendo assassinadas por razões ligadas ao gênero ou à orientação sexual. Desde sua fundação, a Ben and Jerry’s defende uma bandeira específica em cada região do mundo – como a questão dos refugiados (na Europa) e a desigualdade racial (nos Estados Unidos) – desde que sejam temas humanitários.
A fim de descobrir as demandas mais urgentes das LGBT+, foi feita uma pesquisa com mais de 6 mil entrevistados durante a Marcha de Mulheres Lésbicas e Bissexuais e a Parada do Orgulho LGBTI+ de São Paulo, além de um levantamento online. O resultado mostrou que a Criminalização da LGBTfobia e a Educação para a Diversidade eram os temas prioritários que essa população gostaria de ver na pauta legislativa do novo Congresso.