Um modelo inovador de franquia de unidade prisional, sem guarda e arma, tem mostrado que é possível humanizar cadeias e reduzir o índice de reincidência em prisões de cinco Estados. Um negócio de impacto social identificou que 42 milhões de brasileiros precisam de óculos e passou a oferecer consultas gratuitas, por meio de oftalmologistas voluntários que atendem em um ônibus equipado; os óculos são doados ou vendidos a um preço acessível. Uma startup transformou a falta de opção de alimentação saudável nas periferias em um negócio lucrativo. A Fraternidade Brasileira de Assistência ao Condenado, Renovatio e Saladorama – fundadas pelos empreendedores sociais Valdeci Ferreira, Ralf Toenjes e Hamilton Henrique da Silva – têm em comum o propósito de mudar a forma de fazer negócios no Brasil e a conquista das três categorias do Prêmio Empreendedor Social 2017. O principal concurso de empreendedorismo socioambiental da América Latina e um dos mais concorridos do mundo está com as inscrições abertas para a edição de 2018.
Há exatos 34 anos, Valdeci Ferreira adotou a recuperação de criminosos como missão de vida e implementou, em Itaúna (MG), um método para administrar e assistir prisões, que é baseado em uma rotina de 12 pilares e tens inspiração cristã. Hoje, as unidades da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) – lideradas pela federação criada por Ferreira – são conhecidas por serem prisões nas quais os internos têm as chaves das próprias celas. O vencedor do Prêmio Empreendedor Social 2017 fundou, em 1995, a Fraternidade Brasileira de Assistência ao Condenado (FBAC) – uma forma de ajudar a organizar as atuais 48 unidades da APAC em uma federação; o objetivo é dialogar de maneira mais produtiva com o poder público e impedir que a metodologia se disvirtue.
A iniciativa abriga atualmente mais de 4.000 internos e contabiliza 150 unidades em fase de implementação. Hoje, a FBAC supervisiona a metodologia das APACs e negocia com governos estaduais a implementação das novas “cadeias humanizadas”. Segundo Ferreira, “os presídios são desertos de miséria e sofrimento. O Estado está ausente e as facções ocupam o espaço. A sociedade, ferida por essas pessoas, esquece que os abandonados atrás das grades um dia voltarão para o convívio social; voltam piores”. Em contrapartida, as APACs são pequenos oásis. “Aplicamos a pedagogia da presença e caminhamos com aquele que cometeu o delito, oferecendo uma chance de mudança de vida”, explica. E, como resultado, ao contrário do nível de 85% de reincidência nas cadeias comuns, as APACs mostram índices próximos a 28%. Há outros atributos de performance que destacam vantagens frente às cadeias tradicionais.
Democratizando o acesso à visão
Em um congresso no México, em 2013, Ralf Toenjes – vencedor do Prêmio Empreendedor Social de Futuro – conheceu uma tecnologia alemã de fabricação de óculos a baixo custo: a OneDollarGlasses, criada por Martin Aufmuth. O empreendedor de 26 anos – formado pelo Insper em Economia e Negócios, e em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) – criou a Associação de Apoio Renovatio, em 2014, com a missão de democratizar o acesso à visão no Brasil. O negócio social opera por meio de mutirões, oferecendo consultas oftalmológicas conduzidas por oftalmologistas voluntários e óculos de grau grátis ou a um custo acessível. Os atendimentos são realizados pelos oftalmologistas em um ônibus equipado que permite ao paciente já sair com o diagnóstico e com os seus óculos. Para a produção dos óculos fundou a ótica VerBem, em 2014, cuja meta é atender 1 milhão de brasileiros até 2021.
O modelo de vendas se divide em compre um, doe um (óculos a partir de R$ 79) – valores mais acessíveis com óculos a partir de R$ 39 e óculos grátis, viabilizado pelas parcerias com empresas e organizações não governamentais. Hoje, a Renovatio conta com parceiros como Bank of America, Atento e Ótica, Giv.On, que já aportaram mais de R$ 680 mil na startup que distribuiu mais de 15 mil óculos, em 17 Estados brasileiros. É um modelo inovador para enfrentar um desafio enorme diante do fato que 85% dos municípios do país não contam com oftalmologista residente.
Para Ralf Toenjes, a premiação é uma demonstração que a organização está no caminho certo. “Temos um sonho grande de mudar a visão de 1 milhão de pessoas até 2021 e tenho certeza de que a chancela e a credibilidade de chegarmos a essa final do Prêmio Empreendedor Social de Futuro será um passo importante para atingirmos nosso objetivo”, revela.
Alimentação saudável na quebrada
Primeiro membro da família a cursar o ensino superior, Hamilton Henrique da Silva – vencedor da categoria Escolha do Leitor, com 56% dos votos – conseguiu uma bolsa de estudos em um curso de Engenharia de Produção na Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro. No ambiente acadêmico conheceu o conceito de negócio de impacto – que o levaria mais tarde a trabalhar em um coworking em Botafogo, espaço que oferecia refeições aos usuários. Aos 20 anos, trabalhando fora da comunidade na qual cresceu e comparando as oportunidades de alimentos a que era exposto em casa e no trabalho, na zona sul do Rio, percebeu a falta de opções de comida saudável na periferia. A partir dessa reflexão, surgiu a ideia do Saladorama, que busca democratizar o acesso à alimentação saudável.
Ao mesmo tempo em que estava formatando as bases do negócio social – que fornece alimentos saudáveis a baixo custo viadelivery e restaurantes próprios – o empreendedor soube que a avó, dona Julia, passava por complicações na saúde devido ao diabetes. Perdeu a visão do olho esquerdo e um dedo. “Quando fui conversar com o médico, ele falou que se minha avó tivesse melhorado a alimentação não teria passado por isso. Aquilo atingiu diretamente a minha vida. Senti a dor de não poder fazer nada vendo minha avó cega por falta de acesso à alimentação saudável”, conta, acrescentando que passou a defender que alimentação é direito; não privilégio.
Com R$ 220 da rescisão do trabalho, montou o Saladorama. Hoje, o negócio social conta com cinco unidades que operam como delivery ou restaurante em Florianópolis (SC), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Sorocaba (SP) e São Luís (MA). O negócio oferece, também, oficinas de formação para pessoas de comunidades que querem empreender seus próprios restaurantes ou trabalhar nos restaurantes da rede. O fornecimento de alimentos e as formações, oficinas e palestras sobre o tema já alcançaram cerca de 28 mil pessoas.
Na análise do jovem empreendedor – que transformou em negócio a falta de opção de alimentação saudável na periferia – a conquista é a consolidação de um trabalho de credibilidade. “Na minha opinião e de especialistas, o Prêmio Empreendedor Social é a premiação de negócios de impacto social de maior validação e importância do Brasil. O fato de ser indicado já é um motivo de orgulho imenso”, revela.
Inscrições abertas
O principal concurso de empreendedorismo socioambiental da América Latina e um dos mais concorridos do mundo, o Prêmio Empreendedor Social chega à 14ª edição. Criada em 2005 pela Folha de S. Paulo e Fundação Schwab, a premiação está com as inscrições abertas até 20 de maio para líderes de iniciativas inovadoras e de impacto social, com mais de três anos de atuação, em áreas como Saúde, Educação, Tecnologia Assistiva e Meio Ambiente, entre outras. Os gestores de negócios sociais, cooperativas, OSCIPS, ONGs e startups com foco socioambiental – que estão em fase inicial (de um a três anos) –, por sua vez, podem se inscrever para a 10ª edição do Prêmio Folha Empreendedor Social de Futuro.
Os vencedores e finalistas terão acesso a benefícios que totalizam R$ 350 mil em forma de mentorias, capacitação e cursos de qualificação em instituições como Insper e Fundação Dom Cabral. As inscrições para ambas premiações podem ser feitas pelo site http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/cadastro.shtml
O Prêmio Empreendedor Social tem o objetivo de selecionar, premiar e fomentar os líderes socioambientais mais empreendedores do Brasil, que desenvolvam há mais de três anos iniciativas inovadoras, sustentáveis e com comprovado impacto socioambiental. Além da projeção nacional e internacionalmente dos líderes selecionados, a Folha de S. Paulo e a Fundação Schwab – correalizadora do Fórum Econômico Mundial de Davos e idealizadora da premiação no mundo – oferecem um alto nível de qualificação e networking, viabilizando aos premiados a conquista de maiores e melhores indicadores em sustentabilidade, impacto social direto e indireto, influência em políticas públicas e escalabilidade para seus projetos.