Empreendedorismo feminino: como a maternidade tornou três empreendedoras melhores gestoras

A capacidade de resolução de conflitos, excelente visão de longo prazo, talento para comandar equipes multiprofissionais e empatia – essas são algumas das características femininas valorizadas por empresas nacionais e internacionais; são, também, atributos presentes em empreendedoras de impacto social. Mas, quando se tornam mães, quais são os novos aprendizados dessas mulheres que se tornam trunfos na condução dos negócios? A Artemisia convidou Helo Paoli, Letícia Spina Tapia e Denise Asnis a apontarem como a experiência da maternidade impactou na gestão de suas empresas. Erê Lab, Creche Segura e TAQE são negócios de impacto social inovadores, que têm em comum a aceleração da Artemisia e a liderança de mulheres que tornaram a experiência da maternidade em instrumento para uma gestão de excelência.

Em parceria com Roni Hirsch, em 2014, Helo Paoli fundou a Erê Lab – negócio que desenvolve mobiliários urbanos lúdicos que potencializam o desenvolvimento cognitivo e psicomotor de crianças na primeira infância. Hoje, a empreendedora comanda a empresa que cria, produz e instala objetos de pequeno, médio e grande portes, que exploram temas como brasilidade, para serem instalados em praças, parques e espaços ociosos das cidades. O mobiliário criado por Helo e Roni fortalece o senso de cidadania, o respeito ao espaço público e estimula as interações entre pais e filhos nesses ambientes.

Segundo a empreendedora, desde a década de 1970 não existe uma política de mobiliário urbano no Brasil; hoje, há um sucateamento dos playgroundsexistentes que levam a criança a ficar dentro das casas ou de condomínios. “Queremos criar condições para termos as crianças brincando na rua. Acreditamos que as crianças que vivem em comunidades também precisam brincar em espaços saudáveis, com design acessível e com conteúdo, fortalecendo a autoestima da população e o sentimento de pertencimento em relação à região onde vive”, afirma. A empresa atua com matéria-prima sustentável – madeira certificada, ferro, materiais reciclados industrialmente e tintas à base de água – que resultam em playgroundsinovadores para espaços de convívio e interação entre crianças e adultos.

O impacto social da solução está atrelado ao estímulo que envolve o brincar de crianças com os pais – trabalhando o desenvolvimento cognitivo e psicomotor na primeira infância – fase que influencia o raciocínio, habilidades e comportamentos futuros. Estimular o desenvolvimento neste período tem o poder de mudar a vida de uma pessoa, resultando em aumento da capacidade de aprendizagem e possibilitando melhores oportunidades profissionais futuras.

Sobre os aprendizados da maternidade, incorporados ao negócio, Helo afirma que quase tudo da maternidade pode ser aplicado na rotina de empreendedora.“Empreender e ter mais um primogênito, com todas as inseguranças de uma mãe de primeira viagem! Como com os filhos, vamos aprendendo mais sobre eles e sobre ser mãe – com os negócios não é diferente. Conforme o tempo passa, o domínio sobre aquilo que se faz aumenta e o conhecimento sobre seu mercado também. Todas aquelas certezas que você tinha sobre como ser mãe e que na prática não foram nada daquilo, pois é… também valem ao empreender. Educar é difícil, dá trabalho. Empreender e colocar um negócio em pé e, nesse contexto, você os segura nas mãozinhas até que eles consigam andar sozinhos. Você doa tudo que sabe para que eles cresçam – e aprende muito mais com o crescimento deles. Como dizia a minha mãe, quando eles crescem as preocupações não diminuem apenas mudam. A rotina de empreender é como a maternidade, exige disciplina, atenção, jogo de cintura, pulso firme, doação e muito amor! Se você pretende empreender em um negócio de impacto social então, aí é tipo coração de mãe!”, analisa.

Letícia Spina Tapia, empreendedora da Creche Segura

Com foco nos profissionais de escolas, o negócio de impacto social Creche Seguraatua na capacitação em primeiros socorros e prevenção de acidentes. A empresa busca favorecer a realização de um pronto-atendimento seguro; diminuir o risco de acidentes; promover a preservação da vida e saúde da criança; e diminuir o índice de mortalidade apresentado nos acidentes em creches e escolinhas. Na base do trabalho, profissionais da saúde com mais de 10 anos de experiência; material didático de excelência, relatório com o diagnóstico de problemas e sugestões para solucioná-los; reciclagem via ensino à distância após um ano de capacitação; e atuação em creches de diferentes portes.

“Sou mãe recente, meu bebê acabou de completar três meses. Sigo com a Creche Segura e, graças a Deus, ampliamos nosso alcance a cada ano. Nesse ano, a maternidade me limitou, ao menos neste primeiro semestre, e precisei postergar as formações e palestras para o semestre que vem. Mas, sigo respondendo e-mails e acompanhando o curso Ensino a Distância. Para isso, a maior lição da maternidade foi aprender a administrar o tempo. Esse tempo se tornou muito limitado, o que me forçou a estipular horário para abrir e responder e-mails, além de manter foco no planejamento do dia, pois qualquer dispersão para outros assuntos (fora do planejado) pode comprometer a programação prevista. Acho que daqui em diante a administração eficaz do tempo será meu maior aprendizado”, detalha Letícia.

Denise Asnis, mãe de Mariana e Lucas, cofundadora da TAQE

Criado em 2016 por Denise Asnis – em parceria com Renato Dias e Ernesto van Peborgh – a TAQE é um aplicativo que prepara as pessoas para o mercado de trabalho e oferece vagas de emprego associadas ao perfil do candidato. Com aulas e testes interativos, a partir de um aplicativo, as pessoas descobrem o próprio potencial, ganham pontos e desbloqueiam vagas de emprego reais, tornando a qualificação e a busca por trabalho algo divertido.

Sobre o aprendizado transferido da maternidade para o empreendedorismo, Denise aponta o fato de se permitir ser vulnerável – o maior desafio, o maior aprendizado e, ao mesmo tempo, a maior benção que a maternidade desencadeou na empreendedora. “A vulnerabilidade de me tirar do lugar de quem tudo sabe; de que o meu modo de ser é a única verdade. Ser vulnerável para perceber que mais aprendo que ensino na convivência com meus filhos. Ser vulnerável para saber que, mesmo que quisesse eu não conseguiria aprisionar meus filhos ao meu ‘mundo’. Eles não são meus, vieram para ser livres e para exercer a sua própria missão de vida. Eles não vieram para me ensinar, sou eu quem aprende com eles.”

Segundo Denise, na vida profissional, como empreendedora, percebeu o quanto é importante ser vulnerável. “Especialmente para que eu me permita sair do lugar das certezas, sair do lugar de que tudo posso controlar. Eu me dou conta da riqueza que é estar aberta a ouvir, mais do que a impor minhas opiniões ou ideias originais. A abundância que surge quando abrimos espaço para que se estabeleça um ambiente de trabalho no qual os colaboradores encontram espaço para se conhecer – e ter condições de trabalhar alinhados ao propósito de vida – para que possam ser o que quiserem, é fruto da consciência que tenho a respeito da minha vulnerabilidade. Tenho percebido que com isso ganho eu, ganham as pessoas que trabalham nas nossas equipes e ganham os nossos clientes.

ARTEMISIA

A Artemisia é uma organização sem fins lucrativos, pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil. A organização apoia negócios voltados à população de baixa renda, que criam soluções para problemas socioambientais e provocam impacto social positivo por meio de sua atividade principal. Sua missão é identificar e potencializar empreendedores e negócios de impacto social que sejam referência na construção de um Brasil mais ético e justo. A organização já acelerou mais de 100 negócios de impacto social no Brasil e capacitou outros 300 em seus diferentes programas. Fundada em 2004 pela Potencia Ventures, possui atuação nacional e escritório em São Paulo. www.artemisia.org.br

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