O setor químico de Pernambuco vinha na contramão da produção industrial do País de 2019 para cá, pois, enquanto o dado nacional caía 15,1% no ano passado, o segmento incrementava em 6,1% o seu Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, e assim como boa parte das empresas do País, algumas indústrias do segmento foram duramente atingidas pela crise provocada pela Covid-19 e, atualmente, temem pelo que pode acontecer com os mais de 200 negócios responsáveis por gerar 8.275 postos de trabalho.
De acordo com a presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para fins industriais, resinas sintéticas, tintas e vernizes do Estado de Pernambuco (Siquimpe), Caroline Souto Maior, dentro do escopo do setor químico, existem os negócios que estão numa crescente em razão da pandemia, como os saneantes, e os que dependem de outros setores econômicos para alavancar as suas vendas, como de tintas e vernizes, por exemplo. É para esse nicho que Caroline chama atenção e tem receio pelo o que está por vir.
Segundo ela, as indústrias começaram a sentir o impacto ainda em março, quando o comércio fechou as suas portas. “Provocando, assim, o aumento da inadimplência e gerando grande dificuldade para as indústrias quitarem as suas dívidas com seus fornecedores”, disse, destacando que, outro ponto importante e problemático para o mercado, se deve às fortes oscilações cambiais, que têm impactado diretamente na compra dos insumos importados.
Para driblar o momento, Caroline contou que as empresas precisaram antecipar as férias dos seus colaboradores, usar o seu banco de horas e, até mesmo, se arriscar em outros mercados para não perder capilaridade e sobreviver à pandemia. “A crise pode ser um momento importante para repensar tudo, desde o modelo de negócios até a relação com a tecnologia. Exemplo disso, algumas indústrias químicas fabricantes de tintas e assemelhados, através da portaria SES/SDEC Nº 2, começaram a fabricar álcool 70% como forma de criar oportunidades de crescimento”, disse.
Mas não foi somente na ponta que tudo mudou. Na análise da presidente, a relação com o cliente também foi impactada, bem como a visão das empresas sobre os seus custos operacional e de investimento. “Sabemos que todos precisam fazer a sua parte, mas, para sobrevivermos, é fundamental que tenhamos mais facilidade e flexibilidade no acesso ao crédito, na postergação do prazo de pagamento de encargos e impostos e na injeção de recursos via bancos públicos”.
A gerente administrativa da Óxidos do Nordeste, Rosiane Oliveira, diz sentir na pele o cenário que Caroline descreve. Na empresa em que trabalha, o volume de vendas baixou 75%, os clientes prorrogaram os débitos e houve queda na produção. “Está sendo bem difícil este momento. Tivemos que repensar muitas coisas, como parar os investimentos, manter apenas as compras necessárias para a produção e manter o caixa da empresa com uma reserva dos valores para pagar nossos fornecedores”, adiantou. O impacto está atrelado também ao que vem passando os demais setores econômicos, como construção civil e as indústrias de tintas – principais consumidores de pigmentos da Óxidos do Nordeste.
A proprietária da Spectracolor, Grace Klein, também fala numa queda de 70% no volume de vendas e conta que uma das grandes dificuldades do seu mercado tem a ver com a instabilidade do dólar, já que o segmento depende de matéria-prima importada. “Seria fundamental a união de todos os poderes públicos diante da situação tão difícil que estamos enfrentando. Isto daria uma calma no mercado, tão fundamental neste momento”, afirmou.