Pesquisa feita por um grupo de hospitais e institutos de pesquisa brasileiros mostrou que o uso do antinflamatório corticoide dexametasona diminui os dias com respiração artificial em pacientes adultos hospitalizados com síndrome respiratória aguda grave causada pela covid-19. O estudo foi publicado nesta quarta-fera (2) no periódico científico Journal of the American Medical Association (Jama).
Segundo a pesquisa, o número de dias fora do respirador artificial foi maior nos pacientes tratados com dexametasona (média de 6,6 dias) do que no grupo controle (média de 4 dias). O aumento de tempo fora do respirador artificial significa menor risco de complicações decorrentes da permanência nas unidades de tratamento intensivo (UTI), liberação de leitos e economia de recursos humanos e financeiros.
A pesquisa foi realizada pelo grupo Coalizão Covid-19 Brasil, formado pelo Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
O estudo ocorreu de 17 de abril a 21 de julho. Participaram 299 pacientes com síndrome respiratória aguda grave causada pela covid-19, submetidos a ventilação mecânica (respiração artificial) em 41 UTIs brasileiras.
Por meio de sorteio, os pacientes receberam dexametasona e suporte clínico padrão (151 pacientes) ou apenas suporte clínico padrão (no grupo de controle, com 148 pacientes). A dexametasona foi usada por via endovenosa na dose de 20 miligramas (mg) durante 5 dias e 10 mg durante 5 dias.
Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a aplicação clínica da dexametasona é frequente, principalmente pelos efeitos anti-inflamatórios. Porém, sua ação pode provocar vários efeitos colaterais, os mais comuns a elevação da glicose do sangue, aumento da pressão arterial, ganho de peso, inchaço e, com uso prolongado, osteoporose e insuficiência suprarrenal.
De acordo com a pesquisa brasileira, não foi detectada evidência de risco maior no tratamento com dexametasona em relação a novas infecções, alterações da glicose e outros eventos adversos sérios. A droga, no entanto, só deve ser tomada por recomendação médica.