Centro Nefrológico de Caruaru precisou reduzir o tempo das sessões temendo o desabastecimento, diante da paralisação

Jaciara Fernandes

A última terça-feira (29) foi um dia de alívio para os pacientes que recebem tratamento no Centro Nefrológico de Caruaru SOS Rim. Após mais de uma semana de tensão, devido à pouca quantidade de insumos necessários para a realização de sessões de hemodiálise, chegou ao local um caminhão do Exército com oito toneladas de concentrados, essenciais para a hemodiálise e a heparina. Os produtos estavam impedidos de chegarem ao seu destino por causa da paralisação de caminhoneiros que realizavam bloqueios em todo o território nacional.

A carga partiu da cidade de Montes Claros, Minas Gerais, e só foi possível chegar até o Estado de Pernambuco através de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), que pousou na Base Área do Recife, na madrugada do mesmo dia. No local, as oito toneladas foram transferidas para o caminhão do Exército, que seguiu viagem para o Agreste.

Ainda na Base Aérea, o comandante do Cindacta3, brigadeiro Walcyr Araújo, explicou que integra o Centro de Coordenação instituído pelo Ministério da Defesa, o qual atende a todas as solicitações de transporte que são consideradas urgentes. “Nesse momento, entendemos, naturalmente, que o Ministério da Saúde é uma das prioridades”, enfatizou.

Do Recife até Caruaru, a equipe do Exército, formada por 39 homens, se deparou com quatro bloqueios ao longo da BR-232, mas não enfrentou nenhum problema. “Não houve nenhuma agressão por parte dos manifestantes, que foram compreensivos e facilitaram a nossa passagem pelos bloqueios”, comentou Apolônio Cavalcanti, tenente do Exército.

O primeiro carregamento chegou a Caruaru por volta das 11h10 da terça, e a notícia trouxe alegria para as pessoas com doenças nos rins, a exemplo da dona de casa Ana Luiza Selma, que comemorou a chegada dos insumos. “Enfrentamos algumas inseguranças e medo de morrer, mas, agora que os concentrados chegaram, a alegria é geral”, comentou a paciente, que depende do produto para sobreviver.

Assim como ela, mais 359 pacientes do SOS Rim tiveram o tratamento alterado logo que começou a paralisação dos caminhoneiros, no último dia 21. Para garantir o tratamento a todos, a alternativa encontrada pela direção da clínica foi reduzir o tempo das sessões de hemodiálise, que passaram de 4 para 3 horas. Mesmo assim, especialistas garantem que essa mudança não comprometeu o tratamento.

Além de Caruaru, o Centro Nefrológico SOS Rim, que é referência no Interior do Estado, atende a pacientes de mais 32 municípios espalhados pela região e aproximadamente 90% são oriundos do convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS). É bom lembrar que a carga com os concentrados também garante o tratamento dos pacientes renais internados no Hospital Regional do Agreste (HRA).

Segundo a direção da clínica, todas as medidas tomadas foram em conjunto a outros órgãos. “O tempo todo estávamos em contato com o Ministério da Saúde e com a Secretaria Estadual de Saúde e tivemos todo o apoio necessário nos momentos de dificuldades”, disse Aniedja Alves, uma das diretoras da clínica.

As primeiras oito toneladas garantem tratamento para os próximos 15 dias e já normalizou o tempo de duração das sessões. Mas outra boa notícia é que na última quinta-feira (31) mais oito toneladas de concentrados chegaram na unidade para tranquilizar ainda mais os pacientes e seus acompanhantes e familiares.

Wagner Gil

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.