A “facada” prometida pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, nos recursos do Sistema S teria efeitos devastadores sobre programas de educação técnica e serviços de saúde prestados à população brasileira que beneficiam, principalmente, jovens e trabalhadores de baixa renda. No caso do SESI e do SENAI, mais de 1 milhão de estudantes ficariam sem opção de cursos de formação profissional e 18,4 mil funcionários das entidades perderiam o emprego. O próximo governo não divulgou plano para substituir serviços das entidades para a população.
“A proposta de cortes no Sistema S teria efeitos devastadores sobre instituições que funcionam e prestam serviços essenciais para jovens e trabalhadores brasileiros. Além de acabar com empregos de educadores, técnicos, especialistas e pesquisadores, se forem feitos, os cortes prejudicarão a educação, pesarão sobre a saúde e afetarão a economia do país como um todo”, explica o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi.
Com 2,3 milhões jovens matriculados, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) é a principal responsável pela formação técnica e profissional de jovens e trabalhadores brasileiros para vários setores da indústria. Os cursos, dos quais 70% são gratuitos, são oferecidas em 541 escolas em todos os estados e no Distrito Federal. Segundo cálculos do SENAI, 162 delas fechariam as portas com os eventuais cortes.
Rafael Lucchesi afirma que os cortes tornarão inviável a oferta dos cursos em todos os estados do país, com consequências mais graves, sobretudo, nas regiões Norte e parte do Nordeste. Na prática, o impacto será sentido por todos. No caso de jovens e trabalhadores, os cortes afetariam a principal rede de preparo e qualificação para o mercado de trabalho, com reflexos na capacidade da população de acompanhar a evolução tecnológica das empresas e até de conseguir o primeiro emprego.
“A formação profissional e a capacitação técnica de qualidade aumentam a empregabilidade do trabalhador e, para o jovem, é um importante diferencial para conquistar o primeiro emprego, numa faixa etária em que o desemprego é ainda mais grave que na média. O SENAI prepara uma parcela importante da população para que tenha uma profissão, e alcança e beneficia jovens e trabalhadores que não teriam as mesmas oportunidades pelo sistema educacional”.
Responsável pelos programas de saúde e segurança do trabalhador na indústria, o Serviço Social da Indústria (SESI) também tem uma rede de escolas de que beneficia 1,2 milhão de jovens com educação básica, principalmente de famílias de trabalhadores da indústria. Além disso, oferece cursos de reforço educacional para adultos com baixa escolaridade, serviço essencial uma vez que muitos dos trabalhadores da indústria não têm a educação básica completa ou capacitação profissional.
O SESI calcula que os cortes levariam ao fechamento de 155 escolas, com perda de quase meio milhão de vagas para jovens no ensino básico e no reforço educacional de adultos com baixa escolaridade. Na prestação de serviços de saúde a trabalhadores, que inclui desde a oferta gratuita de vacinas e exames de mamografia para trabalhadoras, a previsão é de que 1,2 milhão de pessoas ficariam sem o atendimento, tendo de buscar os serviços na rede pública ou custeá-los na rede particular.
“São milhões de exames médicos, consultas, vacinas aplicadas, além de atendimento médico e acompanhamento nutricional oferecidos pelo SESI para os trabalhadores da indústria. Na prática, esse é um trabalho essencial, que tira uma milhares de pessoas da fila assistencial e contribui para reduzir a pressão sobre os serviços da rede pública, que não tem dado conta de atender a população de forma satisfatória”.
Para Lucchesi, o alcance e a qualidade dos serviços prestados à população confirma a importância das entidades na educação e na economia.
Segundo ele, a formação técnica e os serviços de saúde representam um passaporte para a cidadania para os alunos e os trabalhadores brasileiros. Além disso, ele explica que cerca de 80% dos alunos do SENAI são de baixa renda e a formação técnica e profissional oferecida pela entidade capacita os estudantes para o mercado de trabalho, com ganhos em empregabilidade e uma chance de progredir na vida.
Lucchesi lembrou ainda que os serviços prestados pelo SESI e pelo SENAI contam com altas taxas de aprovação entre a população que conhece o seu trabalho. Segundo pesquisa do Ibope, divulgada em dezembro, a excelência na atuação do SENAI é reconhecida por 94% dos entrevistados e a do SESI, por 93% das pessoas ouvidas.