Por Paulo Exel
A revolução digital está transformando as relações de trabalho. Historicamente, a tecnologia sempre transformou as empresas, seja adotando novos processos e modelos de produção, seja automatizando funções operacionais. O que vemos agora é que as mudanças irão chegar às relações de trabalho e, ao que tudo indica, o futuro do trabalho será guiado por projetos.
Apesar de parecer algo novo, o trabalho por projeto é algo usado há bastante tempo no mercado de marketing, publicidade e principalmente tecnologia. Consiste no modelo de trabalho onde a contratação de profissionais é feita por tempo determinado, tendo como referência o projeto que precisa ser desenvolvido, as competências e experiências de cada integrante que irá compor os times e levando em consideração as fases de início, meio e fim. O mercado utiliza muito o termo job para descrever esse tipo de relação.
Mesmo parecendo um cenário distante, é possível que as relações de trabalho migrem para esse modelo que tende a crescer muito nos próximos anos. Isso porque contratar os profissionais de acordo com a demanda, vinculados a projetos é uma excelente forma de gerenciar os recursos (humanos e financeiros), além de proporcionar flexibilidade para manter a equipe sempre atualizada com conhecimento
Do ponto de vista das empresas, contratar por demanda significa manter o recurso sempre ativo, diminuindo o risco de ociosidade nas equipes. Uma vez que o profissional é contratado para entregar determinada solução, ou implantar um projeto específico, é possível estimar uma quantidade de hora que irá empregar e o quanto isso custará. Mesmo que alterações sejam feitas ao logo do tempo, e o projeto atrase por inúmeros fatores, é muito mais fácil mensurar o ROI – Retorno Sobre Investimento – de cada iniciativa. A previsibilidade no orçamento é talvez uma das maiores vantagens para a empresa, já que em uma gestão de projetos é possível planejar os recursos que serão destinados e prever se o investimento valerá a pena.
No entanto, é necessário realizar o contraponto. Ao terminar os projetos, se a empresa não tiver uma boa governança, é possível que a história e o conhecimento gerado ao longo do processo se perca junto com a saída dos profissionais. Os erros e acertos do percurso em cada trabalho são valiosos para a história corporativa, já que essa se constrói ao longo das entregas que realiza. Em um cenário onde a força de trabalho é contratada sobre demanda, as empresas têm um grande desafio: registrar e manter “dentro de casa” o histórico e a memória empresarial.
Na perspectiva dos profissionais, o futuro do trabalho guiado por projetos também tem inúmeras vantagens. Até porque os interesses de carreira devem evoluir no mesmo sentido, principalmente pautados pela flexibilidade, autogerenciamento de tempo e propósito. Os profissionais irão se conectar e desconectar a tarefas que estejam alinhadas aos seus objetivos de vida. Participar ou não de projetos será uma decisão pessoal e, certamente, muito além do dinheiro, fatores como tempo, desafio profissional, networking e portfólio serão condições a serem avaliadas.
Do ponto de vista da carreira, essa mudança será muito interessante para trazer mais autonomia para os profissionais. Veremos grandes mudanças, inclusive para as áreas de recrutamento, já que o currículo não estará mais baseado em empresas onde cada um trabalhou, mas que tipo de projetos cada candidato participou, os resultados que foram entregues e como o profissional apresenta o próprio portfólio de experiências. A trajetória profissional vai aproximar as pessoas ao empreendedorismo, já que cada um terá que gerenciar seu próprio negócio, incluindo desde alimentar um pipeline de clientes, gestão financeira, entregas, metas e resultados.
É claro que entre as desvantagens está nossa cultura de relação trabalhista e de construção de carreira que, mesmo com todas as mudanças propostas pela revolução digital, ainda é muito baseada em crescimento hierárquico e no pensamento cartesiano de ficar anos dentro da mesma empresa. Vencer essa barreira cultural é algo que precisa ser conquistado tanto por parte das empresas quanto por parte dos profissionais.
Certamente o futuro do trabalho reserva grandes mudanças para as relações entre empresas e profissionais. Estar pronto para essas transformações separa os profissionais que irão se adaptar e colher as vantagens dessa mudança de mindset do que os que irão apenas lamentar a falta de oportunidades.
Paulo Exel é diretor de operação da Yoctoo, formado em Administração de Empresas, possui MBA executivo em Gestão de Negócios e tem certificação em coaching. Exel tem mais de 10 anos de experiência no recrutamento especializado nas áreas de Tecnologia, Digital e Vendas.