DANIELA BATISTA, com edição EDMÉA UBIRAJARA
O reisado é uma das manifestações culturais mais fortes em Garanhuns e parte dessa tradição se deve a um homem: Luiz Gonzaga de Lima, Gonzaga de Garanhuns. Este senhor faz jus ao nome de artista que possui desde o berço e atualmente está à frente de cinco grupos de reisado, dentre os sete que existem em Garanhuns. Nascido na zona rural, em um território que já foi do município de Garanhuns e hoje pertence a São João, foi nos passos ritmados do Reisado que seu Gonzaga construiu a sua história. Com o histórico de dedicação à cultura popular Seu Gonzaga participa do XII Concurso do Patrimônio Vivo de Pernambuco, realizado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – Fundarpe. O artista segue sendo apoiado pela Secretaria de Turismo e Cultura de Garanhuns, sempre participando das programações culturais do município.
Hoje com 73 anos, Seu Gonzaga teve contato com o reisado pela primeira vez quando ainda morava com seu avô, em um sítio, na época, zona rural de Garanhuns. O garoto de 13 anos de idade se apaixonou pela expressão cultural, mas o avô não permitia que participasse, por ser ainda muito novo. “Me deu aquele impulso de participar de reisado. Como eu era muito garoto ainda, morava com meu avô, não tive condições. Mas nesse mesmo ano, meu avô faleceu, então eu fui morar com meu pai, daí eu fui incentivado e comecei a falar com meus coleguinhas, os meninos da minha rua. Então a gente fez o reisado”, conta.
Mais tarde, Gonzaga foi ensinado oficialmente por Manoel Clarindo da Rocha, a quem ele chama de “primeiro mestre”. Os dois participavam do Reisado do Mestre Cândido, e Manoel percebeu o interesse do adolescente pelo folguedo popular. Porém o mestre foi morar em São Paulo e Gonzaga veio para a cidade de Garanhuns, aqui trabalhou com padres redentoristas e posteriormente no comércio, durante mais de 50 anos. Em 1977, foi formado o Reisado do Mestre João Gomes, em Garanhuns, e Seu Gonzaga foi convidado para ser o personagem Mateus.
Ao mesmo tempo que Gonzaga trabalhava no comércio e participava de reisados, ele também conciliava seu tempo com a produção de literatura de cordel. Em 1973, escreveu o seu primeiro trabalho, “Lampião e Serrinha”. Atualmente Gonzaga de Garanhuns possui mais de 350 títulos autorais, quejá ultrapassaram fronteiros e já estão expostos em outros países, como nos Estados Unidos, França e Japão.
Seu Gonzaga já participou de festivais regionais e de produções de LPs. Entre os cinco reisados que hoje ele faz parte, dois deles são formados por idosos, um por adolescentes e outro infantil. Eles ensaiam semanalmente no Centro de Referência em Assistência Social (Cras) do bairro Heliópolis.
Gonzaga de Garanhuns está habilitado e segue para avaliação da Comissão Especial de Análise do Patrimônio Vivo de Pernambuco, juntamente com as outras candidaturas habilitadas. A luta para ser reconhecido no Concurso já é antiga, mas o mestre garante que força para lutar, não lhe falta. “Eu já estou com 73 anos, se não fosse o reisado na minha vida, eu acho que eu já estaria morto. Eu faço isso para defender a minha cultura, a minha cidade e a todo mundo”, finaliza o artista.