Diálogos interceptados pela Operação Carne Fraca mostram a ligação de parlamentares do PMDB com o ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná Daniel Gonçalves Filho, apontado pela Polícia Federal como líder do esquema criminoso, e com fiscais de outros Estados. As interceptações foram obtidas e divulgadas pelo jornal O Estado de S. Paulo. Segundo revelou o jornal, os resultados dos grampos foram enviados em novembro do ano passado pela Procuradoria da República no Paraná ao procurador-geral da República Rodrigo Janot.
Em abril de 2016, a chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Maria do Rocio, é informada pelo veterinário da Seara Flavio Cassou que Daniel Gonçalves havia sido exonerado por 90 dias, após um procedimento administrativo disciplinar do Ministério. Maria do Rocio afirma que o deputado Sérgio Souza (PMDB-PR) “falou que ia segurar, segurar, segurar. Não conseguiu, então”. Ao que Flavio comenta: “Eu tenho a impressão que a pressão é tirar do PMDB os cargos, por que saiu o de Tocantins, saiu Minas, saiu Goiás, saiu o de São Paulo. Saiu Paraná”. Na época, a Câmara dos Deputados estava perto de votar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), que foi aprovado no dia 17 de abril daquele ano.
Em conversa ocorrida em 12 de abril, Gil Bueno de Magalhães conversa com o assessor do deputado João Arruda (PMDB-PR), Heuler Martins, sobre a exoneração de Daniel. O assessor do deputado relata que está até “comemorando” a saída de Daniel, sem explicar o motivo. Gil, por sua vez, demonstra preocupação com a possibilidade de o sucessor do fiscal ser um “xiita”, expressão usada para fiscais que não entravam no esquema. Gil comenta: “Agora tinha que ver com o Arruda quem que eles vão colocar no lugar dele ali para não vir gente traíra aí, viu?” Para a Polícia Federal, o contexto da conversá é “ao que tudo indica, político, não criminoso”, aponta o delegado William Marinho.
Em outra conversa, do dia 11 de abril, Gil afirmar a um interlocutor que representa a Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, em Castro (PR), que o deputado Sérgio Souza “recebeu muito dinheiro do suspenso”, em referência a Daniel Gonçalves.
Em coletiva após a deflagração da operação, o delegado federal Maurício Moscardi Grillo, que conduz a investigação, afirmou que há suspeitas de que as propinas pagas no esquema teriam abastecido o PMDB e o PP. “Dentro da investigação ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era, sim, revertido para partido político. Caracteristicamente, já foi falado ao longo da investigação dois partidos que ficavam claro: o PP e o PMDB”, afirmou.
À reportagem de O Estado de S. Paulo, a assessoria do PMDB respondeu: “O PMDB não autoriza ninguém a falar em nome do partido e está à disposição da justiça para qualquer esclarecimento”.