Ainda não se sabe como, mas o Congresso promete reagir às provocações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro nesse domingo (15). Contrariando os protocolos médicos e políticos, Bolsonaro interagiu por mais de uma hora com manifestantes em frente ao Palácio do Planalto. Atrás dele, cartazes pedindo fechamento do Congresso e “fora, Maia”.
O presidente foi criticado por ter descumprido recomendações do próprio Ministério da Saúde, para evitar aglomerações e se manter longe de pessoas por ter tido contato em sua viagem aos EUA com assessores infectados pelo coronavírus. E por ter jogado mais água quente na fervura política.
Em entrevista à CNN Brasil à noite, Bolsonaro desafiou os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a saírem às ruas com ele para ver como seriam recebidos. Disse estar disposto a se reunir com os dois, até mesmo hoje, para tratar de assuntos políticos e acabar com “picuinhas”.
Em vez de sinal de trégua, o gesto é visto como mais uma provocação de Bolsonaro aos presidentes da Câmara e do Senado. Maia e Davi haviam criticado o presidente por ter contrariado as recomendações de seu próprio governo para evitar a propagação da doença, por ter apoiado manifestação contrária à democracia e por não ter dado até o momento respostas concretas à crise do coronavírus.
A pauta do Congresso ainda está incerta por causa das medidas de prevenção ao novo coronavírus. A Câmara e o Senado restringiram os trabalhos nesta semana, dispensando de presença, inclusive, deputados maiores de 60 anos e senadores com mais de 65. Audiências públicas estão suspensas no Senado. Isso pode ter efeito sobre o calendário de votações.
Vários parlamentares que tiveram contato com infectados semana passada aguardam resultado de teste. Não está totalmente descartada a possibilidade de um recesso caso sejam confirmados novos casos de infecção envolvendo congressistas e servidores. Mesmo que isso não ocorra, as restrições de financiamento das duas Casas devem impactar o ritmo e o conteúdo da agenda.
O ambiente é hostil para a construção de consensos entre os dois poderes. O clima ficou mais adverso para a reforma administrativa, que nem foi enviada pelo governo, e incerto para a reforma tributária, que continua a ser discutida em comissão mista sem, até o momento, sugestões do Executivo.
Cobrado pelo Congresso, o Ministério da Economia promete para o início desta semana, possivelmente ainda hoje, o anúncio de medidas econômicas para conter os efeitos da crise agravada pelo alastramento do coronavírus.
Em entrevista à Folha de S.Paulo nesta segunda, o ministro Paulo Guedes fez mea culpa, mas não deixou de dividir com o Congresso a responsabilidade pelo atraso nas reformas. “Não estou reagindo ao Maia. Estou estendendo a mão a ele. E faço aqui o mea culpa. Reforma administrativa: nós demoramos. Reforma tributária: estou me explicando. Vocês derrubaram um pilar da minha reforma, o imposto sobre transações, a ponto de cair um secretário meu.”
A agenda do dia do ministro não havia sido divulgada até o início desta manhã. Bolsonaro promete criar um gabinete contra crise ainda nesta segunda-feira