A defesa dos irmãos Joesley e Wesley Batista e outros diretores do grupo J&F deve entregar, em setembro, cerca de 20 novos documentos à Procuradoria-Geral da República (PGR) para que sejam incluídos no acordo de colaboração premiada dos executivos. A delação dos donos da JBS foi homologada em 11 de maio deste ano pelo Supremo Tribunal Federal (STF). As informações são do jornal Folha de S.Paulo. A JBS está fazendo um pente-fino em seus departamentos para colher histórias e provas de pagamentos ilegais a funcionários.
Os anexos a serem juntados aos 44 anteriores são detalhamentos dos relatos de corrupção feitos pelos executivos das empresas separados em 14 temas. Em cada um deles, há vários investigados. Apenas Joesley Batista está responsável por metade dos documentos. Entre outras coisas, ele deve esmiuçar o caminho da propina que diz ter pago a cada um dos 1.829 políticos de 28 partidos, cujos nomes aparecem na lista da JBS recebendo mais de R$ 600 milhões de forma ilícita.
Pelo menos um novo nome deve ser incluído: um prefeito que teria recebido dinheiro ilegal. O empresário vai relatar o motivo das doações ilegais, como elas teriam sido pagas e as contrapartidas em relação a esses pagamentos. Já o irmão mais velho de Joesley, Wesley, pretende fazer um relato sobre o suposto suborno de pelo menos 200 funcionários do Ministério da Agricultura que fiscalizavam as empresas do grupo. De acordo com eles, a cúpula da pasta havia sido alertada sobre os esquemas, mas nada teria sido feito a respeito.
O diretor de relações institucionais da J&F, Ricardo Saud, e o diretor jurídico do grupo, Francisco de Assis preparam, cada um, quatro anexos. Casos envolvendo o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, o empresário Victor Sandri, que fazia a intermediação da empresa com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, e sobre a empresa offshore Blessed, que fica na Suíça, devem ser incluídos, inclusive para se anteciparem às possíveis delações de Cunha e Funaro.
A delação
Os empresários Joesley Batista e Wesley Batista, irmãos donos da JBS e delatores da Operação Lava Jato, entregaram ao ministro Edson Fachin, do STF, gravação de diálogo no Palácio do Jaburu, no dia 7 de março, em que o presidente Michel Temer os incentiva a pagar mesada para comprar o silêncio do ex-deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Na presença de Joesley, Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS). Em seguida, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados pelo empresário goiano.
A defesa de Temer defendia que a gravação havia sido adulterada “com objetivos nitidamente subterrâneos” e contratou um perito para fazer a análise do material. No dia 22 de maio, Ricardo Molina desqualificou a gravação, que chamou de “imprestável.” O laudo encomendado pela Polícia Federal (PF) ao Instituto Nacional de Criminalística (INC) concluiu que não houve edições no áudio entregue pelo empresário. A gravação veio à tona no dia 17 de maio. No relatório, a PF afirmou que as evidências indicavam “com vigor” que Temer e Rodrigo Rocha Loures cometeram crime de corrupção passiva. Loures atualmente está preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília.
O áudio foi entregue à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo. Desde então, Temer, que já havia sido citado por outros delatores em fatos anteriores ao mandato, passou à condição de formalmente investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, associação criminosa e obstrução de Justiça. De acordo com a Constituição Federal, o Presidente da República só pode ser investigado por atos que sejam correlatos ao seu mandato.
O acordo de delação premiada do grupo J&F, feito pelos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, e outros cinco delatores, prevê imunidade total aos irmãos. Eles não vão responder criminalmente pelo esquema de propinas que revelaram a procuradores da República e terão dez anos para pagar uma multa de R$ 225 milhões, termos que têm sido classificados como muito benéficos em comparação aos que foram acordados com outros delatores da Operação Lava Jato.
No caso dos donos da JBS, a delação de um esquema de propina que envolvia pagamentos a mais de 1,8 mil políticos em todo o país, incluindo ainda gravação de conversa com o presidente da República, Michel Temer, e o senador Aécio Neves (PSDB), foi considerada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, relevante o suficiente para conceder o perdão judicial aos irmãos, a promessa de não oferecimento de denúncias relativas aos crimes revelados e ainda proteção policial caso precisassem.
A holding criada pelos irmãos Batista teve uma receita líquida de R$ 174 bilhões em 2015, tem 265 mil funcionários e está presente em 30 países, além de exportar para mais de 150 países. O grupo se tornou a maior empresa de carnes do mundo, expandindo atuação para outras áreas, como energia, calçados, setor financeiro e celulose.