Julgamento do Ponto Final deve interferir nas eleições

Wagner Gil

O julgamento da Operação Ponto Final I deve interferir de forma significativa nas eleições deste ano, já que dez vereadores estão sendo processados com a acusação de cobrar propina para aprovar o projeto do BRT (Bus Rapid Transit), que foi enviado para Câmara de Vereadores em dezembro de 2013. Na época, a matéria chegou a ir ao plenário, foi aprovada, mas, no dia seguinte, a Polícia Civil deflagrou a ação, que resultou na prisão e afastamento dos edis.

Quatro eram integrantes da base do prefeito José Queiroz (PDT) e alguns deles votaram a favor do projeto. São eles: Val das Renderias, Pastor Jadiel (ambos na época no Pros e hoje no PSC), Cecílio Pedro (PTB e hoje no PMDB) e Sivaldo Oliveira (PP). Os outros acusados são Val de Cachoeira Seca (Democratas e hoje no PMDB), Neto (PMDB), Louro do Juá (PMDB), Eduardo Cantarelli (PMDB), Evandro Silva (PMDB) e Jaílson Soares – Jajá (PSC).

Menos de 60 dias depois, a polícia deflagrou a Ponto Final II e, nessa, cinco vereadores dos dez que caíram na primeira também foram acusados de corrupção ativa e passiva, na tentativa de criar a CPI da CGU. Esse processo já foi julgado em primeira instância, condenando todos os acusados e mantendo-os afastados da vereança, embora a decisão de primeiro grau tenha recurso impetrado em instância superior.

Devido à condenação que sofreu na Operação Ponto Final I, o Pastor Jadiel deve não disputar as eleições deste ano. “Ele vai indicar o filho, Jadiel Junior, para concorrer a uma vaga na Câmara de Vereadores”, informou o analista político Davi Cardoso, que faz parte da coligação de partidos que vai disputar as eleições proporcionais.

Comenta-se ainda nos bastidores da política que, caso outros dois edis sejam condenados, eles indicariam filhos ou parentes próximos. Um deles falou com nossa equipe, mas pediu para não revelar o nome. “Sou inocente. Nunca pedi nada a ninguém para aprovar projetos vindos da prefeitura. Minha consciência está tranquila, mas… a Justiça às vezes é injusta”, disse o edil, admitindo a possibilidade de também indicar um filho na disputa.

Outro vereador, que também pediu para não revelar o nome, pode até indicar a esposa no pleito deste ano. “Espero que a Justiça seja feita no julgamento desse processo, mas, caso nossa expectativa não seja atendida, vou estudar outras possibilidades”, afirmou.

Já alguns edis que estão sendo acusados acreditam fielmente na absolvição, entre eles Cecílio Pedro e Sivaldo Oliveira. Sivaldo disse que a Polícia Civil equivocou-se ao acusá-lo e lembrou que, no relatório da polícia, ele teria votado contra o projeto do BRT. “Votei a favor e a polícia me incluiu como se tivesse votado contra. Espero que a Justiça repare esse grave erro”, disse o edil.

Cecílio lembrou que durante seu depoimento, o prefeito o inocentou. “Nos seus depoimentos, tanto o prefeito José Queiroz quanto o secretário Marco Casé foram categóricos ao afirmar que nunca pedi nada em troca para aprovar os projetos que chegavam na Câmara. Nunca procurei ninguém para pedir nada”, disse Cecílio.
ENTENDA

A Operação Ponto Final I foi deflagrada em 18 de dezembro de 2013, um dia depois da Câmara aprovar o projeto do BRT, na época orçado em R$ 250 milhões. Para conseguir liberar um empréstimo junto ao Banco do Brasil, a PMC necessitava de autorização da Câmara de Vereadores. Segundo as investigações, um grupo teria exigido suborno em torno de R$ 2 milhões para aprovar a matéria. Na ocasião foram utilizadas escutas ambientais, além de interceptações telefônicas.

Já a Ponto Final II é um embrião da Ponto Final I. Nela, cinco dos dez acusados na primeira foram condenados pelos crimes de corrupção passiva e ativa, além de organização criminosa. O MP afirmou que Val das Rendeiras e o Pastor Jadiel teriam recebido dinheiro para aprovar a CPI, e Neto, Val de Cachoeira Seca e Evandro Silva seriam os corruptores. Ela chegou a ser instalada, mas não prosperou porque a operação foi deflagrada e os vereadores afastados. De acordo com a denúncia, até dinheiro teria sido encontrado na casa de um dos acusados de receber o suborno.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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