O ex-presidente Lula garantiu nesta quinta-feira (5), em rede nacional, não ter preocupação com investigações como a Operação Lava Jato, que descobriu esquema de corrupção na Petrobras, e a Operação Zelotes, que apura a venda de sentenças sobre multas aplicadas pela Receita Federal. Em entrevista ao Jornal do SBT, o cacique petista falou por cerca de meia hora e, além das ações da Polícia Federal, que já avançam sobre seus familiares, comentou a situação político-econômica, fez rápida menção aos equívocos do governo Dilma Rousseff e lançou críticas ao antecessor no Planalto, o tucano Fernando Henrique Cardoso.A fala de Lula sobre as operações da PF foi registrada quando o jornalista Kennedy Alencar, que conduziu a entrevista, quis saber se Lula se considera alvo de perseguição. O ex-presidente então negou que aja como “vítima” da situação e aproveitou para negar ter feito qualquer tipo de interferência nas investigações.
“Não temo. Eu não temo ser preso porque eu duvido que tenha alguém neste país, do pior inimigo meu ao melhor amigo meu, qualquer empresário, pequeno ou grande, que diga que um dia teve uma conversa ilícita comigo. Duvido. Então, eu tenho a minha consciência tranquila. Eu acho que é um problema político”, comentou o petista, em conversa gravada na manhã desta quinta-feira, em São Paulo.
Lula não se esquivou das perguntas de Kennedy a respeito do avanço de investigações sobre um de seus ministros – o então secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho – e de seu próprio filho, o caçula Luis Claudio Lula da Silva. O entrevistador quis saber se Lula, na possibilidade de ser atingido “direta ou indiretamente”, considera haver em curso uma ofensiva de natureza política sobre si mesmo e sua família.
Eu acho que essas coisas são coisas normais de um país democrático. E, para ser honesto e para explicar para o nosso telespectador, é um ato normal, resultado de 12 anos de governo que permitiu que fossem criados todos os instrumentos de transparência neste país. E de modernização de todo o sistema de investigação neste país”, declarou o petista, aproveitando para alfinetar o antecessor. “Isso não é coisa de uma república qualquer – 15 anos atrás, não acontecia isso. Isso é uma coisa nova. Uma coisa que, daqui a alguns anos, a história vai mostrar”, acrescentou.
A “soberba” de FHC
No final da entrevista, Lula se defendeu das acusações de corrupção na era petista e fez rápida menção a episódios que, em sua opinião, mostram que a gestão Fernando Henrique Cardoso foi conivente com os desmandos na administração pública. O jornalista lembrou ao petista que o tucano, em uma entrevista também veiculada no Jornal do SBT, disse que o sucessor “é um político encantado pelas delícias do poder”.
Saindo da defensiva, Lula disse que o mensalão foi criado pelo próprio PSDB, durante o primeiro mandato de FHC, para comprar a aprovação da proposta que repôs na Constituição a possibilidade de reeleição para presidente da República. Segundo denúncia arquivada pelo então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, na época da reeleição de FHC, em 1998, a alteração constitucional foi viabilizada com pagamentos a parlamentares, nos mesmos moldes do mensalão do PT, escândalo que veio à tona em 2005.
“Ele tem que lembrar que o único mensalão criado, reconhecido inclusive por deputados do DEM, que disseram que receberam, foi ele. Ele tem que lembrar que nenhum processo dele era investigado. Cadê a pasta cor de rosa, que não foi investigada? O MP [procurador-geral] dele se chamava engavetador [geral da República, na irônica alusão ao cargo]”, fustigou petista, alimentando a mística de que o antecessor o inveja pelos êxitos de gestão e do prestígio que Lula teria alcançado em nível internacional.
“Eu deveria ter apreço pelo FHC, porque sempre tive uma boa convivência com ele. Mas eu acho que o FHC tem um problema comigo, um problema de soberba. O FHC sofre com o meu sucesso. Eu acho que ele queria que eu ganhasse, não que o [senador tucano José] Serra ganhasse. Porque ele imaginava o seguinte: ‘o Lula vai ganhar, ele é um coitadinho metalúrgico, vai chegar aqui e não vai saber nada. Não vai dar certo. Quando chegar em 2006, eu voltarei de braços abertos para os braços do povo’. Ele devia pensar: ‘o Lula não fala inglês, o Lula não vai saber conversar com as pessoas’. O que aconteceu é que o meu governo se transformou numa coisa admirada por todo mundo”, provocou.