Cobiçada pelos políticos por causa de seus superpoderes, a Casa Civil virou sinônimo de problema político e criminal neste início de século. Todos os nove titulares que a comandaram desde 2003 enfrentam complicações na Justiça. Um roteiro que se repete desde a queda de José Dirceu (PT), em 2005, no auge das revelações do mensalão.
Quem não caiu por denúncias no período em que chefiou a casa, a exemplo da ex-presidente Dilma Rousseff, enrolou-se depois. Os ex-ministros sofrem com processos, condenações e até prisões. É a “maldição” da Casa Civil, que persegue Dirceu, Dilma, Erenice Guerra, Antonio Palocci, Gleisi Hoffmann, Aloizio Mercadante, Jaques Wagner, Lula e, agora, Eliseu Padilha. Em comum entre eles, os fantasmas da Lava Jato.
Com denúncias que reforçam delação premiada de executivo da Odebrecht contra ele e o presidente Michel Temer, o atual titular já balança no cargo. Denúncias também forçaram a saída pela porta dos fundos de Dirceu, Palocci e Erenice. Na relação dos homens mais poderosos da República até recentemente, os dois primeiros amargam dias duros e incertos na prisão. Dirceu está condenado a 20 anos de reclusão. Mesmo tendo conquistado a Presidência após passar pela Casa Civil, Dilma sentiu os efeitos cinco anos depois, com o impeachment e denúncias relativas à sua passagem pelo cargo, combinada com o comando do conselho administrativo da Petrobras.
Só a posse
Lula nem sequer chegou a assumir de fato. Assinou termo de posse e foi barrado no dia seguinte pelo Supremo Tribunal Federal, que o acusou de manobrar para escapar do juiz Sérgio Moro na Lava Jato. Hoje é réu em cinco processos. Gleisi, atual líder do PT no Senado, também virou ré no Supremo. Mercadante e Wagner são alvos de inquérito da operação. Padilha se encaminha para ser mais um chefe da Casa Civil na relação dos investigados por suspeitas de envolvimento com o esquema da Petrobras.
Ex-ministro dos Transportes, de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e da Aviação Civil, de Dilma, Padilha foi um dos líderes do movimento que retirou a petista do Palácio do Planalto. O gaúcho foi um dos primeiros peemedebistas a entregar o cargo e a cerrar fila na oposição para levar Temer do Palácio do Jaburu ao Planalto. Licenciado informalmente da Casa Civil para retirar a próstata neste fim de semana, Padilha pode nem voltar mais ao gabinete. Desde que lá chegou, deu baixa no hospital algumas vezes, com dores e problemas de pressão arterial. Dessa vez, porém, a pressão vem da Lava Jato, com tanta força que ameaça até derrubar seu chefe.